Zagueiro da Seleção em 1958 imortalizou o gesto de levantar a taça |
Capitão do Brasil na Copa de 1958, quando a Seleção conquistou o
primeiro dos seus cinco títulos mundiais no futebol, Bellini morreu
nesta quinta-feira, aos 83 anos, após lutar por dez anos contra o Mal de
Alzheimer com a mesma bravura com que apresentou nos 21 anos em que
esteve nos campos de futebol. Ele estava internado no Hospital Nove de
Julho, em São Paulo, desde a última quarta.
Na nublada tarde de 29 de junho de 1958, em Estocolmo, Hideraldo Luiz
Bellini, capitão da Seleção, eternizou o gesto de erguer a taça, após a
conquista do primeiro título mundial do Brasil. A pequena Jules Rimet de
apenas 30 centímetros de altura e quatro quilos de peso foi levantada
sobre a cabeça com a determinação de um dos jogadores mais raçudos da
história do futebol brasileiro.
Naquele momento histórico veio a cabeça do defensor uma série de
coisas, como a Copa de 1938, perdida pelos geniais como Domingos da Guia
e Leônidas da Silva, a infância vivida na pequena Itapira, a derrota
doída no Maracanã na final da Copa de 1950, diante do Uruguai, o técnico
Flávio Costa, que o incentivou a jogar sempre sério, e os 60 milhões de
brasileiros que exigiram muita força daquele raçudo zagueiro.
Seu estilo rude e eficiente foi incentivado nos times nos quais atuou -
Vasco, São Paulo e Atlético-PR. "Jogar bem, você não sabe. Trate de
despachar a bola e deixe que seus companheiros façam as jogadas", disse
Flávio Costa, técnico vascaíno em 1952. "Quando o senhor resolver
escalar este rapaz, por favor, me avise para que eu não vá a campo",
cansou de dizer Ciro Aranha, que assumira a presidência do clube de São
Januário. "Então é melhor o senhor ficar em casa no domingo", rebateu
Flávio Costa, ao se recusar a colocá-lo no banco de reservas de uma
equipe supercampeã, base da Seleção brasileira, e que reunia lendas como
Barbosa, Danilo e Ademir de Menezes.
Líder nato, foi escolhido de forma unânime pelo elenco como o capitão
do fantástico time de 1958, superando um mestre como Nilton Santos, o
estilista Didi e uma brilhante promessa como Pelé. "Levanta e vamos
jogar", disse Bellini a Mazzola, que sofria com fortes cãibras no jogo
contra a Áustria. Nem o companheiro de zaga, Orlando Peçanha, de estilo
clássico, era poupado de críticas, ao se exibir e tocar de letra dentro
da área. "Para com isso, moleque!", dizia.
Em 1964, pelo São Paulo, não concordou com o toque de bola excessivo
dos companheiros, que "humilhavam" o adversário. Acabou com a festa dos
companheiros dando um bico para as arquibancadas. Nem mesmo quando
atuava pelo Milionários, equipe que reunia veteranos célebres na
Colômbia, Bellini deixou de lado a seriedade em campo. Brigou com
Dorval, ex-ponta direita do eterno Santos de Pelé, por ele ter dado uns
golinhos antes de um amistoso.
Em 1990, passou a ensinar sua determinação para 200 garotos de 10 a 16
anos, em uma escolinha de futebol da Prefeitura de São Paulo no bairro
do Ibirapuera. "É bom trabalhar com a criançada", disse, feliz da vida. O
zagueiro campeão do mundo de 1958 foi o décimo primeiro de 12 filhos do
carroceiro imigrante italiano Hermínio Bellini e também se sagrou
campeão mundial em 1962, na Copa realizada no Chile.
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