Francisco Bezerra reconhece a existência de problemas na sua área, mas afirma que há vitórias a contabilizar
Depois de meses de cobranças, o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, coronel Francisco Bezerra, ocupou ontem a tribuna da Assembleia Legislativa, por quase cinco horas, tempo que teve para falar sobre os feitos de sua gestão, reclamar apoio para o trabalho dos policiais, ouvir críticas sobre a política de segurança do Estado, e responder perguntas dos deputados.
Secretário Francisco Bezerra, da Segurança Pública do Estado, falando da tribuna da Assembleia, ontem, sobre as ações da sua Pasta. Ele ouviu críticas dos deputados de oposição, vaias de uma parte dos que lotavam as galerias do Legislativo, recusou-se a pedir exoneração do cargo e trocou nome de deputada fotos: José Leomar
Ele falou por duas horas e quando foi aberto o espaço para perguntas dos deputados ele questionou alguns dados apresentados, resolveu se dirigir à deputada Fernanda Pessoa (PL) em duas oportunidades como Roberta Pessoa (ela é filha do ex-prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa) e lembrou momentos em que o deputado Antônio Carlos (PT), outro crítico da sua gestão, visitava o seu gabinete na qualidade de líder do Governo Cid Gomes.
Logo que iniciou seu pronunciamento, às 11h25, Bezerra foi vaiado e aplaudido por pessoas que estavam nas galerias. O foco maior nas considerações feitas por ele foi em torno dos mais de 2 milhões de atendimentos feitos através das chamadas ao Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) e das 14.500 armas de fogo apreendidas a partir de 2011.
Ainda de acordo com o secretário, foram apreendidas em 2012, mais de 3 mil pessoas envolvidas com o tráfico e somente esse ano já são quase 2500. Para ele, a maior parte dos crimes na cidade de Fortaleza tem vínculo com o tráfico de drogas. O gestor pediu ainda que a avaliação de sua gestão seja feita com dados sólidos e não com conclusões precipitadas. "Só pedimos Justiça nessa avaliação porque o Sistema de Segurança Pública tem buscado combater toda forma de crime de forma correta. Nós estamos tentando, fazendo e lutando para cumprir esse dever. Que cada um saiba da importância de sua participação nesse processo de melhoria da Segurança Pública do Estado", apontou.
Participação
Logo que Francisco Bezerra começou suas falas, 33 deputados estavam presentes no plenário da Assembleia, enquanto o painel eletrônico sinalizava 37. Esta foi a maior participação de parlamentares na visita de um gestor do Governo do Estado no ciclo de debates iniciado no começo do ano pelo presidente José Albuquerque (PSB). Como os demais gestores do Governo do Estado, em sua explicação, o secretário se limitou a apresentar o que foi feito por ele desde que assumiu a pasta da Segurança.
Dentre as realizações da SSPDS ele ressaltou a reforma da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca), assim como outras delegacias especializadas, além da recente ampliação da chamada Delegacia Eletrônica. Segundo ele, o Ronda do Quarteirão é o maior programa de Polícia Comunitária do Brasil, exemplo a ser seguido por outros estados.
O Ronda de Ações Intensivas e Ostensivas (RAIO), conforme informou, passou de 14 equipes para 32 equipes atualmente, além de estarem em treinamento novos efetivos da Polícia Ostensiva para mais de 50 até outubro deste ano. "Até junho de 2014 teremos mais de 570 policiais em 80 equipes do BPRaio", prometeu o secretário.
Bezerra também reconheceu que a situação atual da violência no Estado é "grave" e "complexa", principalmente no que diz respeito ao aumento de roubos, no entanto, disse ele, ter obtido resultados nessa área. "Neste momento, com o problema que temos, com o número exagerado de presos em nossas prisões, mesmo assim, em 2012, foram efetivados 47 mil procedimentos pela Polícia Civil", ressaltou.
Ele fez ainda alguns comparativos com outras gestões, inclusive, lembrando que em 2006, 26 pessoas foram sequestradas sem qualquer resposta da Polícia enquanto que em 2012 todos os sequestradores foram presos. Em 2013 uma única ação ocorreu e em menos de uma semana, o sistema resgatou a pessoa sequestrada.
Impunidade
O secretário Francisco Bezerra lembrou que em 2012 foram apreendidas cerca de duas toneladas de entorpecentes e no primeiro semestre desse ano já chega a 230 mil toneladas. Foram 23. 600 pessoas presas em 2012 porque cometeram algum delito e neste ano até o último levantamento da SSPDS, 18 mil.
Bezerra lamentou a falta de apoio à atuação da Polícia: "Nos países do mudo desenvolvido os policiais são vistos como membros de defesa da sociedade. Por que é que numa manifestação daquela que defendemos 60 mil pessoas dentro de um estádio, os policiais receberam balas e poucas pessoas se pronunciaram em defesa dos policiais?", questionou ele, lembrando o ocorrido durante o jogo da seleção brasileira na Arena Castelão.
"Por que as 40 pessoas foram colocadas em liberdade? Temos que abrir uma frente contra a impunidade. Façam suas criticas, mas reconheçam também o resultado. Nós temos os nossos direitos humanos. Os resultados merecem ser reconhecidos pela população cearense", disse ele. Segundo informou foram investidos R$ 223 milhões em sua gestão somente na aquisição de viaturas para o policiamento de todo o Estado.
Presentes
Alguns membros da cúpula da Segurança Pública acompanharam o secretário de Segurança em suas explicações na Assembleia, dentre eles o superintendente da Polícia Civil, Luis Carlos Dantas; o comandante-geral da Polícia Militas, Werisleik Pontes Matias; e o secretário-executivo, Aloísio Carvalho.
No fim do debate entre deputados e o secretário de Segurança, somente 15 deputados estavam presentes em plenário, ainda que o painel eletrônico registrasse 42. Logo que terminou seu pronunciamento, o gestor responde a perguntas sobre a existência de milícias na Segurança Pública, aumento de assaltos a bancos e índices de violência em outros estados. Sempre na defensiva com a imprensa o gestor disse que sobre o tema milícia, as denúncias feitas ainda estão sendo investigadas de forma minuciosa. "Cabe aos órgãos competentes apurarem isso e além disso", frisou.
Mais críticas e menos questionamentos
Os deputados fizeram mais críticas e elogios do que perguntas ao secretário de Segurança. O deputado Ronaldo Martins foi o mais incisivo ao indagar. Ele perguntou sobre a transferência de 200 policiais para o Interior, a respeito de equipamentos do Corpo de Bombeiros e sugeriu que a Polícia pague hora extra para permitir que os policiais de folga possam trabalhar nas suas horas de folga.
Ex-policiais protestam acorrentados e estudantes denunciam a insegurança com cartazes expostos nas galerias da AL, onde estavam concentrados os manifestantes
O deputado Perboyre Diógenes sugeriu que o governador o substituísse, comparando a sua situação com a de um time de futebol em que a direção investe muito em sua melhoria e não alcança resultados. Nesse caso, há necessidade de se mudar o técnico, no caso da Segurança Pública, o próprio secretário.
A deputada Fernanda Pessoa também sugeriu a exoneração do secretário, depois de fazer críticas à sua atuação. Na resposta o secretário disse que não pede ria exoneração por entender estar fazendo o melhor que pode ser feito, chamando a deputada de Roberta Pessoa (referência ao pai dela, Roberto Pessoa).
As manifestações das galerias motivaram rápidas interrupções tanto na fala do secretário quanto nos pronunciamentos dos deputados, principalmente os aliados do Governo. Além de ex-policiais, mulheres de policiais, estudantes também estavam assistindo a sessão.
O deputado João Jaime (PSDB) ironizou o pronunciamento de Bezerra e disse que os números apresentados por ele demonstram ser o Ceará um lugar semelhante a países como Suíça. "Os números apresentados aqui me fazem chegar a seguinte conclusão: nunca se investiu tão mal e com poucos resultados como no momento em que estamos passando", criticou.
Homicídios
"Eu estou muito triste com a apresentação do secretário. Ele apenas vomitou números", afirmou Heitor Férrer (PDT), dizendo que o "time da Segurança Pública" foi derrotado "pelo time da violência". Segundo o pedetista ocorreu um aumento de 105% no número de homicídios do início da gestão Cid Gomes até o ano de 2013.
Bezerra deu demonstração de ter ido à Assembleia preparado para enfrentar o próprio Heitor, o deputado Antônio Carlos, e as deputadas Eliane Novais e Fernanda Pessoa. Ele ironizou o questionamento feito por Heitor ao dizer estar esperando que ele ficasse para fazer as últimas perguntas, mais contundentes.
O deputado Roberto Mesquita (PV), por sua vez, chamou de "descaso" a construção de Delegacia já no final do mandato de Cid Gomes. O secretário, pela sistemática estabelecida pela Assembleia, ouviu as perguntas de quatro deputados para responder em bloco. Cada deputado tinha três minutos para fazer perguntas. O secretário não tinha tempo para respondê-las.
Ao responder indagações sobre qual é a função de Ciro Gomes na secretaria de Segurança do Estado, Bezerra afirmou que as opiniões do ex-deputado federal é "muito bem vinda", mas reiterou que quem comanda a Segurança Pública é ele. Bezerra ainda se reportou à questão dos jovens na delinquência. "Querem jogar no colo da Polícia todos os problemas da violência. Como entender que um adolescente de 17 anos com vinte homicídios esteja em liberdade? É preciso que o Parlamento e que os representantes do povo abram essa frente", ressaltou.
O secretário chegou a ironizar a manifestação do deputado Antônio Carlos, lembrando que o petista, quando líder do Governo Cid Gomes, até o início do ano passado, ia a seu gabinete, inclusive, o chamando de "chefe". Antônio Carlos é hoje um dos críticos da atuação da Pasta.
Antes, o deputado José Sarto, atual líder do Governo, lembrou que Antônio Carlos, quando líder de Cid na Assembleia, chamou de "motim", a paralisação da Polícia Militar em janeiro de 2012, quando os policiais paralisaram suas atividades. "Se falou aqui que nunca se viu tanto assalto a banco, mas nos dois últimos anos foram presos mais 260 assaltantes de banco. Teve ano que só teve um assaltante a banco preso", lembrou ele.
Rodízio
Em defesa do secretário subiram à tribuna os deputados Osmar Baquit (PSD), Silvana Oliveira (PMDB), Welington Landim (PSB), José Sarto (PSB), Júlio César Filho (PTN) e Augustinho Moreira (PV). Augustinho ofereceu algumas sugestões ao secretário, o mesmo que fizera em um pronunciamento no semestre passado. Ele disse ser necessário retirar delegados "acomodados" e fazer um rodízio dos gestores das delegacias.
O secretário confirmou existir um problema no contingente da Polícia Civil, o que coloca o Ceará entre os estados com menor número de efetivo policial no País, mas ressaltou que avanços foram feitos ao longo da gestão do governador Cid Gomes. Alguns governistas também fizeram suas indagações.
Nenem Coelho (PSD) questionou a existência do Conselho permanente de Segurança Pública, uma das sugestões que já havia sido feita por Augustinho Moreira sobre a necessidade de haver mais reunião dos seus integrantes, assim como a criação de Conselhos comunitários.
No fim da sessão, o secretário ainda ficou à disposição para entrevistas, quando se disse satisfeito em ter podido dar os esclarecimentos que entendia necessário e responder as indagações feitas pelos deputados.
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