terça-feira, 9 de setembro de 2014

Comissão ouvirá empresas que ajudaram a ditadura

Pedro Dallari é preside a comissão. Na foto acima, ele comanda sessão de trabalho do colegiado
Pedro Dallari é preside a comissão. Na foto acima, ele comanda sessão de trabalho do colegiado JOSÉ CRUZ/ABR
A Comissão Nacional da Verdade anunciou ontem, em Brasília, que vai convocar empresas que colaboraram com a ditadura militar de 1964 a 1985, para prestarem esclarecimentos. Um dos focos de investigação do grupo, a colaboração de companhias estrangeiras e nacionais com a repressão será tema de uma audiência que deve ser realizada no próximo mês, segundo a advogada Rosa Cardoso, uma das comissárias. 
“Ainda vamos estudar as várias formas de responsabilização dessas empresas, mas há tratados e entendimentos internacionais que dizem que, em situações como a da ditadura brasileira, a responsabilização das empresas e dos empresários não pode ser esquecida”, ressaltou Cardoso.
Dezenas de corporações, nacionais e estrangeiras, ajudaram os órgãos da repressão denunciando trabalhadores engajados na resistência e repassando informações sobre a atuação, sobretudo nos sindicatos, entre o final dos anos 1970 e o início dos 1980. Há casos de companhias que repassaram fichas funcionais dos empregados aos órgãos de segurança.
Com a ajuda de similares municipais e estaduais ou com foco no setor sindical, a Comissão Nacional da Verdade já tem uma lista inicial de pelo menos 20 empresas que constam em documentos dos órgãos de repressão como colaboradoras. São elas: Monark, Caterpillar, Confab, Engesa, Embraer, Avibras, Rhodia, Ford, Ericsson, Fábrica Nacional de Vagões (FNV), General Motors, Petrobras, Johnson, Kodak, Philips, Telesp, Villares, Embrapa, Vibasa e Volkswagen.
Um dos responsáveis pelo trabalho na Comissão Nacional da Verdade é o pesquisador Sebastião Neto, que levantou relatórios produzidos pelo extinto Conselho Comunitário de Segurança, que funcionava na região do vale do Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo. Era integrado pelas Forças Armadas, polícias civis e militares, além de representantes das empresas.
“Tudo indica que as estatais foram usadas como laboratórios para se pensar a repressão dentro das empresas”, afirmou Neto. Ele cita as 516 demissões pela Petrobras entre abril e outubro de 1964, nos primeiros meses de vigência da ditadura militar. Ainda sem saber qual tipo de responsabilização a Comissão da Verdade vai pedir em relação às empresas que colaboraram com o regime, Rosa Cardoso afirmou que o tema estará presente no relatório final, previsto para ser divulgado em dezembro deste ano, quando o grupo conclui seus trabalhos. (das agências de notícias)
 
Números
 
1970 foi a década em que teriam começado as colaborações com o regime

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