
Hoje, os reservatórios cearenses têm a capacidade de armazenar até 20 bilhões de metros cúbicos de água, somando os açudes construidos pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e pelo Estado. Com recursos do governo federal, foram construídas barragens monumentais: o Orós, inaugurado pelo presidente Juscelino Kubitschek (1961); e o Castanhão, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (2003).
Desolador
Com chuvas escassas há quase quatro anos, os açudes secos passam uma imagem desoladora. O Castanhão, com capacidade para armazenar 6,7 bilhões de metros cúbicos de água, está atualmente com 1,2 bilhão de metros cúbicos.
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) apresenta um percentual de 19,1% de reservas de água, dentre todos os açudes monitorados pelo Estado. Isso equivale a um total de 3,58 milhões de metros cúbicos de água, de um total de 18 milhões.
Com a falta d' água nos açudes, o pouco que ainda não foi consumido ou evaporado tem outros mecanismos, tanto para chegar à zona rural quanto aos perímetros urbanos. Afinal, também avançou em ações de construção de canais e adutoras e desponta para o futuro a interligação de bacias com a transposição de águas do Rio São Francisco. Contudo, se o Ceará é onde mais se fez obra hídrica, também é, de longe, como na opinião do especialista no assunto, engenheiro Hypérides Macedo, quem mais precisa. Afinal, quase 90% do Estado, incluindo a Capital, estão inseridos na região do Semiárido brasileiro.
Atenuando
O drama da seca, que ano após ano tem-se atenuado, como verifica a maior autoridade em combate ao fenômeno em todo o País, o Dnocs, também é uma consequência dos investimentos em políticas sociais, especialmente o programa Bolsa Família, e maior atuação na perfuração de poços profundos e construção de cisternas.
O diretor-geral do órgão, Walter Gomes de Sousa, lembra que, embora seja essa a mais grave seca dos últimos 50 anos, não houve repetição de fatos comuns ao passado de anos seguidos de estiagem, como saque às cidades, aumento da mendicância e agravamento dos vazios demográficos, em decorrência do êxodo rural.
Poucos são, também, os que refutam o fato de que o Ceará possui um sistema fluvial afeito ao programa de açudes. Ou seja, "além de grande beneficiário das obras do Dnocs, o Estado construiu uma rede de açudes públicos planejadamente distribuídos nas microrregiões do seu território", como afirma o engenheiro Hypérides Macedo, ex-secretário de Recursos Hídricos do Estado e ex-deputado federal.
A Cogerh, ressalta o assessor da presidência, Gianni Lima, tem sido fundamental nas ações já realizadas para a convivência com a seca e propostas pelo governador Camilo Santana. A Companhia, no âmbito do Comitê Integrado de Convivência com a Seca (CICS), foi responsável pela execução das Adutoras de Montagem Rápida (AMRs) que evitaram o desabastecimento hídrico de sedes municipais.
Atuou, ainda, apoiando o Programa de Perfuração de Poços, por meio de estudos de priorização de localidades a serem beneficiadas e nos estudos para locação de poços. Além disto, o trabalho contínuo da Companhia, como gestora do processo de alocação de água junto aos Comitês de Bacia, tem sido fundamental para conscientização do uso sustentável da água", afirmou Gianni Lima.
A problemática da seca é vista em duas vertentes: a primeira é de que não chover é um problema muito maior do que o governo do Estado e o Dnocs. A segunda é que, sem recursos financeiros, ou com atraso na consecução de obras estratégicas, o quadro de estabilidade percebido até o momento deverá se exaurir em até dois meses, em pelo menos 30 municípios, segundo a Associação dos Prefeitos e dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece).
Neste segundo caderno especial sobre água no Ceará, tratamos da rede de açudes, gerenciamento e transposição de bacias, que têm garantido certa segurança ao Estado em tempos de estiagem. A série, que começou ontem, Dia de São José, segue até domingo. Dia Mundial da Água.
Marcus Peixoto
Repórter
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