Um grupo norte-americano de cientistas detectou sinais
que remontam à primeira fração de segundo do Universo, indicando que ele
de fato passou por uma expansão explosiva em seus momentos iniciais.
O anúncio literalmente bombástico confirma uma das hipóteses mais
tradicionais para explicar como o Universo pode ter a configuração que
tem hoje, sem que a gravidade o consumisse logo após o seu surgimento.
É o que os cosmólogos chamam de “inflação cósmica”. Ela presume que,
numa fração de segundo após o Big Bang, o cosmos teria se expandido
violentamente –numa velocidade que deve ter sido maior que a da luz.
Depois dessa grande estilingada primordial, o espaço teria tido uma
expansão num ritmo mais modesto, evidenciado pelo fato de que as
galáxias parecem estar todas se afastando umas das outras.
A inflação é uma ideia lançada pelo físico Alan Guth em 1981, na
Universidade Stanford, na Califórnia. Era uma solução para viabilizar a
compreensão do Universo atual a partir do Big Bang.
O resultado obtido pelo experimento, chamado Bicep2, consiste no
exame de um “eco” luminoso gerado pelo Big Bang, a chamada radiação
cósmica de fundo.
Nos primeiros 380 mil anos, o cosmos era denso demais para que as partículas de luz conseguissem transitar desimpedidas.
Com a expansão, uma hora a luz finalmente começou a transitar sem esbarrar em nada e formou a radiação cósmica de fundo
Tsunami cósmico
O que se descobriu agora são padrões específicos que as partículas de
luz adquiriram ao interagir com a brutal força gravitacional envolvidas
no processo da inflação.
É como se o súbito inchaço cósmico, numa fração de segundo após o Big
Bang, gerasse tsunamis no próprio tecido do espaço, que por sua vez
torceriam a polaridade das partículas da radiação cósmica de fundo. São
as chamadas ondas gravitacionais, previstas por Einstein.
Ao enxergar esses padrões, a equipe de John Kovac, do Centro
Harvard-Smithsonian para Astrofísica, identificou os efeitos
gravitacionais da inflação. As observações que permitiram a descoberta
foram feitas pelo telescópio do Bicep2, na Antártida, onde a
visibilidade é excepcional.
“O polo Sul é o mais próximo que você pode chegar do espaço e ainda
estar no chão”, disse Kovac hoje. Uma das surpresas do achado é que ele
não foi feito antes pelo satélite europeu Planck, projetado para estudar
a radiação cósmica. “Trata-se de uma descoberta tão importante que
exige cautela”, afirma Odylio Aguiar, físico da USP não envolvido no
experimento. “A gente tem que esperar a equipe do Planck se manifestar.”
Uma vez confirmado, o resultado pode revolucionar a compreensão do
Universo. Um aspecto importante dos novos dados observacionais é que
eles têm uma ligação tão grande com a gravidade quanto com as forças da
física quântica, que são teoricamente incompatíveis.
Seja o que for que o futuro reserva aos físicos, é fato que nunca a
ciência chegou tão perto do momento em que o Universo como o conhecemos
nasceu. Tão próximos quanto o primeiro segundo.
Com informações: Folhapress
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