sexta-feira, 25 de julho de 2014

Prefeitura aterra açude para construir Coliseu do Ceará, em Alto Santo


Obra está em andamento há cinco anos (Foto: Juscelino Filho/GLOBOESPORTE.COM)
Obra está em andamento há cinco anos (Foto: Juscelino Filho/GLOBOESPORTE.COM)
Do G1 CE

Há cinco anos a Prefeitura da cidade de Alto Santo, a 230 km de Fortaleza, tenta concluir a versão cearense do Coliseu romano. Trata-se de um estádio de futebol com capacidade para 20 mil pessoas e com custo de R$ 1.315.000,00 milhão financiados pelo Ministério dos Esportes, via Caixa Econômica Federal. E se o Coliseu de Roma foi construído onde antes havia um lago, o de Alto Santo ocupa o espaço de um açude que foi aterrado para a obra.
A construção do estádio sobre um açude aterrado tem opiniões divergentes entre os moradores. Socorro Alves, que mora atrás da obra, acompanhou todo o processo de construção, desde o aterramento até o levantamento dos muros. Ela acha que a lagoa só trazia males e cita a grande quantidade de mosquitos. No entanto, reconhece que o município não é dos mais abastecidos pelas chuvas e que, com isso, a ausência de um reservatório de água pode prejudicar a cidade.
Segundo a Prefeitura de Alto Santo, a região não tem problemas com abastecimento de água. Afirmação que diverge das informações fornecidas pelo site da Funceme (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos). Segundo a Fundação, nos últimos três anos, o índice pluviométrico foi inferior às médias da cidade: 2012 (-51,8%), 2013 (-20,1) e 2014 (-38,7%).

De acordo com a Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos), os três açudes que abastecem a cidade estão com baixos índices de capacidade. O Castanhão opera com apenas 36,49% do volume, enquanto o açude Figueiredo tem apenas 3,74%, e o Riacho da Serra conta com 20,58% da capacidade total.
Moradores
A obra em si também divide a opinião dos morades do município. "É um elefante branco. Deveria se construir escolas, escolas de qualidade”, disse a professora Maria José Gome. "É um  gasto desnecessário aquela estrutura de frente, aquela imponência que nem a cidade absorve isso tudo, nem combina com a cidade...Você pode fazer a mesma coisa, ter o mesmo resultado, porém com um custo menor", afirma a representante comercial Mara Cabó. Já o comerciante Ricardo de Moura Lima é favorável à obra,  "além de ser um lugar bonito pra quem chega na cidade, vai ser muito bom pros jovens aqui, jogar bola e tudo, né?".
Manutenção de grama ocorre há cinco anos (Foto: Juscelino Filho/GLOBOESPORTE.COM)
Manutenção de grama ocorre há cinco anos (Foto:
Juscelino Filho/GLOBOESPORTE.COM)
Estrutura
O Coliseu cearense pode ser visto a partir da entrada da cidade de Alto Santo e, até o momento, tem apenas um quarto da estrutura das arquibancadas prontas. Caso o plano de capacidade para 20 mil pessoas seja mantido, o estádio deve deve superar o número de habitantes da cidade, que é de 16 mil, segundo o último Censo do IBGE, datado de 2010. O gramado está pronto desde o início da obra e, mesmo sem uso, precisa ser mantido diariamente com irrigação e poda da grama.
"Nós temos que ter o pensamento mais pra frente: a população não vai ficar só nisso [16 mil]. Quando houver algum evento esportivo aqui, não vai ficar só a nossa população”, disse o diretor de esportes de Alto Santo, Márcio Bezerra, completando, “não adianta você plantar hoje  e jogar amanhã. Hoje nos já estamos de 4 a 5 anos cuidando desse gramado, onde tem o corte, tem o adubo, tem aguamento. Pra no dia que chegar o pontapé inicial, o principal é você ter seu tapete verde".
saiba mais
Em Alto Santo, não há gladiadores ou time de futebol: o Alto Santo Esporte Clube foi desativado em 2009. À época o ex-prefeito teve idéia de construir o estádio. Mas o atual não fala sobre o assunto e quer concluir a obra ano que vem.
Ministério Público Federal
O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) instaurou inquérito civil público, em 2012, com base em denúncia recebida pela Procuradoria da República em Limoeiro do Norte sobre possíveis irregularidades na execução das obras do Estádio Municipal de Alto Santo. Desde então, o MPF vem apurando o caso, por meio do acompanhamento, junto à Caixa Econômica Federal, da execução dos recursos provenientes de dois contratos firmados com o Governo Federal para financiamento da obra.

A última movimentação do inquérito instaurado foi o recebimento de ofício enviado ao MPF pela Caixa Econômica Federal, que informa a constatação de irregularidades nos Contratos de Repasse. Em junho, a Caixa informou ao MPF que concederia o prazo de 30 dias ao Município de Alto Santo para que fossem apresentadas à Gerência da Caixa as providências tomadas visando à regularização da situação. Na impossibilidade de fazê-lo, a Prefeitura deverá, segundo a Caixa, devolver à Conta Única do Tesouro Nacional o montante já liberado.

O Inquérito encontra-se no gabinete do procurador da República Francisco Alexandre de Paiva Forte, concluso para providências futuras.

Caixa Econômica
A Caixa Econômica Federal informa que, após as notificações, o município apresentou boletins de medição que atestaram a regularidade das obras. Em julho de 2014, a CAIXA constatou a evolução, no primeiro contrato, de 35,56% para os atuais 74,17%. No segundo contrato, o percentual anterior era de cerca de 72% e, atualmente, as vistorias verificaram mais de 90% de evolução da obra. Considerando que o problema estava relacionado à paralisação das obras, com a continuidade das execuções, a CAIXA considera está afastada a necessidade de devolução dos recursos à União.

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