O último balanço da Aneel aponta que 1.809 dos 5.564
municípios brasileiros não haviam assumido os ativos, entre eles,
cidades do Ceará
FOTO: KIKO SILVA
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A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estuda a possibilidade de conceder um prazo de adaptação para que as prefeituras
se tornem responsáveis pela iluminação pública municipal, o que inclui
custeio e manutenção de luminárias, lâmpadas, relés e reatores. O
município que não cumprir a determinação pode ser enquadrado na Lei de Improbidade Administrativa.
O prazo para que os prefeitos assumissem os ativos de
iluminação pública, que atualmente estão sob gestão das distribuidoras
de energia, expirou no dia 31 de dezembro. A possível
concessão de um prazo de adaptação tem em vista o fato de muitos
municípios enfrentarem dificuldades na transferência.
O último balanço da Aneel, divulgado no início de dezembro, aponta que 1.809 dos 5.564 municípios brasileiros não haviam assumido os ativos. O número representa 32,51% do total de cidades, e estão localizadas sobretudo nos estados do Amapá, Roraima, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
A pedido da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o prazo chegou a ser prorrogado três vezes,
pois as prefeituras alegaram dificuldades para cumprir a determinação e
se responsabilizar pela implantação, expansão, instalações e manutenção
da rede de energia, bem como por serviços que vinham sendo
desempenhados pelas concessionárias, como o atendimento telefônico dos
clientes, a manutenção preventiva e a fiscalização dos serviços.
Segundo o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, a entidade continua
buscando a prorrogação do prazo. “Estamos construindo politicamente esse
adiamento”, afirmou à Agência Brasil.
Ziulkoski argumenta que, com a mudança, os municípios “terão mais um
encargo que vão ter que repassar para o consumidor”. Com isso, “a
prefeitura vai tirar dinheiro de outras áreas prioritárias - como saúde,
educação e segurança - para fazer isso e favorecer as empresas, que já
têm lucros enormes”, avalia.
Para custear o serviço, as administrações municipais poderão instituir a
Contribuição de Iluminação Pública (CIP), que, por sua vez, pode ser
arrecadada por meio da fatura de energia elétrica. Outra opção que tem
sido apontada pelas administrações é arrecadar recursos pelo Imposto
Predial e Territorial Urbano (IPTU).
O presidente da CNM também critica a determinação, vista por ele como
inconstitucional. Na opinião dele, a obrigatoriedade teria que ser
objeto de lei, e não de uma resolução da agência reguladora. Seguindo
esse entendimento, ele defende também que não caberia considerar o não
cumprimento da determinação como possível improbidade administrativa.
Em defesa da resolução, a Aneel aponta que a medida busca
atender à Constituição Federal, que determina que a iluminação pública
deve ser de responsabilidade municipal.
No Ceará
As dificuldades não envolvem apenas as prefeituras. De acordo com a determinação da Aneel, as
distribuidoras responsáveis pelo fornecimento de energia elétrica
deveriam ter entregado o sistema de iluminação pública em perfeito
estado de funcionamento. Para tanto, seria necessário ter
verificado e corrigido possíveis falhas, bem como substituído os
equipamentos danificados. Na maior parte dos casos, os reparos seguem em
andamento e as companhias não dominam o número de municípios para os
quais a transferência foi concluída.
Por sua vez, a Companhia Energética do Ceará (Coelce) informou que mantém diálogo com as prefeituras e concluiu ou está fazendo reparos que foram solicitados pelo Call Center e por ofícios enviados pelas prefeituras e câmaras municipais.
Na preparação do processo de transferência, segundo a Coelce, foram
feitos encontros regionais com a Associação das Prefeituras do Ceará, ao
longo do ano passado, para dar explicações aos prefeitos e tirar
dúvidas. “A companhia oferece, ainda, executivos para atendimento ao
poder público e suporte técnico às prefeituras para o cumprimento da
resolução normativa”, informou a Coelce em nota.
Em outros estados
A Companhia de Eletricidade do Amapá informou que está promovendo as
medidas administrativas necessárias para conclusão do processo de
transferência dos ativos, e está assinando acordos com as prefeituras,
por meio dos quais assume o compromisso de realizar a manutenção do
sistema de iluminação pública, mesmo após a assinatura dos termos. Ao
todo, a companhia estima investir cerca de R$ 4 milhões na recuperação
dos equipamentos no estado.
Já a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) investiu, somente no
ano passado, R$ 30 milhões na manutenção da iluminação pública nos 774
municípios da sua área de concessão para garantir a transferência dos
ativos. A assessoria da empresa também informou que foi acertado que a
manutenção nos equipamentos cujos defeitos ocorreram anteriormente à
transferência, após levantamento das próprias prefeituras, ficará à
cargo da concessionária para execução no prazo de 90 dias.
Na área de concessão da Cemig, apenas 33 municípios não receberam os
ativos de iluminação pública, por força de liminar judicial. Com relação
a esses municípios, a Cemig informa que continua dando manutenção e
está tomando medidas legais para reverter as decisões na Justiça.
Também por meio de nota, a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe)
mantém o compromisso de atender a todas as solicitações de manutenção
feitas até 31 de dezembro, prazo final para as transferências, bem como o
compromisso de dialogar com as prefeituras sobre o tema.
A Celpe não informou o volume de recursos gastos com os reparos e
destacou que “as estruturas destinadas à iluminação de praças, pontes,
canteiros centrais de avenidas e postes ornamentais já pertenciam aos
municípios e, por isso, não integraram o processo de transferência”.
Já a AES Eletropaulo, que atua na região metropolitana de São Paulo,
informou que enviou 140 ofícios sobre a transferência dos ativos e
discutiu o tema junto aos 13 municípios atendidos pela companhia, que
ainda não eram responsáveis pela iluminação, por meio de reuniões,
visitas e audiências - 11 deles concluíram o processo e dois mantêm
ações na Justiça.
A empresa informou que, em 2014, destinou mais de R$ 3 milhões em
manutenção e expansão da iluminação pública, substituiu mais de 145 mil
lâmpadas e prestou 77 mil atendimentos de manutenção, além de rondas
diárias para verificar a situação dos equipamentos.
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