Diariamente, os conselhos tutelares,
o disque-100 ou o disque Direitos Humanos
registram 32 casos contra a população
infanto-juvenil FOTO: NATINHO RODRIGUES
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Foi registrado um total de 250 denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes, até março deste ano
A cada dia, quase três crianças e adolescentes são vítimas de violência física em Fortaleza. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Direitos Humanos (SDH), baseada em números dos Conselhos Tutelares e Disque 100, entre janeiro e março deste ano, 250 denúncias foram registradas no município, contra 116, em igual período do ano passado. Um aumento de 115% em 12 meses de diferença.
Ainda segundo as informações da SDH, levando também em consideração as ocorrências de maus-tratos e negligência, esse número pula para 1.098. Ou seja, diariamente os conselhos tutelares, o Disque 100 ou o Disque Direitos Humanos registram 32 casos de violência física, maus-tratos e negligência contra a população infanto-juvenil da Capital. Isso representa 37,7% do total de violações de direitos, que somaram 2.911 denúncias neste ano na cidade.
Os dados revelam um cenário dramático quando o assunto é criança e adolescente em Fortaleza. Casos recentes como o do garoto de 3 anos - encontrado morto em um flat de Fortaleza, vítima dos próprios pais - e de seu irmão, de 5 anos, internado no Hospital Albert Sabin, em estado de subnutrição, chocam e têm repercussão nacional. No entanto, mostram que eles são mais "comuns" do que se imagina e mesmo sem todos terem consequências fatais, deixam marcas no corpo e na mente difíceis de se apagar.
A titular da Delegacia de Combate à Exploração da Criança e Adolescente (Dececa), delegada Ivana Timbó, apesar da experiência no setor, não consegue disfarçar a indignação com o caso do menino morto, cujos pais, a cearense Cláudia Marques e o holandês Stefan Smith, são os suspeitos do assassinato.
Internado
Ela explica que o laudo não foi encerrado. "Vamos esperar ainda 30 dias, pois o perito recomendou que o garoto que está internado seja novamente examinado. A partir daí, o processo vai seguir o rumo", afirma.
A delegada analisa que o aumento de casos é resultado do fortalecimento da rede de proteção à criança e adolescente. Porém, diz que os números não refletem a realidade. "Muita gente grita com o filho, bate, ameaça e fica por isso mesmo. Esses casos não costumam chegar aos órgãos competentes", frisa.
A delegada diz que as pessoas estão perdendo a noção do perigo de passar dos limites na educação dos filhos. "Primeiro, vem a palmada, depois a surra e depois a violência sem limites, chegando à lesão corporal seguida de morte. É necessário que o vizinho, o parente, o amigo não tenha medo de denunciar".
Na avaliação da psicóloga Selma Câmara, a violência é reflexo de que a sociedade perdeu a noção de limites claros para tudo, inclusive no trato com a população mais vulnerável, no caso a infanto-juvenil. "Atualmente, não existe equilíbrio no diálogo e na ação. Se as primeiras tentativas não dão certo, o jeito, pensam os pais, é apelar para as palmadas, beliscões, chineladas, puxões de orelhas e o uso da força física ao sem medir as consequências". Para ela, existe uma inversão de valores em que a vida humana é vista como banalidade.
O coordenador da Fundação da Criança e Família Cidadã, ligada à SDH, Arquimedes Pinheiro, diz que o aumento dos casos registrados também se deve à conscientização da população, além do fortalecimento dos conselhos tutelares, porta de entrada das denúncias no município. "Estamos reestruturando as seis unidades existentes, com a reforma de prédios, a entrega de carros e a possibilidade da criação de mais dois conselhos".
Ele reconhece as dificuldades, pois são apenas 30 conselheiros (cinco em cada um) para dar conta de uma população de 2,5 milhões de pessoas. "Vamos nos estruturar melhor para daqui há um ano, na Copa do Mundo, a gente possua uma rede maior e mais forte".
SAIBA MAIS
Casos de Janeiro a março
Negligência
838
Violência física
250
Maus-tratos
10
Abandono de incapaz
114
Abuso sexual
168
Conflito familiar
259
Violência psicológica
122
Desvio de conduta
607
Exploração do trabalho infantil
84
Constrangimento ilegal
57
Mendicância
92
Abandono intelectual
56
Mais informações
Disque Direitos Humanos: 0800.285.1407
Fala Fortaleza: 0800.285.0880
Disque 100
LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER
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