Líder na pesquisa de intenção de votos para deputado federal em São
Paulo, segundo o Ibope, o palhaço Tiririca (PR-SP) caminha para o final
de seu primeiro mandato sem ter faltado a nenhuma das 372 sessões
deliberativas (isto é, destinadas a votação) da Câmara desde fevereiro
de 2011. É um feito alcançado por poucos deputados. Por outro lado, não
fez um único pronunciamento em plenário, algo também raro na vida de um
parlamentar – palavra que tem origem no latim parlare, que significa falar, conversar.
Ele foi eleito quatro anos atrás com 1,3 milhão de votos, a maior
votação da atual legislatura e a segunda da história brasileira, só
superada pela do falecido deputado Enéas em 2002 (1,5 milhão).
Tiririca cumpriu a única promessa que fez: com ele – ou melhor, por
causa dele – o Congresso não ficou pior. Apesar de estar sempre
presente, o deputado pouco apareceu. Não se envolveu diretamente nas
votações, mas também não se meteu em polêmicas nem virou alvo de
denúncias.
Deputado do circo
O primeiro palhaço profissional a conquistar um lugar no Parlamento
brasileiro conclui seu primeiro mandato como representante do circo no
Congresso. Dos oito projetos de lei apresentados por Tiririca, seis
pretendem assegurar direitos à comunidade circense, na qual ele começou
sua carreira artística ainda criança.
Uma das propostas do deputado prevê o reconhecimento do circo como
manifestação cultural para que os artistas circenses possam ser
beneficiados com os incentivos fiscais da Lei Rouanet. Ele também propôs
a inclusão do trailer e do motor home utilizados por artistas de circo como moradia no programa “Minha Casa, Minha Vida”.
Em outros dois projetos, Tiririca sugeriu a isenção do Imposto sobre
Produto Industrializado (IPI) para veículos usados em atividade circense
e mudança na legislação para garantir aos filhos de artistas de circo,
na faixa etária de 4 a 17 anos, cuja atividade seja itinerante, vaga nas
escolas pública ou particulares.
Bolsa-Alfabetização
As outras duas propostas feitas por ele tratam de educação: uma cria
uma “Bolsa-Alfabetização” para analfabetos com idade superior a 18 anos
matriculados na rede pública por seis meses; e a outra, um vale-livro
para alunos da rede oficial. O deputado foi relator de oito proposições.
Acusado por um promotor eleitoral de ter omitido a informação de que
era analfabeto, Tiririca teve de fazer um teste para comprovar que sabia
ler e escrever (condição obrigatória para alguém disputar um cargo
eletivo no país). O caso só foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) em novembro do ano passado. Os ministros da corte máxima do
Judiciário brasileiro concluíram que ele tem “rudimentares conhecimentos
de escrita e leitura” e que cassar seu registro seria uma decisão
discriminatória.
Sempre presente no plenário, Tiririca também é figura carimbada na
Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular desde o início do
mandato. A frequência às comissões não é obrigatória e muitos
parlamentares dedicam pouca atenção a elas. Não é o caso dele. Um dos
mais assíduos, o deputado apareceu em 158 (90%) das 176 reuniões
realizadas pela Comissão de Educação desde março de 2011.
“Deputado trabalha muito e produz pouco”
Tiririca chegou ao Congresso após se filiar ao Partido da República
(PR) por convite do presidente da legenda, o ex-deputado Valdemar Costa
Neto (SP), que cumpre pena em Brasília após ter sido condenado no
Supremo por participar do mensalão. “Você sabe o que
faz um deputado federal? Eu também não. Vote em mim que eu te conto”,
brincava o palhaço no horário eleitoral. “Trabalha muito e produz
pouco”, disse ele após seu primeiro ano de mandato.
Como puxador de votos, o artista ajudou a eleger outros três
deputados da coligação – dois do PT e um do PCdoB. Mas já em uma de suas
primeiras votações causou constrangimento ao PR. Contrariando a
orientação da liderança da bancada e do governo, votou a favor do
salário mínimo de R$ 600 em fevereiro de 2011. Integrante do bloco
governista, o PR fez fileira com o Planalto em favor de um valor mais
baixo (R$ 545), que acabou sendo aprovado. O partido tentou justificar a
“infidelidade”, alegando que ele havia se equivocado no momento de
acionar o painel de votação. Mas logo foi desmentido pelo deputado.
“Como vou votar contra o povo que me botou aqui? Não tem como. Aí deram
aquela versão de que votei errado. Desde a primeira reunião, o partido
disse que era pra eu ser o que sou”, alegou Tiririca.
Por dois anos consecutivos, Tiririca também foi apontado como um dos
melhores congressistas do ano por jornalistas e internautas que votaram
no Prêmio Congresso em Foco. Em 2012, após receber o
prêmio, ele e o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) se juntaram à banda
brasiliense Móveis Coloniais de Acaju para protagonizar o mais divertido
momento daquela noite de novembro.
Fonte: Congresso em Foco
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