A distribuição gratuita de contraceptivos e uma maior oferta de
orientações sexuais podem ter sido responsáveis pela redução do número
de mulheres, entre 15 e 19 anos, com pelo menos um filho vivo no País.
No Ceará, entre os anos 2000 e 2010, a proporção passou de 15% para
11,7%. No Brasil, a média de redução foi entre 14,8% e 11,8%. A
porcentagem atual coloca o Estado com a menor taxa de adolescentes mães
do Nordeste.
Os números compõem as Estatísticas de Gênero -
Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010, divulgadas ontem
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cenário
cearense exibe ainda uma redução de 13,4% para 9,5% da quantidade de
adolescentes que têm filhos em Fortaleza. Entre os 184 municípios do
Estado, 37 apresentaram aumento percentual. Se comparadas as regiões
brasileiras, a incidência é maior no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Iara
de Sousa Freitas, 19, ainda não está entre as mais de 49 mil jovens
mães cearenses identificadas em 2010. Ela só soube o que era dar de
mamar, colocar para dormir e limpar uma criança há cinco meses, quando
nasceu a Carla. A gravidez não planejada, descoberta já em seu segundo
mês, impediu a mãe de finalizar o curso de Petróleo e Gás e antecipou o
“ajuntamento” com o pai da criança. “Comecei a tomar anticoncepcional
aos 16 anos, depois que uma amiga falou. Dessa vez, como eu e meu
namorado tínhamos acabado, fiquei sem tomar os comprimidos. Quando
voltamos, não deu nem tempo recomeçar”, contou Iara.
Problemas e cuidados
A
história da jovem se confunde com as de tantas outras mães que chegam à
Maternidade Escola Assis Chateubriand (Meac), de acordo com a
coordenadora do Serviço de Adolescentes da unidade, Zenilda Bruno. “Os
11,7% ainda são uma porcentagem alta, porque essas meninas deveriam
estar na escola, fazendo o segundo grau. E a maioria acaba parando os
estudos”, afirmou. Conforme a médica ginecologista, uma porcentagem
aceitável seria de, no máximo, 5%.
O uso da camisinha para
prevenção da aids, a distribuição do preservativo em postos de saúde e a
criação de serviços de informação às adolescentes, conforme Zenilda,
podem ter colaborado para a redução da gravidez em idade precoce.
Entretanto, nas escolas, esse trabalho informativo estaria menos
intenso.
A médica ressalta que, em 70% dos casos, as jovens
engravidaram sem querer. “Por incrível que pareça ainda existem
adolescentes que tomam a medicação apenas no dia em que tiveram relações
sexuais ou, pior, têm o pensamento mágico de que não vão engravidar”,
comenta.
E os problemas de uma gestação antecipada são tanto
sociais quanto físicos. Conforme Zenilda, podem ocorrer casos de
pré-eclâmpsia (normais em gravidezes em fases extremas da vida), anemia e
parto prematuro. Por isso, os cuidados precisam ser tomados o mais cedo
possível. Iara, mãe da Carla, só foi ao médico após o atraso da segunda
menstruação. “Muitas meninas acabam indo tarde porque já têm a
menstruação irregular ou estavam escondendo dos pais. E é fundamental
esse acompanhamento, principalmente no Interior, onde fazer alguns
exames é bem mais difícil”, avalia a médica.
Saiba mais
Conforme
dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), entre os anos de 2007 e
2013, o número de nascidos vivos segundo a idade da mãe (10 a 19 anos)
passou de 22% para 20,8% no Ceará.
Os números referentes a
cada ano são: 29.816 (2007), 28.671 (2008), 28.040 (2009), 26.443
(2010), 26.542 (2011), 26.485 (2012) e25.858 (2013).
De
acordo com a médica ginecologista Zenilda Bruno, a jovem gestante tem
condições de ter um parto natural. Conforme ela, quando engravida, a
mulher já possui maturidade óssea e orgânica para ter um parto normal.
No Ceará, 17,7% das mulheres em idade reprodutiva têm entre 15 e 19 anos.
Ter filhos entre 15 e 19 anos é mais comum entre as mulheres negras, que apresentaram taxa de 14,1% no Brasil.
Os
municípios que apresentaram aumento no Ceará foram: Barreira, Camocim,
Cariré, Catarina, Choró, Ererê, Groaíras, Guaramiranga, Ibicuitinga,
Icó, Independência, Ipaporanga, Ipaumirim, Jardim, Marco, Miraíma,
Mombaça, Nova Olinda, Palhano, Palmácia, Parambu, Pereiro, Porteiras,
Potengi, Quiterianópolis, Salitre, Santana do Acaraú , Santana do
Cariri, Solonópole, São Benedito, São Gonçalo do Amarante, Tabuleiro do
Norte, Tarrafas, Trairi, Umari, Varjota e Várzea Alegre.
Sara Oliveira
saraoliveira@opovo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário