quarta-feira, 2 de abril de 2014

Irmão de Zico, Nando foi o primeiro jogador de futebol anistiado no Brasil


Primeiro jogador considerado preso político no Brasil, Nando foi homenageado pelo Ceará, clube que defendeu em 1968 Foto: reprodução/Facebook
Primeiro jogador considerado preso político no Brasil, Nando foi homenageado pelo Ceará, clube que defendeu em 1968 Foto: reprodução/Facebook
A ditadura militar, instaurada no Brasil em 1º de abril de 1964, há exatos 50 anos, perseguiu muitas pessoas: políticos, intelectuais, artistas e até mesmo jogadores de futebol. Um deles, Fernando Antunes Coimbra, o Nando, foi o primeiro a ser anistiado no futebol brasileiro.
Irmão menos famoso de Zico, ídolo eterno do Flamengo e da Seleção Brasileira, e de Edu, craque do América-RN nos anos 1960, o meia-atacante que defendeu o Ceará em 1968 sentiu na pele a brutalidade do regime que comandou o país durante 21 anos.
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Perseguição
Antes de se profissionalizar, Nando foi aluno da Faculdade Nacional de Filosofia, do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), idealizado por Paulo Freire e, por isso, considerado subversivo pelo regime militar.
“Depois do AI 5 (Ato Institucional Número Cinco), nós perdemos todos os direitos. Como sabíamos que tínhamos sido considerados subversivos, ficou todo mundo preocupado”, relembra o ex-jogador. Além de Nando, quase todos os formandos de filosofia foi perseguidos e presos pelos militares.
A ditadura o atrapalha em Portugal
Revelado pelo Fluminense, Nando passou por Madureira e América-RJ, antes de chegar ao Ceará em 1968. O bom futebol apresentado no Alvinegro chamou a atenção do Belenenses, de Portugal, que o contratou. “Era uma proposta muito boa, que não dava para o Ceará cobrir”, garante.
Mas a aventura em terras lusitanas durou pouco tempo. Pressionado pela Polícia Internacional de Defesa do Estado, da ditadura de Antônio de Oliveira Salazar, que comandava o país europeu na época, o clube português dispensou o jogador.
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A prisão na volta ao Brasil
De volta ao Brasil, o jogador foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde foi submetido a torturas. “Fiquei três dias, em pé, de cara para a parede. Com a mão na cabeça. Ouvindo os que estavam sendo torturados gritarem terrivelmente”, pontua.
Nando relembra do terror psicológico que sofreu: “Quando ia ser interrogado, eles enfiavam um capuz e você ficava completamente indefeso. Você não sabia onde estava e ouvia as piores humilhações verbais possíveis”.
Apenas em 2010, 42 anos de sua prisão, o ex-jogador foi reconhecido oficialmente pelo governo brasileiro como o primeiro atleta de futebol perseguido político durante os tempos da ditadura, e por isso foi indenizado. No ano seguinte, lançou um livro e foi homenageado pelo Ceará Sporting Club.
Regime atrapalhou a carreira dos irmãos
Devido ao parentesco com Nando, Edu, meia-atacante do América-RJ, artilheiro do Torneio Roberto Gomes Predrosa de 1969, sequer recebeu uma oportunidade para defender a Seleção Brasileira de 1970.
Mais tarde, foi a vez de Zico sofrer as consequências. Autor do gol que classificou o Brasil para a Olimpíada de Munique, em 1972, o ídolo rubro-negro ficou de fora da lista de convocados para os jogos. Nando nunca negou que decidiu parar de jogar para não prejudicar a carreira dos irmãos.
Nando, irmão de Zico, foi o primeiro jogador anistiado no Brasil

Nando, irmão de Zico, foi o primeiro jogador anistiado no Brasil

Nando entre Mirandinha e Pacoti Foto: Ronaldo Déber

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