segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Romeiros lotam ruas apesar de fiscalização

Apesar de milhares de romeiros terem sido impedidos de chegar a Juazeiro do Norte, mais de 400 mil pessoas compareceram ao evento. A média do período da Romaria é de 500 mil pessoas
Apesar de milhares de romeiros terem sido impedidos de chegar a Juazeiro do Norte, mais de 400 mil pessoas compareceram ao evento. A média do período da Romaria é de 500 mil pessoas
fotos: Fabiane de Paula
Juazeiro do Norte. Com menor número de romeiros do que as romarias anteriores e maior rigor na fiscalização dos caminhões paus de arara, terminou ontem a maior manifestação religiosa do ano em Juazeiro do Norte, a Romaria de Finados. A estimativa da Igreja é que tenham passado neste ano pela cidade nos últimos cinco dias cerca de 400 mil pessoas.
A média que se estabelece a cada ano durante essa romaria é de mais de 500 mil. Ontem pela manhã, foi realizada missa campal em intenção do Padre Cícero defronte à Capela do Socorro, onde se encontram os restos mortais do sacerdote, falecido aos 90 anos, no ano de 1934.
Homenagens foram prestadas durante o dia inteiro em locais como a Capela do Socorro e Santuário dos Franciscanos. Milhares de pessoas rezaram diante do túmulo do Padre Cicero e depositaram objetos e flores. Alguns se emocionam com a possibilidade de poder tocar o túmulo do "padrinho".

Centenas de romeiros foram impedidos pela fiscalização, durante a 2ª etapa de Operação Romaria Segura, iniciada no último dia 30, de chegar até o Juazeiro em caminhões do tipo pau de arara. Na última sexta-feira, sete deles foram retidos e os romeiros tiveram que percorrer, pela BR-116, quase 60 Km para chegar a pé em Juazeiro do Norte, onde a maioria já estava com o rancho alugado para o período da romaria. Pelo menos 20 adultos com algumas crianças seguiram a pé, já que não tinham mais dinheiro para fretar um transporte o até o destino. Grande parte dos veículos apreendidos na localidade vinha da Paraíba.
O pároco da Basílica de Nossa Senhora das Dores, Joaquim Cláudio, disse que a Romaria atrai um número maior de religiosos com menor poder aquisitivo de localidades do sertão pernambucano, de Sergipe e Alagoas. Alguns deles não têm condições de obter um transporte melhor que o pau-de-arara.
Susto
A agricultora Severina Santos afirma que há dois anos deixou de vir para as romarias de caminhão. Ela disse que na última viagem teve um grande susto, já que a lona que cobre a carroceria saiu do lugar e o caminhão desceu uma ribanceira. "Não houve nada grave, mas tivemos que percorrer uns 2 Km a pé para aguardar numa sombra o conserto".
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) chegou a fiscalizar até o último dia 31, 73 veículos que transportavam 1.179 romeiros de forma irregular e 54 motoristas foram notificados. Segundo o órgão, o transporte de romeiros em paus de arara é considerado multa gravíssima.
Grupo realiza dança em reverência aos mortos
Juazeiro do Norte. A Romaria de Finados não tem a mesma característica recreativa da festa de Nossa Senhora das Dores, que ocorre em setembro, e é realizada em menos tempo. Desde o início da semana, a cidade não parou de receber romeiros de vária partes do Nordeste e do Brasil, mesmo o evento sendo aberto oficialmente apenas no último dia 29.
De uma forma mais contida, os fiéis fazem visitações nos principais centros de oração e acendem velas em locais comunitários para fazer reverência aos mortos. Desde o último dia 22, que o Grupo de São Gonçalo das Almas realiza a dança para os mortos. Uma forma de oração.
O grupo é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Estado do Ceará, segundo o músico que acompanha e registra as ações dos seus integrantes, Di Freitas.
Padre Cícero
Após a Missa das Seis Horas, na Praça do Socorro, os senhores e senhoras tomam o espaço, diante de uma enorme cruz de frente à Capela, onde estão os restos mortais do Padre Cícero, para realizar o que eles não chamam de uma manifestação cultural, mas religiosa.
Antes, a mesma homenagem foi realizada no Cemitério do Socorro, com o som de instrumentos como pandeiro, rabeca, um violão e um adufe, pandeiro de sonoridade diferenciada de origem árabe, que ajuda a encaminhar os passos.
Tradição
O mestre Joaquim Pedro da Silva diz que esse é um trabalho para os irmãos que já morreram. Ele e os outros integrantes dos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia se unem para realizar a reverência. O grupo perdeu um dos seus integrantes importantes, o mestre Leôncio, responsável pela capela no Horto, onde se reúnem todos os integrantes do grupo. Ele morreu esse ano preocupado em perder o seu ganha pão. Com a retirada de vendedores ambulantes das ruas, ficou também sem o seu carrinho.
Os homens e mulheres da dança de São Gonçalo tiram as sandálias e, de pés descalços, arrastam no chão os passos de fé. Todos anos, a tradição, que para eles é uma missão, segue rumo ao Horto, onde fazem os trabalhos de forma mais reservada. No Dia de Finados, eles se encaminham para a praça com suas vestes brancas e os rosários no pescoço para expandir a fé num culto secular aos mortos.
Elizângela Santos
Colaboradora

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