terça-feira, 30 de abril de 2013

Algas comprometem criação de tilápias no Castanhão

A redução do volume hídrico do reservatório, diante da baixa pluviometria, ameaça atividades produtivas
Jaguaribara. O maior criatório de tilápia do Estado, o Açude Castanhão, corre o risco de ter sua produção reduzida caso o nível do reservatório não suba pelo menos dois metros até junho. Com a seca dos últimos três anos, seu nível baixou em nove metros. Atualmente, se encontra com pouco mais de 51% de sua capacidade total, fato inédito desde a sua inauguração em 2002. Criadores estão preocupados e enfrentam dificuldades para impedir a mortalidade do pescado. Há 15 dias um criador perdeu 1 tonelada de peixe.

Aquicultor Edvando Almeida retira a vegetação que prolifera no açude. Ele já perdeu cerca de uma tonelada de pescado devido à eutrofização. FOTOS: ELLEN FREITAS
A maior seca dos últimos 50 anos que ainda castiga o Nordeste diminuiu, nos últimos três anos, o nível do Açude Castanhão. Criadores de tilápia e a proliferação de algas disputam cada vez mais o espaço no reservatório. Essa concorrência prejudica os criadores em decorrência da morte do pescado.
A mortalidade dos peixes esta relacionada diretamente ao processo de eutrofização, que é a concentração de nutrientes numa massa de água, produzindo um aumento excessivo de algas. Estas, por sua vez, levam a diminuição do oxigênio provocando a morte e a consequente decomposição de muitos organismos como, no caso, os peixes.

Além disso, algumas algas do tipo água-pé, levadas pela correnteza, vão de encontro às gaiolas, quebrando cordas e ficando nos arredores destas, dificultando a respiração dos peixes. Há três anos trabalhando no Açude Castanhão, o aquicultor e vice-presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão (Acritica), Edvando Almeida, viu morrer 800 peixes em dois de seus 164 tanques-rede. Uma perda de cerca de 1 tonelada do pescado, já pronto para venda.

“Há três anos que eu crio peixe no Castanhão e nunca tinha aconteci mortalidade na nossa área. Acredito que pela baixa no nível do açude, tem surgido muitas algas. Isto tenho observado”, conta Edvando. O criador diz que contabiliza um prejuízo de cerca de R$ 6 mil.

Edvando trabalha juntamente com nove companheiros em seu grupo. No total, a Acritica possui 65 criadores de tilápia que atuam no Castanhão. Além desta associação, outras nove e mais duas cooperativas são responsáveis pela produção de pescado que abastece metade do Estado. Ao todo, cerca de 400 famílias sobrevivem da aquicultura no açude.

De acordo com a secretária Executiva de Pesca e Aquicultura de Jaguaribara, Livia Barreto, medidas preventivas estão sendo tomadas para tentar driblar essa problemática.

“Uma delas é não aumentar o número de tanques-rede para não comprometer os que estão de fases de crescimento. Também estamos constantemente fazendo o monitorando dentro do parque aquícola de Jaguaribara, buscando locais onde haja um nível melhor de oxigênio e temperatura para transferir os tanques para essas áreas e a questão das algas é a mais difícil, porque elas competem o oxigênio para os peixes. Onde tinham locais com 15 metros de profundidade, hoje tem cinco. Então elas vêm em busca dos raios solares e acabam prejudicando a respiração dos peixes” explica Lívia.

Além do problema com o aparecimento de algas, a falta de ventos nesta época do ano e o aumento da temperatura da água também vêm causando mortalidade nos peixes.

De acordo com a secretária, se o açude não aumentar em dois metros até o final do período chuvoso, não haverá como colocar mais gaiolas. Isto irá representar uma diminuição na produção do pescado.

O parque aquícola de Jaguaribara é o maior do Açude Castanhão, que também possui os parques de Alto Santo, Jaguaribe e Jaguaretama, aptos a desenvolverem a aquicultura. Somente no parque deste município, há capacidade para a instalação de 1000 tanques-rede.

Sem recarga
O Ceará produz, por ano, 27 mil toneladas de tilápia. Só o Castanhão é responsável por 45% da produção do Estado.

“Mesmo com toda a dificuldade, estamos em um patamar privilegiado. O Castanhão produz, por ano, 15 mil toneladas de tilápia, quase metade do que o Estado produz. Então qualquer problema relacionado ao açude é visto de forma grandiosa, porque compromete a produção que abastece metade do Ceará”, destaca a Secretária.

Mesmo com a chuva das últimas três semanas, o açude recebeu uma recarga de água muito baixa. De acordo com o gerente do reservatório, Ulisses de Souza, houve um aumento de 4cm a 5cm, o que representa um aumento de 15 a 20 milhões de metros cúbicos de água.

“Para ter uma recarga satisfatória deveria ter uma chuva mais consistente. As chuvas têm sido boas, mas são mais pontuais e isso não gera recarga suficiente para o reservatório”, afirma o gerente.

Ellen FreitasColaboradora


Controle"Estamos fazendo o monitorando no parque aquícola de Jaguaribara, para transferir os tanques para melhor área".
Lívia Barreto
Sec. Executiva de Pesca de Jaguaribara

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