Russas. A produção do segundo semestre de, pelo menos, três perímetros irrigados do Estado está comprometida devido ao racionamento de água confirmado pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). No Tabuleiro de Russas, os produtores realizaram ontem uma parada de 24 horas na irrigação para economizar água. Lá, a produção de melão é responsável por cerca de 30% das exportações do Ceará. A redução na vazão foi de 8,5%. Já no Perímetro de Morada Nova, esse percentual chegou a 40,5%. Com isto, a produção do arroz irrigado foi reduzida em mais de 50%. Irrigantes adotam medidas para tentar manter o que já foi cultivado até então nas respectivas áreas.
Em reunião realizada na sede do Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas (Distar), no último dia 19, onde envolveu a diretoria do Distrito, os irrigantes e a diretoria de produção do Dnocs, algumas medidas foram adotadas para tentar manter abastecida a atual produção.
De acordo com o gerente executivo do Distar, Roberto Cadengue, haverá uma paralisação programada dos irrigantes durante 24h, uma vez por semana, além da redução dos consumos de água em 15% nas operações dentro do lote agrícola, a imediata interrupção de implantação de novas áreas e a redução de áreas plantadas com culturas temporárias. Com essas medida, 3.000 hectares em plena produção serão impactados severamente.
Edes Moreira cultiva acerola orgânica no perímetro e ele já espera um impacto negativo na produção com o racionamento. "Com essa parada, a produção cai um pouco, a temperatura é alta, mas acerola é muito rústica e esperamos que dê certo. Não vamos reduzir a área, mas sim manter as que temos, apesar do mercado estar bom para o aumento do cultivo", lamenta.
De acordo com ele, houve um aumento na procura pela acerola orgânica produzida no perímetro irrigado. Segundo Cadengue, atualmente toda a demanda de água do Tabuleiro de Russas é suprida pelo Açude Banabuiú, que se encontra com apenas 13% da sua capacidade total. O açude não abastece somente este projeto. Sua reserva hídrica também mantem a produção do Perímetro Irrigado de Morada Nova, além de dar suporte ao Açude Curral Velho, que complementa o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza. "A necessidade hoje do projeto seria de uma vazão mínima de 3,2 m³/s. No primeiro semestre de 2014, nossa vazão era alocada em 2,2m³/s. Corremos o risco no final de 2014 não termos nem 1,5m³/s de vazão, caso continue esta situação", lamenta o gerente do Perímetro.
O Tabuleiro de Russas é responsável por 30% da exportação de melão do Ceará. No perímetro também há cultivo de melancia, goiaba, banana, uva, soja, milho, entre outras culturas.
O perímetro Irrigado de Morada Nova, que também é abastecido pelo Açude Banabuiú, teve uma redução drástica, na avaliação do coordenador da Associação dos Usurários do Distrito de Irrigação do Perímetro de Morada Nova (Audipimn), Sales Almeida. "No segundo semestre de 2013, a área total de produção era de 2,7 mil hectares. Com o racionamento esse valor vai cair pela metade. Os irrigantes vão ter que reduzir de 4,5 hectares para pouco mais de 2 hectares de área plantada", alerta ele.
Segunda safra
Ainda de acordo com ele, muitos produtores estão desistindo de plantar arroz na segunda safra do ano devido às dificuldades de água, bem como a competição com o arroz da Região Sul, que está entrando com mais força no mercado cearense.
Mais de 10 mil pessoas residem na área do Perímetro de Morada Nova, sendo cerca de 900 famílias que depende da agricultura irrigada para sobreviver. Da área total, mais da metade, ou seja, 1.727,83 hectares, foram destinadas ao cultivo de arroz no ano passado.
Por demandar muita água, a produção cairá pela metade no segundo semestre deste ano. O Governo do Estado enviou à Assembleia Legislativa um Projeto de Lei para indenizar os agricultores dessa área que diminuirão a produção. "Nossa contraproposta é que sejam indenizadas 2,6 mil hectares de área", disse..
De acordo com a Cogerh, além do Tabuleiro de Russas e de Morada Nova, o Baixo-Acaraú também foi impactado com racionamento, lá a redução da vazão foi de 41%. Os perímetros Jaguaribe-Apodi e Orós não passam por racionamento, segundo a Companhia.
Prejuízos
"Muitos irrigantes de Morada Nova estão desistindo de plantar. Mais de 900 famílias dependem do perímetro para viver"
Sales Almeida
Coordenador da Audipimn
"Nossa produção cai, mas o preço no mercado, ao invés de aumentar, diminui por causa do produto que vem do sul"
Antônio Ivanilson
Irrigante de Morada Nova
Ellen Freitas
Colaboradora
Colaboradora
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