terça-feira, 8 de abril de 2014

Inspiração no passado


Fac-símile: Matéria publicada em 22 de maio de 2005, em série especial do caderno Jogada, trazia um olhar do ponta Nado, atleta do Náutico na decisão de 1964
 

Um exemplo dentro de sua própria história pode servir de inspiração para o Ceará em busca do título da Copa do Nordeste, amanhã. A partida decisiva é contra o Sport, no Castelão. Há 50 anos, o Alvinegro escrevia mais um capitulo de superação em seus cem anos de história, batendo outro time pernambucano, o Náutico, na final do zonal do Nordeste - para muitos, equivalente à competição regional da atualidade - da Taça Brasil de 1964.
Na ocasião, o Vovô precisou superar a derrota no primeiro jogo em Recife para sagrar-se campeão, roteiro parecido com o que deverá seguir ante o Leão pernambucano - foi derrotado por 2 a 0 na última quarta-feira.
Em 1964, Ceará e Náutico decidiam quem seria o representante do Nordeste na fase final da Taça Brasil, o Brasileirão da época. Os pernambucanos do Náutico eram chamados de "Intocáveis", por conta do domínio que exerciam no futebol local. Estavam invictos há cerca de um ano. O time de Bita, Lala, Elói e Nado goleou o Ceará por 3 a 0 na primeira partida nos Aflitos, no dia 29 de setembro - gols de Ivan Brondi e Geraldo José (dois) -, e jogavam pelo empate sete dias depois, em partida no PV.

Grande feito
Mas o Ceará tinha uma equipe forte, com jogadores como Aloísio Linhares, Mauro Calixto, Carlito, Alexandre Nepomuceno e Gildo, e não se deu por vencido: com o PV lotado, deu o troco no Timbu. O Ceará venceu a partida por 1 a 0 - quebrando a invencibilidade alvirrubra que durava um ano - gol de Gildo, forçando a partida de volta no mesmo PV, dois dias depois.
O ex-zagueiro Alexandre Nepomuceno, titular do Vovô naquela partida, em entrevista por telefone direto de Belém (PA), lembrou que o Náutico tinha uma equipe de sucesso na época, mas o Ceará tinha seu valor. "Vencemos porque também tínhamos um time forte. Uma equipe com Aloísio Linhares, Calixto, Gildo e eu, tinha suas qualidades, como mostramos".
Na partida de volta, dois dias depois, o Vovô golearia os "Intocáveis" por 4 a 0, gols de Carlito (dois), Dedé e Zé Geraldo, garantindo a conquista em casa.
Nepomuceno lembrou que, na terceira partida, os pernambucanos já não tinham a mesma confiança que apresentavam no encontro anterior, no PV. "Eles poderiam achar que eram campeões, que já estava tudo ganho depois do primeiro jogo, quando fizeram 3 a 0. No jogo seguinte, no PV, poderiam achar que venceriam também. Mas não no terceiro jogo. Afinal, havíamos vencido por 1 a 0 e fomos campeões os goleando por 4 a 0".
Para o zagueiro, um dos méritos daquela equipe do Ceará foi acreditar que seria possível bater o Náutico, esquecendo um complexo de inferioridade do futebol cearense em relação a outros estados do Nordeste.
"Foi uma conquista memorável, que ficou na história do Ceará. A lembrança é das melhores possíveis, com uma conquista regional em cima do Náutico. O futebol cearense sempre esteve à sombra dos times baianos e pernambucanos, que lideravam a região. Por isso foi muito importante aquela conquista. A diferença naquele confronto foi o nosso time saber que poderia vencer, que podia ser superior".
Por ter vivenciado uma experiência como a descrita, Nepomuceno acredita em uma virada alvinegra em 2014. Para ele, o Alvinegro pode sim ser campeão amanhã, em cima do Sport, obtendo a vitória por três gols de diferença.
"Em 1964, tínhamos um grande time. Neste ano também temos. A equipe do Ceará é forte, bem treinada e pode reverter o resultado. Eu acredito que o Ceará consiga. Assim como neste ano, perdemos a primeira partida em 64 e conseguimos reverter. Acredito que possa acontecer de novo".
Tremeram?
Em matéria intitulada 'Nado; os intocáveis tremeram no PV', publicada no Diário de Nordeste no dia 22 de maio de 2005, o atleta que atuou no Náutico e na Seleção Brasileira naquela época descreveu com minúcias o que o time pernambucano encontrou na partida do PV.
"Chegamos a Fortaleza e encontramos um clima de guerra. O menosprezo aos cearenses ocorreu, na verdade, por parte da imprensa de Pernambuco, e não de nós, atletas. O certo é que entramos no PV e muitos companheiros tremeram na base", declarou, à época, o jogador Nado, lembrando que um jornal pernambucano pôs uma foto do time do Ceará de costas e o chamou de "campeão de Bozó", após a vitória do Náutico na primeira partida por 3 a 0.
Trinta mil ingressos já vendidos para a final
A torcida do Ceará já adquiriu antecipadamente 30.300 ingressos para a finalíssima da Copa do Nordeste, amanhã, às 22 horas, contra o Sport, no Castelão.
A procura por ingressos foi intensa por todo o dia de ontem, com a torcida alvinegra lotando os pontos de venda pela cidade, empolgada com a vitória ante o Guarany de Sobral, de virada (3 a 2), fora de casa, pela 1ª semifinal do Campeonato Cearense.
A diretoria do clube espera que o Castelão esteja lotado para a partida de amanhã, com o torcedor empurrando o time para a reversão do resultado do jogo de ida - favorável ao adversário pernambucano: 2 a 0.
"Se nosso primeiro gol sair, teremos uma torcida que vai colocar a segunda bola dentro do gol. Será uma pressão enorme em cima do adversário, com os torcedores e o time jogando juntos. A torcida está lotando os pontos de venda e esperamos ver a lotação do Castelão", disse o vice-presidente do clube, Robinson de Castro.
Os jogadores também ressaltaram a importância do fator casa para a decisão de amanhã.
"O torcedor está mostrando que confia no nosso time, que acredita no título, que reverteremos a vantagem do Sport. Com o apoio da massa alvinegra, nosso time fica ainda mais forte", lembra o lateral-direito Samuel.
SAIBA MAIS
Fase final
Depois de vencer o zonal do Nordeste contra o Náutico, o Ceará disputou a fase final da Taça Brasil e foi semifinalista. O Vovô parou no Flamengo, que faria a decisão com o Santos de Pelé. A equipe santista conquistaria seu tetracampeonato
Outro regional
Outro triunfo regional do Ceará ocorreu em 1969, e também com uma virada memorável. O Vovô foi campeão do Norte-Nordeste ao bater o Remo de forma dramática. No primeiro jogo, perdeu por 2 a 1. Na volta, no PV, o Alvinegro perdia por um gol até a metade da etapa final, quando Magela, Zezinho, e Gildo (aos 45 do 2º tempo) viraram o jogo, forçando a terceira partida. Moralmente destruído, o Remo foi presa fácil no 3º jogo, no PV: 3 a 0
Vladimir Marques
Repórter

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