terça-feira, 8 de outubro de 2013

Manifestação popular interdita a BR-116

Há quase um ano, moradores já pediram providências ao Dnit para sinalização na via, mas nada foi feito

Russas. Manifestação popular interditou na manhã de ontem três trechos da BR-116, entre os Kms 112 e 250, nas imediações deste município. Populares protestaram contra a falta de segurança na rodovia, e interromperam o fluxo de veículos de 6 às 11h30. Em apenas nove dias, já foram registradas duas mortes por atropelamento na via.

Com queima de pneus, galhos de árvores e restos de construção, os manifestantes fecharam o fluxo de veículos em três trechos da via. Eles reivindicam instalação de sensor de velocidade fotos: Ricardo torres

Ao longo do trajeto foram três interdições que resultaram em um grande engarrafamento de veículos. Os manifestantes estavam revoltados com o grande número de mortes que aconteceram nos últimos anos na rodovia. Contabilizam 30 mortes.A última vítima que perdeu a vida por atropelamento foi Thiago Eder Loureiro, 28 anos, em acidente na última sexta-feira nas proximidades de onde aconteceu a manifestação.

Seus parentes, ainda inconformados, pedem uma solução imediata para que mais vidas não sejam perdidas. Neuza Santos, mãe do jovem, estava bastante emocionada no protesto. "Nada vai trazer a vida do meu filho de volta, mas esta manifestação pode servir para evitar que outros acidentes aconteçam aqui", disse ela, chorando.

Para o líder comunitário Roberto de Sousa Lima, o que falta é vontade do Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) para resolver o problema. Um abaixo-assinado com mais de 700 assinaturas já foi entregue ao supervisor da unidade local, Benedito Torquato de Oliveira, e encaminhado ao superintendente regional José Luiz Vianna Ferreira, solicitando sensor eletrônico para redução de velocidade entre os Kms 162 e 163. Datado de 26 de novembro de 2012, o parecer da unidade local foi totalmente favorável. Porém, passado quase um ano, nada foi feito e o número de acidentes com vítimas que vieram a óbito só aumenta.

No protesto, muitos dos manifestantes tinham algum parente que havia perdido a vida ou sofrido acidente no trecho. O líder comunitário Francisco Valcenilson de Oliveira, levou um cartaz com fotos dos últimos acidentes e pedia uma solução, se dizendo preocupado com seus filhos que todos os dias fazem a travessia da estrada para ir à aula, e que não consegue ficar tranquilo com aquela situação.

Cansados da espera, moradores de vários bairros atingidos e parentes das vítimas estiveram juntas na manifestação em um dos trechos que é considerado mais critico.

As negociações foram dificultadas e desencontradas. Enquanto alguns concordavam com o fim da interdição, outros gritavam que não sairiam tão cedo, enquanto alguém do Dnit não comparecesse ao local para negociar. Ontem foi feriado municipal em Russas, pelo dia da Padroeira Nossa Senhora do Rosário. O escritório local do Dnit estava fechado. Está agendada para hoje uma reunião entre uma comissão dos parentes das vítimas, manifestantes, Polícia Rodoviária Federal e Dnit.

Sem acordo e dispostos a permanecerem no local até as 17h, os manifestantes resolveram interditar o segundo trecho, pois perceberam que os carros estavam desviando suas rotas e tornando sem efeito o protesto. Várias pessoas saíram levando pneus e provocaram mais uma paralisação, aumentando ainda mais o engarrafamento.

Após a negociação intermediada por Francisco José Loureiro, pai da última vítima, e Edmundo da Silva Moreira, policial rodoviário federal, a primeira e a segunda interdição foram encerradas. Porém, no mesmo instante, em outro trecho, populares se reuniram e provocaram nova interdição. Esta teve curta duração, sendo intermediada pelo inspetor-chefe da 3ª Delegacia da PRF, Alisson Mesquita. Ele se comprometeu em mediar o encontro entre os manifestantes e o Dnit, a partir das 8h desta terça-feira, na sede da PRF.

Dor, revolta e preocupação davam o tom do protesto. Choro e gritos se misturavam, mas a pergunta era uma só: "Quantas vítimas mais teremos que ter para que uma solução aconteça?", gritavam os manifestantes que se negavam a deixar o local, temendo que tudo fosse em vão caso eles fossem embora. A resistência era tamanha que, na falta de pneus para queimar, os manifestantes traziam sobras de construção, galhos de árvores e tudo que encontravam pela frente para não deixar o fogo apagar.

Apesar das idas e vindas durante toda a negociação, em nenhum momento foi necessária a utilização da força policial na dispersão dos manifestantes.

Após momentos tensos de negociação, o acordo finalmente aconteceu, e a esperança foi renovada para que, desta vez, algo seja feito. Do contrário, uma nova interdição acontecerá já amanhã, conforme deliberaram os manifestantes. Eles dizem esperar que as autoridades responsáveis pela solução do problema tenham "compreendido o recado" do protesto.

RICARDO TORRES
COLABORADOR

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