sexta-feira, 20 de março de 2015

O Ceará, dentre os estados da região, é o detentor da maior infraestrutura hídrica

Fortaleza. No contexto hídrico do Estado do Ceará, destaca-se a política de açudagem que foi implantada há mais de um século e tem como ícone o Açude do Cedro, construído no período do segundo império brasileiro. Como se fosse uma antiga "tábua de pirulito", onde um retângulo de madeira era pontilhado de pequenos buracos para fincar os doces à venda, o Ceará foi perfurado por açudes por todas as regiões.
Hoje, os reservatórios cearenses têm a capacidade de armazenar até 20 bilhões de metros cúbicos de água, somando os açudes construidos pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e pelo Estado. Com recursos do governo federal, foram construídas barragens monumentais: o Orós, inaugurado pelo presidente Juscelino Kubitschek (1961); e o Castanhão, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (2003).

Desolador
Com chuvas escassas há quase quatro anos, os açudes secos passam uma imagem desoladora. O Castanhão, com capacidade para armazenar 6,7 bilhões de metros cúbicos de água, está atualmente com 1,2 bilhão de metros cúbicos.
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) apresenta um percentual de 19,1% de reservas de água, dentre todos os açudes monitorados pelo Estado. Isso equivale a um total de 3,58 milhões de metros cúbicos de água, de um total de 18 milhões.
Com a falta d' água nos açudes, o pouco que ainda não foi consumido ou evaporado tem outros mecanismos, tanto para chegar à zona rural quanto aos perímetros urbanos. Afinal, também avançou em ações de construção de canais e adutoras e desponta para o futuro a interligação de bacias com a transposição de águas do Rio São Francisco. Contudo, se o Ceará é onde mais se fez obra hídrica, também é, de longe, como na opinião do especialista no assunto, engenheiro Hypérides Macedo, quem mais precisa. Afinal, quase 90% do Estado, incluindo a Capital, estão inseridos na região do Semiárido brasileiro.
Atenuando
O drama da seca, que ano após ano tem-se atenuado, como verifica a maior autoridade em combate ao fenômeno em todo o País, o Dnocs, também é uma consequência dos investimentos em políticas sociais, especialmente o programa Bolsa Família, e maior atuação na perfuração de poços profundos e construção de cisternas.
O diretor-geral do órgão, Walter Gomes de Sousa, lembra que, embora seja essa a mais grave seca dos últimos 50 anos, não houve repetição de fatos comuns ao passado de anos seguidos de estiagem, como saque às cidades, aumento da mendicância e agravamento dos vazios demográficos, em decorrência do êxodo rural.
Poucos são, também, os que refutam o fato de que o Ceará possui um sistema fluvial afeito ao programa de açudes. Ou seja, "além de grande beneficiário das obras do Dnocs, o Estado construiu uma rede de açudes públicos planejadamente distribuídos nas microrregiões do seu território", como afirma o engenheiro Hypérides Macedo, ex-secretário de Recursos Hídricos do Estado e ex-deputado federal.
A Cogerh, ressalta o assessor da presidência, Gianni Lima, tem sido fundamental nas ações já realizadas para a convivência com a seca e propostas pelo governador Camilo Santana. A Companhia, no âmbito do Comitê Integrado de Convivência com a Seca (CICS), foi responsável pela execução das Adutoras de Montagem Rápida (AMRs) que evitaram o desabastecimento hídrico de sedes municipais.
Atuou, ainda, apoiando o Programa de Perfuração de Poços, por meio de estudos de priorização de localidades a serem beneficiadas e nos estudos para locação de poços. Além disto, o trabalho contínuo da Companhia, como gestora do processo de alocação de água junto aos Comitês de Bacia, tem sido fundamental para conscientização do uso sustentável da água", afirmou Gianni Lima.
A problemática da seca é vista em duas vertentes: a primeira é de que não chover é um problema muito maior do que o governo do Estado e o Dnocs. A segunda é que, sem recursos financeiros, ou com atraso na consecução de obras estratégicas, o quadro de estabilidade percebido até o momento deverá se exaurir em até dois meses, em pelo menos 30 municípios, segundo a Associação dos Prefeitos e dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece).
Neste segundo caderno especial sobre água no Ceará, tratamos da rede de açudes, gerenciamento e transposição de bacias, que têm garantido certa segurança ao Estado em tempos de estiagem. A série, que começou ontem, Dia de São José, segue até domingo. Dia Mundial da Água.
Marcus Peixoto
Repórter

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