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| ilustração de Carlus Campos |
Foi com coragem, fé e amor que frei Tito de Alencar Lima (1945-1974)
grifou sua história de luta e sofrimento, assombrado pelo fantasma das
agonias sofridas na Ditadura Militar. Mesmo padecendo das dores físicas
e psicológicas, o cearense foi o primeiro a denunciar, em documento,
as torturas praticadas nos porões, quando ainda estava encarcerado.
“Preciso dizer que o que ocorreu comigo não é exceção, é regra. Raros os
presos políticos brasileiros que não sofreram tortura”, escreveu em
fevereiro de 1970, em um texto que deixou clandestinamente o presídio
Tiradentes, em São Paulo.
Frei Tito teve a vida
interrompida no dia 10 de agosto de 1974, há exatos 40 anos. Doze anos
mais velha, é a irmã quem repassa a memória e a existência do homem.
Assim, a professora Nildes Alencar Lima, 80, traz consigo toda a
trajetória do caçula.
A visão do jovem Tito era um retrato
das vivências dentro de casa, ao lado da mãe católica fervorosa, o pai
com ideias socialistas e o irmão mais velho membro do então clandestino
Partido Comunista. O socialismo entrava na casa dos Alencar Lima pela
porta da frente. E era bem-vindo. “Nós, filhos, tínhamos uma visão
socialista sem saber e uma visão democrática sem usar a palavra
democracia”, recorda Nildes.
Quando foi estudar no Liceu do
Ceará, Tito engajou-se na Juventude Estudantil Católica (JEC). Foi lá
onde descobriu a proximidade entre socialismo e cristianismo. Nascia,
ali, a inquietação de atrelar suas crenças religiosas aos anseios
políticos e sociais.
Em 1966, Tito tornou-se noviço do Convento da Ordem dos Dominicanos. “Era um compromisso, um engajamento com o meio social que ele sentia. Nós tínhamos muitas conversas de vida, de espiritualidade. Ele era lindo, o Tito”, recorda
a irmã.
Resistência
Os frades dominicanos foram importantes na resistência à repressão. Eles ajudavam guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ANL). Foram presos, torturados e exilados por isso.
Em 1966, Tito tornou-se noviço do Convento da Ordem dos Dominicanos. “Era um compromisso, um engajamento com o meio social que ele sentia. Nós tínhamos muitas conversas de vida, de espiritualidade. Ele era lindo, o Tito”, recorda
a irmã.
Resistência
Os frades dominicanos foram importantes na resistência à repressão. Eles ajudavam guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ANL). Foram presos, torturados e exilados por isso.
Ao lado de outros
companheiros, Frei Tito foi arrancado de dentro do convento, em 17 de
fevereiro de 1970. “Algemaram minhas mãos, jogaram-me no porta-malas da
perua. No caminho, as torturas tiveram início: cutiladas na cabeça e,
no pescoço, apontavam-me seus revólveres”, relata o frei na denúncia
escrita na cadeia. Depois de visitar o caçula, Nildes acreditava que o
irmão ficaria bem, mas essa esperança foi quebrada quando ela recebeu o
depoimento que Tito havia escrito. “Para nós, aquilo tudo (as torturas
sofridas) foi uma circunstância de arbitrariedade do poder”, diz.
As
lembranças viajaram com Tito para um convento dominicano em Lyon, na
França, onde permaneceria exilado. “Não tenho grandes coisas para
dizer-te. Aqui está minha presença: pequena e nebulosa.” Essas palavras
foram redigidas por frei Tito na última carta enviada à irmã, cinco
meses antes de morrer. Nildes lembra delas até hoje.
SAIBA MAIS
A vida de Tito começou
na rua Rodrigues Júnior, número 364, onde viviam Laura e Ildefonso de
Alencar Lima com seus 11 filhos. Ela, católica fervorosa, era
encarregada de passar a todos uma educação religiosa dentro dos moldes
do cristianismo. Ele, gerente de uma empresa de ônibus, tinha leituras e
ideais socialistas.
Nildes costura lembranças do irmão que se confundem com o que também acontecia no Ceará: “Na minha casa – e olha que a gente nem pertencia a grupos -, quando houve uma solicitação de esconder dois que estavam sendo perseguidos pela Polícia, a gente escondeu. Ora, do lado de quem você está? Nós escondemos o (José) Genoíno e o Pedro Albuquerque, e isso já era em 1968”, recorda.
Nildes costura lembranças do irmão que se confundem com o que também acontecia no Ceará: “Na minha casa – e olha que a gente nem pertencia a grupos -, quando houve uma solicitação de esconder dois que estavam sendo perseguidos pela Polícia, a gente escondeu. Ora, do lado de quem você está? Nós escondemos o (José) Genoíno e o Pedro Albuquerque, e isso já era em 1968”, recorda.
Camila Holanda
camilaholanda@opovo.com.br

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