Primeiro jogador considerado preso político no Brasil, Nando foi homenageado pelo Ceará, clube que defendeu em 1968 Foto: reprodução/Facebook |
A
ditadura militar, instaurada no Brasil em 1º de abril de 1964, há
exatos 50 anos, perseguiu muitas pessoas: políticos, intelectuais,
artistas e até mesmo jogadores de futebol. Um deles, Fernando Antunes Coimbra, o Nando, foi o primeiro a ser anistiado no futebol brasileiro.
Irmão
menos famoso de Zico, ídolo eterno do Flamengo e da Seleção Brasileira,
e de Edu, craque do América-RN nos anos 1960, o meia-atacante que
defendeu o Ceará em 1968 sentiu na pele a brutalidade do regime que
comandou o país durante 21 anos.
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Perseguição
Antes
de se profissionalizar, Nando foi aluno da Faculdade Nacional de
Filosofia, do Plano Nacional de Alfabetização (PNA), idealizado por
Paulo Freire e, por isso, considerado subversivo pelo regime militar.
“Depois do AI 5 (Ato Institucional Número Cinco),
nós perdemos todos os direitos. Como sabíamos que tínhamos sido
considerados subversivos, ficou todo mundo preocupado”, relembra o
ex-jogador. Além de Nando, quase todos os formandos de filosofia foi
perseguidos e presos pelos militares.
A ditadura o atrapalha em Portugal
Revelado
pelo Fluminense, Nando passou por Madureira e América-RJ, antes de
chegar ao Ceará em 1968. O bom futebol apresentado no Alvinegro chamou a
atenção do Belenenses, de Portugal, que o contratou. “Era uma proposta
muito boa, que não dava para o Ceará cobrir”, garante.
Mas
a aventura em terras lusitanas durou pouco tempo. Pressionado pela
Polícia Internacional de Defesa do Estado, da ditadura de Antônio de
Oliveira Salazar, que comandava o país europeu na época, o clube
português dispensou o jogador.
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A prisão na volta ao Brasil
De
volta ao Brasil, o jogador foi preso pelo Departamento de Ordem
Política e Social (Dops), onde foi submetido a torturas. “Fiquei três
dias, em pé, de cara para a parede. Com a mão na cabeça. Ouvindo os que
estavam sendo torturados gritarem terrivelmente”, pontua.
Nando
relembra do terror psicológico que sofreu: “Quando ia ser interrogado,
eles enfiavam um capuz e você ficava completamente indefeso. Você não
sabia onde estava e ouvia as piores humilhações verbais possíveis”.
Apenas
em 2010, 42 anos de sua prisão, o ex-jogador foi reconhecido
oficialmente pelo governo brasileiro como o primeiro atleta de futebol
perseguido político durante os tempos da ditadura, e por isso foi
indenizado. No ano seguinte, lançou um livro e foi homenageado pelo
Ceará Sporting Club.
Regime atrapalhou a carreira dos irmãos
Devido
ao parentesco com Nando, Edu, meia-atacante do América-RJ, artilheiro
do Torneio Roberto Gomes Predrosa de 1969, sequer recebeu uma
oportunidade para defender a Seleção Brasileira de 1970.
Mais
tarde, foi a vez de Zico sofrer as consequências. Autor do gol que
classificou o Brasil para a Olimpíada de Munique, em 1972, o ídolo
rubro-negro ficou de fora da lista de convocados para os jogos. Nando
nunca negou que decidiu parar de jogar para não prejudicar a carreira
dos irmãos.
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