Se depender do pleito encaminhado pela Companhia Energética do Ceará
(Coelce) à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a conta de luz
do cearense poderá sofrer, neste ano, um aumento bem superior ao
esperado pelo mercado. Segundo disponibilizado pela Aneel em sua página
na internet, a distribuidora cearense solicitou um índice de reajuste
tarifário de 13,83% sobre os preços por ela praticado. Enquanto isso, em
seu último relatório de inflação, divulgado no fim do mês passado, o
Banco Central (BC) apontava para uma expectativa de reajuste médio nas
tarifas de energia no País de 9,5%. Dessa forma, o índice pedido pela
Coelce está a mais de quatro pontos percentuais acima da estimativa da
autoridade monetária.
Se aprovado, o aumento sobre os valores praticados pela distribuidora
passará a vigorar a partir do próximo dia 22 de abril. Porém, o reajuste
final só será conhecido na terça-feira da semana que vem, dia 15,
quando a diretoria da Aneel vota o pleito da Coelce em sua reunião
pública ordinária.
Entretanto, conforme fontes ligadas ao mercado, o índice proposto pelas
distribuidoras de energia não são determinantes para o reajuste
autorizado pela Agência. Apenas subsidiam a tomada de decisão, visto que
esta é baseada na avaliação de sua área de Regulação Econômica, que
fiscaliza as concessionárias e acompanha os desempenhos.
Acima da inflação
O pleito solicitado pela Coelce chama a atenção ainda quando comparado
com a inflação acumulada nos últimos 12 meses, medida pelo Índice Geral
de Preços Mercado (IGP-M), indicador utilizado pelo setor para corrigir
preços. De acordo com a proposta de reajuste tarifário apresentado pela
companhia, o IGP-M considerado para os cálculos foi de 5,97%, portanto,
bem inferior aos 13,83% sugeridos pela concessionária de energia.
A observação gerou, assim, críticas por parte do mercado, a exemplo do
presidente do Conselho de Consumidores da Coelce, Erildo Pontes, para
quem o reajuste solicitado superou suas expectativas. "O índice de
reajuste pedido pela Coelce é alto. Se o IGP-M nos 12 meses que
antecedem o aumento foi de 5,97%, o que a Coelce está pedindo representa
quase oito pontos percentuais a mais, o que não se justifica", explica.
Outro fator que poderia contribuir para um reajuste menor neste ano,
lembra Pontes, é o saldo de R$ 300 milhões a favor do consumidor,
referente à última revisão tarifária, em 2012, aplicada somente em 2013,
e que ficou para ser compensado no reajuste de 2014. "Portanto,
tínhamos a expectativa de que o pleito da Coelce fosse inferior, mesmo
com mais uso das térmicas, como agora", argumenta.
Reajustes já autorizados
Ontem, a Aneel aprovou o índice final da terceira revisão tarifária
periódica da distribuidora Ampla, do mesmo controlador da Coelce, que
fornece energia a 2,5 milhões de unidades consumidoras em 66 municípios
do Rio de Janeiro. Com a revisão, os consumidores residenciais terão
redução de 0,74% nas tarifas, e as indústrias terão aumento de 8,11%. Os
índices são retroativos a 15 de março. Ao mesmo tempo, a Agência também
aprovou ainda a revisão anual das tarifas da distribuidora Cemig-D
(aumento de 14,24% para as residências e 12,41% para as indústrias) e os
reajuste da CPFL Paulista (16,46% e 16,1%, respectivamente) e para a
Cemat (11,16% e 13,42%, por sua vez).
Mecanismos de aumento
O reajuste anual é um dos três mecanismos de atualização das tarifas
previstos nos contratos assinados entre as distribuidoras de energia e a
União, com objetivo de manter o equilíbrio econômico-financeiro da
concessão dos serviço. Os outros dois são a revisão tarifária periódica e
a revisão extraordinária.
A periódica acontece a cada quatro anos e se diferencia do reajuste
anual por ser mais ampla e levar em conta todos os custos, investimentos
e receitas para fixar um novo patamar de tarifa, mais adequado à
estrutura da empresa e ao seu mercado.
Já a revisão extraordinária destina-se, especificamente, a atender
casos muito especiais de desequilíbrio econômico justificado, podendo
ocorrer a qualquer tempo.
O QUE ELES PENSAM
Aumento inoportuno e fora da realidade
Aumento inoportuno e fora da realidade
O que a Coelce está pedindo é abusivo e não condiz com os números da
economia apresentados. A inflação do período está na casa dos 6%. Então,
um reajuste de quase 13% é mais do que o dobro da inflação. A gente
entende que o setor elétrico está carente de mais investimentos, mas o
consumidor e o setor produtivo, sobretudo, não podem ser apenado dessa
forma.
Cid Alves
Presidente do Sindilojas
Presidente do Sindilojas
Se o índice pleiteado pela Coelce for aprovado pela Aneel, isto
significará um aumento inoportuno. A indústria em geral será
prejudicada. Um reajuste nessa proporção afetará a competitividade dos
produtos brasileiros tanto lá fora como aqui, pois dará mais chances
para que entrem itens importados bem mais baratos. E, infelizmente, nós
teremos que repassar o reajuste para o consumidor.
Fernando Castelo Branco
Presidente do Conselho de Economia da Fiec
Presidente do Conselho de Economia da Fiec
Aneel reduz valor de encargo ao consumidor
Brasília/Fortaleza A Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) reduziu ontem o valor que as distribuidoras de energia
terão que pagar para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) neste
ano. Em decisão anterior, a cota da CDE havia sido calculada em R$ 5,6
bilhões, mas a agência refez os cálculos, incluindo novos aportes
anunciados pelo governo, e o valor acabou caindo para R$ 1,66 bilhão.
O valor, que é parte das receitas da CDE, será dividido entre as
empresas na proporção de seus mercados e consequentemente terá reflexo
nos reajustes anuais das distribuidoras. As cotas da CDE que devem ser
pagas pelas distribuidoras é resultado da diferença entre o total de
despesas e as receitas da conta. Para 2014, a estimativa de despesas da
CDE é R$ 18,07 bilhões.
A redução das cotas da CDE foi possível porque o governo anunciou, no
mês passado, um aporte extra, para cobrir os gastos das distribuidoras
com a compra de energia no mercado livre e com o uso maior de energia de
termelétricas, que é mais cara. Dos R$ 4 bilhões anunciados, R$ 2,8
bilhões irão para a CDE. Além disso, também entraram na receita da CDE
R$ 1,175 bilhão de parcelamentos de dívidas de agentes inadimplentes.
Hidrelétricas
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicou ontem uma ligeira
melhora na situação dos reservatórios hidrelétricos do Nordeste, tendo
em vista que as estimativas apontaram para uma evolução de 42,8% para
43,4% no fim de abril. Para o Norte, a projeção permaneceu no mesmo
patamar, de 91%.
Com a previsão de menos chuvas no Sul, o ONS revisou para baixo a
estimativa de estoque nos reservatórios das usinas da região no fim do
mês, passando de 43,6%, para 40,3%. O mesmo aconteceu com o subsistema
Sudeste/Centro-Oeste, o principal do país, já que a estimativa de
estoque dos lagos das usinas das duas regiões caiu de 40,6% para 36,6%,
revelou o ONS. A queda foi motivada principalmente pela redução da
expectativa de chuvas para abril.
Anchieta Dantas Jr.
Repórter
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