segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Qual o impacto das mudanças climáticas na saúde do planeta ?

Estudo do Ipea aponta que, no Ceará, no período de 2010 a 2039, haverá um aumento anual médio na taxa de mortalidade de 0,9%

Em nome do progresso, a intervenção humana na natureza está comprometendo gradativa e irreversivelmente a qualidade de vida da humanidade. Projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que, até o fim do século, a temperatura média no Brasil poderá elevar-se entre 1,3ºC e 3,8ºC. O maior aumento está previsto para a Amazônia, com variações que podem alcançar 8ºC. Nas regiões Norte e Nordeste, os estudos indicam redução de até 20% no volume de chuvas. As simulações sugerem que as mudanças climáticas podem afetar as taxas de mortalidade no Brasil. Os impactos são bastante diferenciados, segundo a faixa etária e a região geográfica.

Eventos severos, como secas extensas, serão mais frequentes nos próximos anos. Foto: Kid Júnior

No Nordeste, o Ceará será o terceiro estado mais afetado, com aumento anual médio na taxa de mortalidade de 0,9% no período de 2010- 2039 (em relação à taxa anual média do período de 1980-2002). Maranhão e Piauí apresentam taxa de mortalidade de 2,7% e 1,6%, respectivamente. O estudo afirma que o Brasil possui um alto grau de vulnerabilidade aos impactos das mudanças climáticas sobre a saúde, em decorrência das suas características geográficas, território de tamanho continental, perfil climático, grande população e seus problemas estruturais e sociais. Outros fatores que contribuem para modelar a vulnerabilidade do País são a persistência de doenças infecciosas endêmicas sensíveis a mudanças no clima, como a malária, dengue e leptospirose.

O Nordeste é a região mais vulnerável a impactos de mudanças climáticas sobre doenças infecciosas tropicais, conclui o estudo. Enquanto as regiões Sul e Sudeste, devido ao maior nível de desenvolvimento socioeconômico, possuem menor grau de vulnerabilidade aos efeitos do clima na saúde. Jurandi Frutuoso, secretário-executivo do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) e ex-secretário de Saúde do Ceará diz que as consequências das mudanças climáticas preocupa todo mundo, por ser muito danosa. Ele cita que questões como o degelo dos polos, provocando aumento do nível do mar, e a desertificação, principalmente nos estados do Nordeste, levam a uma mudança nas condições de vida dos seres vivos.

"O aquecimento global leva a uma redução de chuvas e oferta de água, afetando a vida das pessoas. Isso pode colocar em risco também uma série de espécies animais", alerta. A redução do período de chuva, acrescenta Frutuoso, implica em interferência direta na agricultura das regiões afetadas, além de agravar a condição de alimentação das pessoas, principalmente as menos favorecidas. Em relação à saúde, cita o aumento da frequência das doenças relacionadas ao calor.

Observa, ainda, que a mudança do clima é uma responsabilidade de todos, principalmente dos países industrializados, que são os grandes poluidores do mundo. Portanto, compete aos seus governantes a responsabilidade social de reduzir a emissão dos gases de efeito estufa. "O homem e o meio ambiente têm que viver em harmonia para que se possa garantir a sobrevivência do planeta e a sobrevivência humana. A mãe terra é a nossa casa, temos que cuidar dela com mais carinho", reforça Frutuoso.

Mobilização
As mudanças climáticas são um problema real, urgente e uma questão de profunda gravidade, alerta Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e integrante do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. No entanto, chama atenção que quando se fala de mudança climática "é impressionante como a sociedade não se mobiliza". O descaso reflete, inclusive, no fato de que a trajetória de emissões de CO² tem seguido o pior cenário: manter as atividades econômicas fósseis como se nada estivesse acontecendo.

Alguns impactos já são visíveis. Um bastante evidente que comenta é a mudança na proporção, frequência e intensidade de eventos severos. "Chuvas intensas, furacões intensos, tudo isso tem um vínculo físico muito claro com a mudança climática", observa. O professor esclarece que os impactos que se têm hoje atingem a sociedade humana de alguma forma. Contudo, lembra que eles podem ser gerenciáveis mediante soluções tecnológicas e transferência de recursos para proteção das populações de países mais pobres e vulneráveis.

O especialista é taxativo ao afirmar que é preciso haver uma mudança na matriz energética do País. "É inadmissível que tenhamos energia elétrica gerada por queima. Na ordem dos piores: carvão, petróleo e derivados de gás", denuncia. Do ponto de vista da geração de energia, defende a energia eólica, que tem baixíssimo impacto em termos de balanço de carbono, e, principalmente, a energia solar, que garantiria mais justiça social. "O futuro com um clima vários graus mais quentes é algo que a humanidade tem obrigação de evitar a todo custo. Se tem alguém de poucos anos que você ama, é preciso se mobilizar, é preciso encampar essa causa como luta".

Foco é reduzir mortalidade
Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) afirma que há um conjunto de ações e programas implantados e outras em processo de implantação focados em melhorar a atenção à saúde da população e reduzir a mortalidade. Destaca a ampliação da rede de assistência com investimentos nos três níveis de atenção (primária, secundária e terciária) para ampliar e facilitar o acesso aos serviços.

Entre as ações, destacam-se também as de vigilância, com ações permanentes para o controle de diversas doenças, entre elas a dengue. Na atenção primária, afirma que o governo do Estado liberou R$ 26,6 milhões para a construção de 150 Unidades Básicas de Saúde, em 150 municípios. Está liberando R$ 22,4 milhões para aquisição de equipamentos destinados às unidades básicas e aquisição de veículos voltados ao Programa Saúde da Família (PSF) visando melhorar as condições de atendimento às famílias.

Na atenção secundária, diz que, a partir de novembro deste ano, intensificou o investimento na média complexidade para aumentar a capacidade de atendimentos dos 33 hospitais, evitando transferência de pacientes para a Capital e reduzindo a lotação nos hospitais da cidade.

Na atenção terciária, alta complexidade, a Secretaria afirma que os hospitais da rede pública em Fortaleza foram ampliados e reformados para melhorar o atendimento.

LUANA LIMAREPÓRTER

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