terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Sem saber se fica, Mancini recebe só 25% do salário e divide com funcionários

Buda Mendes/Getty Images
Técnico Vagner Mancini comanda o Botafogo
Vágner Mancini passou os últimos seis meses recebendo apenas 25% do seu salário, já que os seus direitos de imagem não são depositados desde junho. Mesmo assim, o técnico conta que ele e alguns jogadores ajudavam financeiramente outros funcionários e atletas do Botafogo, pagando o transporte para treinar e evitando greves, por exemplo. Independentemente do rebaixamento, o treinador não se arrepende.
"Várias vezes coloquei a mão no bolso. Não só para quitar as minhas contas, mas para ajudar alguns outros funcionários que tinham dificuldades até para ir ao treino. Outros atletas também fizeram isso. Tínhamos que fazer com que as engrenagens do Botafogo andassem, tínhamos que ir a campo treinar e jogar. As dificuldades eram enormes e só não foram maiores porque tentamos, nessa gestão de pessoas, fazer com que diminuíssemos os possíveis problemas", relatou.

Mancini relata que, se não fosse ele, o rebaixamento seria confirmado antes. "A gestão de pessoas e do grupo do Botafogo ficou restrita ao técnico e à minha equipe de trabalho. Muitas vezes quem aparou as arestas, quem foi para o front para que não houvesse mais desgaste ainda, com jogadores sujeitos à greve, esse tipo de coisa, foi o treinador. Tive que me desdobrar dentro do clube. Não me arrependo, por isso chegamos até a penúltima rodada com possibilidade de sair. Senão, a situação seria pior.
"O técnico, porém, nunca conviveu com uma situação tão ruim. Diversas vezes, chegou a viajar com menos reservas ou mais próximo dos jogos para economizar. "Já tive atraso de pagamento porque dirigentes acham que é uma tônica, que dá para conviver, mesmo sendo uma falta de respeito. Mas nunca vivi com esse tempo de atraso", continuou relatando, sem se surpreender com o descenso.
"O Botafogo mereceu. Por justiça, sim. Brigamos incessantemente para que isso não se tornasse realidade, mas foram muitos erros administrativos e financeiros. A equipe ficou aquém da estrutura que deveria ter. Mas ninguém está tirando o corpo fora aqui. A culpa existe em comissão técnica, jogadores e diretoria", relatou, até feliz pelo que viveu.
"Se você decide ser técnico, tem que estar disposto a ganhar e perder. Não adianta achar que, quando a coisa não vai bem, o melhor caminho é sair, abandonar o barco. Muita gente não teria suportado o que suportei, mas achei covardia abandonar vários atletas em situação semelhante e que necessitavam de um comando. Eu me senti na obrigação de ficar até o final e foi uma experiência de vida maravilhosa", indicou.
Mancini não sabe se fica e elogia diretoria, mas admite processar clube
Rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, Vágner Mancini elogia a recém-empossada diretoria do Botafogo enquanto ainda não define se renovará seu contrato. Mas está sem receber direitos de imagem (correspondente a 75% do seu salário) há seis meses e já não descarta ir à Justiça, mesmo entendendo que a nova gestão não tem condições de quitar a dívida.
“Eu gostaria de resolver, mas eu estaria sendo desumano se pedisse para essa diretoria acertar tudo que está atrasado. Falamos de salários, mas tem outras partes do clube que também estão atrasadas. E sei a real situação do clube financeiramente”, comentou o técnico. “Meu contrato ainda não acabou e existe a possibilidade de, até o fim do contrato, quitarem o que devem. Se não for, teríamos que partir para a Justiça.”
O treinador, no entanto, não dá a entender que tomará qualquer atitude antes de saber se fica no clube. “Ainda não sei. Sempre digo que o treinador e o projeto devem continuar, mas eu estaria muito deselegante falando qualquer coisa sendo que há poucos dias entrou uma nova diretoria, e que terá a liberdade necessária para fazer o que quiser. Não me sinto no direito de opinar”, esquivou-se.
O presidente Carlos Eduardo Pereira foi eleito na semana passada e já avisou que a permanência ou não de Mancini será definida após o último jogo do clube no ano, marcado para as 17 horas (de Brasília) deste domingo, contra o Atlético-MG, em Brasília (DF). O mandatário e seus dirigentes, por enquanto, só recebem elogios do técnico.
“Tenho a melhor relação possível. Eles entraram há menos de uma semana, já tivemos algum contato. Obviamente, ainda não dá para estabelecer nada, mas estivemos juntos já no jogo de Santos e, pelo que pude sentir, vão tentar dar o apoio necessário para esse final de campeonato. Falta apenas mais um jogo, mas é muito importante que haja uma integração porque todos que estão no Botafogo tentaram fazer o seu melhor”, declarou, confiando e indicando o melhor caminho para o clube se reerguer.
“O Botafogo chegou à falência neste ano e tem que se reestruturar de forma administrativa, com mentalidade vencedora e eficaz, cortando gastos para redirecionar. Essa diretoria sabe muito bem como fazer a reorganização para o clube retornar à Série A já em 2015. O Botafogo é uma instituição centenária, de uma história belíssima, riquíssima. Não é um rebaixamento que vai fazer com que o clube perca o seu destino”, apostou.
Por iG São Paulo

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