Entre as paredes coloridas das instituições de acolhimento crescem
crianças e adolescentes que tiveram os laços familiares destituídos. Por
situações de abandono, negligência ou exploração – eles perderam os
vínculos biológicos e ficaram disponíveis para adoção. No Ceará, hoje, segundo informações do Fórum Clóvis Beviláqua, são contabilizados 61 meninos e meninas inscritos no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).
Na
outra ponta - esperando a oportunidade de ser pai ou mãe – existem 321
pretendentes habilitados. É uma equação que ainda não fecha. Para cada
criança ou adolescente apto a ser adotado, no Ceará, são 5,2 aspirantes.
Os números estaduais seguem uma tendência nacional. No Brasil são
33.284 pretendentes à adoção e 5.724 crianças e adolescentes disponíveis
– uma média de 5,8.
Enquanto a adoção não chega, eles
crescem amparados pelas instituições de acolhimento. A vida é similar a
de outras crianças: frequentar a escola, ter aulas de reforço, sair para
jogar bola na praça, ver um filme no cinema. A moradia dos abrigos
garante todas as atividades peculiares da infância, entretanto, não há a
atenção individualizada e o aconchego que apenas uma família pode
proporcionar. Nas instituições há regras e tempo para tudo. “É uma vida
comum, como todas as outras crianças. Eles brincam juntos, eles brigam
juntos, eles se divertem em grupo. É uma vida como a de qualquer
criança. A diferença é que não estão em família. Estão em acolhimento
institucional”, lembra a psicóloga Caroline de Sousa, do Abrigo Tia
Júlia.
Para
unir as duas pontas dessa história é necessário uma mudança no perfil
solicitado pelos pretendentes à adoção. Célia Costa, coordenadora do
Abrigo Nossa Casa, diz que o desejo de ter uma família é permanente
entre os moradores das instituições de acolhimento. “A espera deles é
comovente. As adoções tardias acontecem, mas são casos pontuais. No
geral, as pessoas querem adotar crianças pequenas. Depois dos 12 é mais
difícil”, pontua. No Nossa Casa moram 15 adolescentes com idade entre 12
e 18 anos.
Apesar de adoções tardias ou adoções de irmãos já
serem vistas, o perfil solicitado pelos pretendentes ainda é pouco
flexível e está mudando muito lentamente - explica Juliana Andrade,
coordenadora do Núcleo de Atendimento na Defensoria Pública da Infância e
Juventude. Enquanto a preferência por bebês e crianças na primeira
infância (0 a 6 anos) prevalecer, as mais velhas permanecerão com a vida
coletiva nos abrigos.
“A convivência familiar, o amor e a
atenção estimulam a criança. Ela desenvolve, em alguns meses, o
potencial que poderia ter desenvolvido em anos. Nas unidades de
acolhimento, elas são bem cuidadas e respeitadas, mas não recebem
atenção individual. Quando saem para um ambiente de atenção individual e
família, são expostas aos estímulos que contribuem para o crescimento”,
afirma Juliana Andrade.
Resumo da série
Em
dois anos, o número de adoções cresceu 162% no Ceará. Apesar do
aumento, crianças e adolescentes continuam crescendo em instituições de
acolhimento. São 61 meninos e meninas aguardando uma nova família,
enquanto 321 pretendentes do Ceará estão inscritos no CNA.
Serviço
3ª Vara da Infância e da Juventude
Onde: Fórum Clóvis Beviláqua (rua Desembargador Floriano Benevides Magalhães, 220).
Informações: (85) 3216 6000
Isabel Costa
isabelcosta@opovo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário