Vera Rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
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Márcio Fernandes/Estadão |
Brasília - Em duas reuniões nesta segunda-feira, 10, no
Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff ofereceu um pacote de
apoios do PT ao PMDB em seis Estados nas eleições de outubro, associou a
ampliação do espaço dos aliados no primeiro escalão do governo aos
acertos regionais da pré-campanha e cobrou de seu vice, o peemedebista
Michel Temer, uma solução para o impasse com a ala rebelde do partido na
Câmara dos Deputados.
Presidente teria dito que PMDB não é problema do governo
"Você tem que resolver esse problema da Câmara, Temer!", disse ela ao
vice, segundo relatos de participantes de uma das reuniões. "Isso não é
problema do governo", completou a petista.
Para Dilma, o líder da bancada do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ),
pôs a "faca no pescoço" do governo ao sugerir o rompimento da aliança. A
presidente, porém, minimizou as ameaças de Cunha: "Isso é blefe".
Segundo os relatos de quem esteve a portas fechadas com a presidente,
ela sinalizou apoio petista a candidatos peemedebistas no Maranhão, no
Pará, em Sergipe, em Alagoas, no Tocantins e na Paraíba. A proposta foi
vista com certo ceticismo pelos aliados da presidente.
Ao falar de reforma ministerial, Dilma comentou, segundo os
presentes, que o PMDB só ganhará o sexto ministério, como reivindica, se
abandonar a disputa no Ceará contra o governador Cid Gomes (PROS), seu
aliado.
Dilma ofereceu pela segunda vez o Ministério da Integração Nacional
para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), desde que ele
desistisse de concorrer ao governo do Ceará. Eunício recusou. O plano do
governo era tirar do páreo Eunício - líder nas pesquisas - para
favorecer o candidato de Cid Gomes, em dobradinha com o PT.
Ainda pela proposta do Planalto, o Ministério do Turismo iria para o
senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Atualmente, o PMDB controla cinco
ministérios (Minas e Energia, Previdência, Turismo, Agricultura e
Aviação Civil), mas acha que está "sub representado" e quer aumentar seu
espaço no primeiro escalão.
Dilma disse aos presentes nas reuniões que fazia ali a última oferta
para a reforma ministerial e que, se o partido aliado não aceitasse,
ficaria sem os cargos.
"Vital me telefonou e disse que não aceitará o cargo, em respeito à
Câmara", afirmou Eduardo Cunha. Os ministérios do Turismo e da
Agricultura são da "cota" do PMDB na Câmara, mas Dilma quer isolar
Cunha. Ele não foi chamado para as reuniões de ontem, que contaram com a
participação dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN); do
Senado, Renan Calheiros (AL); do PMDB, Valdir Raupp (RO), além de
Temer, Eunício e do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM).
‘Fígado’. A bancada do PMDB na Câmara vai se reunir
hoje à tarde e deve aprovar uma moção de apoio a Cunha, num sinal de que
pretende mesmo comprar briga contra o governo.
"Esse é um processo que todos sabem como começa e ninguém sabe como
termina", afirmou o líder do PMDB na Câmara. "Politicamente, não é bom
agir com o fígado", completou.
Embora a bancada não tenha poder para decidir pela antecipação da
convenção do PMDB que avaliará o apoio ou não à reeleição de Dilma, o
gesto prometido para hoje tem o significado político da demonstração de
força. Enquete realizada na semana passada pelo Estado mostra que um
terço dos 75 deputados do PMDB está disposto a romper com o governo.
"Eu fui agredido pelo presidente do PT, Rui Falcão, reagi e agora
querem me demonizar. Como o governo vai me isolar se minha posição não é
pessoal?", questionou Cunha.
A troca de acusações entre dirigentes dos dois principais partidos da
aliança governista começou no carnaval, quando o presidente do PT disse
que o líder do PMDB estava insatisfeito porque tinha muito interesse
por cargos. Em resposta, Cunha afirmou em sua página no Twitter que o
PMDB precisava "repensar a aliança" com Dilma, frase que foi entendida
como pregação de rompimento.
"Não podemos dinamitar as pontes. Se tiver alguma dinamitada, vamos
reconstruir para permitir a travessia", disse Valdir Raupp, presidente
do PMDB.
Perguntado se o partido havia saído satisfeito do encontro com Dilma,
ele ficou calado. Depois, foi enfático: "A aliança nacional está salva,
a princípio".
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