O processo de identificação das localidades é mapeado pelos agentes de saúde. Cada poço deve sair em torno de R$ 10 mil
Foto: Antonio Carlos Alves
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Itatira O prefeito desta Cidade, distante 216
quilômetros de Fortaleza, Antônio Almir, está dando um exemplo de
respeito aos recursos públicos e de solidariedade em defesa das famílias
atingidas pela maior seca dos últimos 60 anos no Nordeste.
O dinheiro que seria utilizado na folia do Carnaval foi retido e está
sendo aplicado na perfuração e instalação de poços profundos e na
distribuição de cestas de alimentos na zona rural do Município. "Nosso
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos piores do Estado e não
seria justo fazer festa enquanto nossos conterrâneos passam
dificuldades. O IDH é o 0,319, o 177º do Ceará e o 3.123º do Brasil, uma
situação de pobreza sem limites", explica Antônio Almir.
"Vamos começar as primeiras entregas em fevereiro, onde mais de 600
famílias serão beneficiadas e, em março, mais 400 famílias, garantindo
água para todos que vivem essa situação de incerteza quanto ao inverno
de 2015", assegura.
O processo de identificação das localidades é mapeado pelos agentes de
saúde. Ele não sabe precisar quanto irá gastar no projeto, mas calcula
que cada poço fique em torno de R$ 10 mil. "Nunca tinha visto isso em
lugar nenhum da Federação. Essa é a seca que maltrata o ser humano, os
animais. A água é o grande gargalo nesse momento. O carro-pipa não
atende às necessidades do homem do campo. O número é muito reduzido para
a grande quantidade de necessitados", alerta o prefeito.
Quanto ao problema do abastecimento humano, ele lembra que já enviou
pedido de socorro ao governador Camilo Santana e ao secretário de
Desenvolvimento Agrário Dedé Teixeira, pedindo a instalação de 20
dessalinizadores o quanto antes.
"Será a única maneira de termos água para o consumo das famílias, caso
contrário, não sei o tamanho do prejuízo. Entre as famílias que precisam
de ajuda, se encontra dona Maria Bento de Mesquita, da Comunidade de
São José dos Guerras, que não sabe o que significa Carnaval.
Residente no local há mais de 10 anos, sobrevive da agricultura de
subsistência e do inverno, mas, como a situação é crítica há quatro
anos, o Bolsa Família é a salvação. O fogo não arde na cozinha simples
da casa de taipa de dona Maria há mais de 20 dias, porque não tem o que
cozinhar e, mesmo que tivesse, faltaria o principal, a água potável.
"Estamos enfrentando uma crise sem precedentes. Os recursos estão
caindo mês a mês. Enquanto a ajuda dos governos Federal e Estadual não
chega, o jeito é o Município arcar com os custos de socorro às vítimas
da seca", destaca Antônio Almir.
Corte de cana
Segundo ele, somente em dezembro e janeiro, viajaram para o corte de
cana em São Paulo mais de 700 jovens, que não têm perspectiva de
trabalho na região. "Se não tivermos um inverno este ano, não sei como
iremos administrar o Município. É preciso que se crie um programa
urgente pro meio do Governo Federal, para facilitar o acesso aos
recursos, porque o nosso maior problema nessa época não é a seca e sim a
cerca da burocracia que emperra muitas ajudas".
Antonio Carlos Alves
Colaborador
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