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Apenas quatro chapas homologaram candidatura no Tribunal Regional
Eleitoral do Ceará (TRE) para concorrer ao Governo do Estado Foto: Tuno Vieira
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No dia 5 de outubro próximo, os mais de seis milhões de eleitores
cearenses só poderão escolher entre quatro candidatos ao Governo do
Estado e quatro ao Senado Federal. Levantamento feito pelo Diário do
Nordeste em publicações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostra que,
das últimas cinco eleições gerais do Estado, esse é o pleito com menos
projetos governamentais para a sucessão estadual.
Neste ano, quatro chapas majoritárias homologaram candidaturas para
tentar suceder o governador Cid Gomes. Até a véspera do prazo final das
convenções partidárias, 30 de junho, o número poderia ser ainda menor,
já que a chapa que seria encabeçada por Nicolle Barbosa (PSB) estava
sendo posta em xeque pelo partido, que cogitou abrir mão da disputa para
aliar-se no pleito proporcional com o PMDB de Eunício Oliveira.
Na última hora, o PSB resolveu que sairia com candidata própria ao
Governo Estadual, a deputada Eliane Novais. A situação constrangeu a
pré-candidata da sigla, Nicolle Barbosa, que foi convidada para ser a
vice na chapa, mas rejeitou o convite.
Além de Eliane Novais, estão no páreo o petista Camilo Santana pela
chapa governista; o peemedebista Eunício Oliveira, que lidera a
oposição; e Ailton Lopes, da frente de esquerda. Para o Senado,
concorrem Mauro Filho pela chapa de Cid; o tucano Tasso Jereissati
apoiado por Eunício; Geovana Cartaxo pelo PSB e Valdir Pereira, do PSTU,
no grupo liderado por Ailton Lopes.
Há 16 anos, em 1998, a quantidade de postulantes que disputou o comando
do Executivo cearense é a que mais se aproxima do cenário atual, mas
ainda supera o número de pleiteantes de agora. Cinco nomes se
candidataram para concorrer ao Governo. Tasso Jereissati foi reeleito ao
cargo com mais de 62% dos votos na aliança com PSDB, PPS, PSD, PPB e
PTB. O eleitorado cearense somava 4,3 milhões.
Disputa
O ex-governador Gonzaga Mota também foi para a disputa, mas só alcançou
22% dos sufrágios, mesmo apoiado por PMDB, PFL, PAN, PRN, PSL, PST, PSC
e PSDC. O atual deputado federal José Airton Cirilo postulou vaga no
Executivo na coligação PT, PCdoB, PDT, PCB, PSB e PV. Os outros
candidatos eram Reginaldo Moreira (PMN) e Valdir Pereira (PSTU).
Para o Senado Federal, disputaram Luiz Pontes (PSDB), que venceu o
pleito, Paes de Andrade, na coligação do PMDB, Tarcísio Leite (numa
aliança formada por PL, PSN e PTdoB, que lançou nome somente para
senador) e Raimundo Pereira, do PSTU. Os grupos que apoiaram José Airton
e Reginaldo Moreira ao Executivo não indicaram nome para concorrer ao
Senado Federal.
No pleito de 2002, os 4,8 milhões de eleitores cearenses puderam
escolher entre sete projetos de Governo. Lúcio Alcântara, que foi eleito
no segundo turno, teve a candidatura apoiada por PSDB, PPB, PSD e PV.
José Airton Cirilo, o segundo mais votado, estava na coligação formada
por PT, PCdoB, PL, PMN e PCB.
Sérgio Machado foi o nome indicado por PMDB e PFL, enquanto Welington
Landim juntou na mesma chapa PSB, PSDC, PSC, PSL, PTdoB, PHS, PAN, PGT e
PRTB. Três candidatos saíram sozinhos: Cláudia Brilhante (PTB), Pedro
Albuquerque (PDT) e Raimundão (PSTU).
Para concorrer ao Senado, a mesma aliança que deu sustentação a Lúcio
Alcântara apoiou Tasso para o Senado. Já Patrícia Saboya, que ainda
assinava com o Gomes do ex-marido Ciro, foi eleita com o suporte de PDT,
PTB, PTN e PPS. Mário Mamede foi o pleiteante indicado pela coligação
de José Airton Cirilo, assim como Gelson Ferraz. Eudoro Santana saiu
pelo PSB, Paulo de Tarso pelo PHS e Aguiar pelo PSTU. Já Paulo Lustosa
foi o candidato da coligação PMDB/PFL.
Base
No ano em que Cid Gomes se elegeu governador pela primeira vez, em
2006, seis candidatos disputaram o pleito. A chapa de Cid era formada
por PSB, ao qual era filiado, PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e PV.
Já Lúcio Alcântara tentava se reeleger com uma base de sustentação
formada por PTB, PTN, PSC, PPS, PFL, PAN, PTC e PSDB.
Naquele pleito, José Maria de Melo encabeçou a chapa do PDT, PL, PRTB e
PTdoB e Renato Roseno saiu com PSOL, PCB e PSTU. Já Salete da Silva
(PCO) e Francisco Gondim (PSDC) disputaram sem coligação. Em 2006, eram
contabilizados 5,3 milhões de eleitores no Ceará.
Diferentemente do que ocorre hoje, em 2006, Inácio Arruda foi apoiado
para concorrer ao Senado por PSB, PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e
PV. Moroni Torgan teve do seu lado PTB, PTN, PSC, PPS, PFL, PAN, PTC e
PSDB. Antônio Fernandes (PSDC), Nair Fernandes (PDT), Raimundo Pereira
(PSTU) e Tarcísio Leitão (PDT) tentaram uma vaga de senador sem integrar
aliança com outras siglas.
Na eleição seguinte, de 2010, também foram seis projetos que disputaram
a vaga mais alta do Executivo cearense. Cid Gomes conseguiu reunir PRB,
PDT, PT, PMDB, PSC, PSB e PCdoB. Marcos Cals foi para a disputa
coligado com DEM e PSDB e Lúcio Alcântara encabeçou a chapa do PR e PPS.
Marcelo Silva (PV), Soraya Tupinambá (PSOL) e Francisco Gonzaga (PSTU)
foram candidatos, mas não se coligaram a outras agremiações.
O grupo que apoiou Cid deu suporte às postulações de Eunício Oliveira e
José Pimentel, eleitos ao Senado. Tasso Jereissati, coligado com PSDB e
DEM, perdeu a eleição. Alexandre Pereira foi o pleiteante a senador da
aliança PPS/PR, Marilene Torres representou o PSOL e Benedito Oliveira o
PCB. O PSTU lançou dois candidatos: Reginaldo Araújo e Raquel Dias. O
Ceará teve oito pleiteantes ao Senado.
Falta de diversidade marca projetos de Governo no CE
Mais grave do que o pouco número de candidatos que disputam a cadeira
que hoje é ocupada por Cid Ferreira Gomes no Governo do Estado é a falta
de diversidade dos projetos apresentados ao eleitor. A realidade não é
exclusividade do Ceará e se estende a outras localidades do País. É o
que afirmam cientistas políticos procurados pelo Diário do Nordeste para
avaliar o cenário para as eleições deste ano.
Na opinião do cientista político Rui Martinho, professor da
Universidade Federal do Ceará (UFC), existem dois fatores que contribuem
para a quantidade pouco expressiva de candidaturas no pleito
majoritário: fisiologismo das agremiações e realismo partidário em
relação às possibilidades de ser eleito. "O pluripartidarismo não
expressa correntes de opinião, são pequenos ajuntamentos de lideranças
pessoais (...) que se conformam em sobreviver como deputado federal,
vice-governador, não disputam o primeiro turno", aponta.
Denominando a aliança para o primeiro turno como precoce, Rui Martinho
acrescenta que o ideal seria permitir coligações partidárias só no
segundo turno. Dessa forma, quem quisesse participar do pleito teria de
lançar um candidato próprio. "Os partidos não promovem seus próprios
quadros. A gente tem muitos partidos que não são nem serão partidos
nunca", avalia.
O especialista relata que muitas siglas se aproximam das gestões
públicas porque têm que prestar contas com as lideranças do Interior,
que têm papel fundamental como cabos eleitorais de parlamentares.
"Existe uma preocupação muito grande em ser governo. Os partidos não
querem ser oposição por questão fisiológica ou porque deputados são
despachantes de interesses dos municípios", justifica.
Para Martinho, o eleitor cearense está sem muitas opções não por terem
apenas quatro projetos a escolher, mas porque eles não apresentam
diversidade de propostas. "A unanimidade dessa visão é tão forte que o
argumento virou pessoal. Qual a diferença programática entre Camilo
Santana, Eunício Oliveira e quem quer que seja?", questiona. "O critério
de escolha não é nem a probidade administrativa e sim a fidelidade aos
patronos, aos donos dos partidos".
Convicções
O professor universitário ressalta que uma minoria de partidos
apresenta discursos mais diferenciados, mas muitos deles soam inviáveis
para o eleitorado. "O que faz falta é programa de Governo. As convicções
ideológicas têm dificuldade de conhecer a realidade. Quem se afasta da
realidade não governa bem e tende a uma certa ingovernabilidade, porque
convicção não se negocia", expõe.
A professora Cristina Nobre, doutora em Sociologia do curso de Serviço
Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece), diz acreditar que os
holofotes estarão focados nos nomes de Camilo Santana e Eunício
Oliveira, embora os candidatos não apresentem diferenças significativas
nos projetos apresentados.
A docente relata que, em âmbito nacional, as diferenças entre propostas
governamentais são mais palpáveis do que no cenário cearense. "No caso
do Aécio e da Dilma, vai ter uma polarização, mas não é dos anos 90,
quando o PT tinha visão radical da política e o PSDB trazia um projeto
neoliberal para as políticas públicas", compara Cristina. "O PSOL pode
se sobressair, mas sem aliados e sem condições de propagar isso pelo
tempo de campanha", acrescenta, em relação ao caso do Ceará.
De acordo com a pesquisadora, esse cenário de poucos candidatos e
escassas opções é desenhado pela fragilidade ideológica das legendas.
"Para os partidos pequenos, que não têm apontado para a construção de um
projeto, interessa circundar os dois grandes projetos que têm condições
de chegar ao poder". E completa: "alguns demoraram a se definir, isso é
uma demonstração da fragilidade do sistema partidário, que tem partidos
nanicos sem projeto próprio".
Lorena Alves
Repórter
Repórter

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