Desde a noite de sábado não se tem informações de Gabriely Crescelino
de Menezes Costa, de apenas cinco meses. Teria sido raptada na praça
pública do Conjunto Polar, na Barra do Ceará. A criança estava com a
mãe, Aretha Crescelino, e o irmão Gabriel, de dois anos. Embora o
terceiro dia desde o desaparecimento, somente nesta segunda-feira terá
início a investigação, porque não existe plantão de fim de semana na
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa).
Como muitas outras mães, Aretha juntou alguns trocados no fim de semana
e levou os meninos para brincarem na praça. Gabriel queria pular no
brinquedo. Gabriely só observa no colo da mãe.
"Quando ele saiu do pula-pula, coloquei minha filha no carrinho e me
virei pra colocar as sandálias do Gabriel. Foi uma questão de segundos.
Quando me virei, ela já não estava mais. Só a bolsa e o carrinho",
descreve a mãe Aretha, de 17 anos.
Gabriely vestia uma jardineira jeans, blusa vermelha, sandália roxa e
uma tiara vermelha na cabeça. Com exceção das sopas noturnas, só mama.
Suspeita
Próximo das crianças, Aretha disse ter observado a presença de uma
mulher branca, alta, magra, com vestido preto, longo até os pés, e o
cabelo preto amarrado e envolvido na nuca. "A minha reação foi só
colocar meu filho no colo e sair correndo pela praça, atrás de minha
filha. Essa mulher também não estava mais por perto, só pode ter sido
ela. Foi tão rápido que só pode ter saído de carro, porque a pé não
foi", supõe a mãe da criança. Na praça, foi questionada por outras mães
por não ter gritado no mesmo instante do desaparecimento. Do retorno
dramático até casa, com o filho de dois anos no colo e empurrando um
carrinho de bebê vazio, a noite de Aretha termina na Delegacia da
Criança e do Adolescente (DCA) e abre um Boletim de Ocorrência. Era o
lugar errado (a unidade é destinada para crimes em que o menor é
infrator), mas o único possível porque a Delegacia de Combate à
Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa), para o caso em que o
menor é vítima, não tem plantão nos fins de semana. "Nem mesmo neste
período da Copa", observa Stefânio de Melo Silva, Conselheiro Tutelar
que acompanha as buscas feitas pela família e amigos.
Cartazes com a foto de Gabriely foram espalhados pelas ruas do Conjunto
Polar e na Vila Velha 2, onde mora a vítima. Também foram colocados no
Aeroporto Internacional Pinto Martins e no Terminal Rodoviário
Engenheiro João Tomé.
Fernanda, tia da criança, passou a tarde de ontem tentando divulgar o
cartaz na Fan Fest, evento festivo da Copa do Mundo na Praia de Iracema.
Não conseguiu contatar possíveis agentes do Dececa, ou alguém que
conseguisse publicar a foto da menina no telão em que os jogos são
exibidos.
Na manhã e na tarde de ontem, duas diferentes equipes da Polícia
Militar estiveram na casa da criança desaparecida, buscando informações.
Mas a primeira equipe que esteve no local também colheu imagens
gravadas por câmeras de estabelecimentos próximos à Praça Polar, onde a
criança desapareceu. Essas imagens devem ser entregues hoje na Dececa.
Aumento de 27% nos casos registrados na Capital
Entre 2012 e 2013, aumentou 27% o número de crianças e adolescentes
desaparecidos em Fortaleza, conforme levantamento da Secretaria dos
Direitos Humanos da Presidência da República em parceria com a
Associação dos Conselheiros Tutelares do Estado do Ceará (Acontece).
Essa realidade, concentrada em Fortaleza, é também acompanhada pelo
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e a
própria Delegacia de Combate à Exploração Sexual da Criança e do
Adolescente (Dececa). Na maioria dos casos, cerca de 90%, as vítimas são
encontradas. A situação é mais difícil quando se trata de bebês, mais
suscetíveis ao tráfico internacional de pessoas.
Aretha Crescelino, mãe da bebê Gabriely, de cinco meses de vida,
disponibilizou números de celular de contato, mas tem sofrido com os
trotes. Na manhã de ontem, em três deles, ouviu-se apenas o riso de uma
criança e o ruído de uma televisão ligada. "Não dá pra saber se é alguém
com ela, parece que estão brincando com a esperança da gente", afirma a
mãe aflita.
Precariedade
"A situação da Dececa é desoladora. Qualquer crime cometido contra
criança ou adolescente no Estado do Ceará só será diligenciado de
segunda a sexta, porque não funciona no fim de semana", afirma o
advogado Rafael Barreto, assessor jurídico do Centro de Defesa da
Criança e do Adolescente (Cedeca).
Apesar da sigla parecida, a entidade atua na política de direitos das
crianças, inclusive quanto a violações ou mesmo omissões dos órgãos
oficiais de defesa. Rafael Barreto lembra que a delegacia especializada
já contou com quatro delegadas, sendo duas titulares. Hoje, existe
apenas a titular e a substituta.
Melquíades Júnior
Repórter
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