sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Itatira: Dinheiro do Carnaval para poços profundos

O processo de identificação das localidades é mapeado pelos agentes de saúde. Cada poço deve sair em torno de R$ 10 mil
O processo de identificação das localidades é mapeado pelos agentes de saúde. Cada poço deve sair em torno de R$ 10 mil
Foto: Antonio Carlos Alves
Itatira O prefeito desta Cidade, distante 216 quilômetros de Fortaleza, Antônio Almir, está dando um exemplo de respeito aos recursos públicos e de solidariedade em defesa das famílias atingidas pela maior seca dos últimos 60 anos no Nordeste.
O dinheiro que seria utilizado na folia do Carnaval foi retido e está sendo aplicado na perfuração e instalação de poços profundos e na distribuição de cestas de alimentos na zona rural do Município. "Nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um dos piores do Estado e não seria justo fazer festa enquanto nossos conterrâneos passam dificuldades. O IDH é o 0,319, o 177º do Ceará e o 3.123º do Brasil, uma situação de pobreza sem limites", explica Antônio Almir.
"Vamos começar as primeiras entregas em fevereiro, onde mais de 600 famílias serão beneficiadas e, em março, mais 400 famílias, garantindo água para todos que vivem essa situação de incerteza quanto ao inverno de 2015", assegura.
O processo de identificação das localidades é mapeado pelos agentes de saúde. Ele não sabe precisar quanto irá gastar no projeto, mas calcula que cada poço fique em torno de R$ 10 mil. "Nunca tinha visto isso em lugar nenhum da Federação. Essa é a seca que maltrata o ser humano, os animais. A água é o grande gargalo nesse momento. O carro-pipa não atende às necessidades do homem do campo. O número é muito reduzido para a grande quantidade de necessitados", alerta o prefeito.

Quanto ao problema do abastecimento humano, ele lembra que já enviou pedido de socorro ao governador Camilo Santana e ao secretário de Desenvolvimento Agrário Dedé Teixeira, pedindo a instalação de 20 dessalinizadores o quanto antes.
"Será a única maneira de termos água para o consumo das famílias, caso contrário, não sei o tamanho do prejuízo. Entre as famílias que precisam de ajuda, se encontra dona Maria Bento de Mesquita, da Comunidade de São José dos Guerras, que não sabe o que significa Carnaval.
Residente no local há mais de 10 anos, sobrevive da agricultura de subsistência e do inverno, mas, como a situação é crítica há quatro anos, o Bolsa Família é a salvação. O fogo não arde na cozinha simples da casa de taipa de dona Maria há mais de 20 dias, porque não tem o que cozinhar e, mesmo que tivesse, faltaria o principal, a água potável.
"Estamos enfrentando uma crise sem precedentes. Os recursos estão caindo mês a mês. Enquanto a ajuda dos governos Federal e Estadual não chega, o jeito é o Município arcar com os custos de socorro às vítimas da seca", destaca Antônio Almir.
Corte de cana
Segundo ele, somente em dezembro e janeiro, viajaram para o corte de cana em São Paulo mais de 700 jovens, que não têm perspectiva de trabalho na região. "Se não tivermos um inverno este ano, não sei como iremos administrar o Município. É preciso que se crie um programa urgente pro meio do Governo Federal, para facilitar o acesso aos recursos, porque o nosso maior problema nessa época não é a seca e sim a cerca da burocracia que emperra muitas ajudas".
Antonio Carlos Alves
Colaborador

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