quinta-feira, 11 de abril de 2013

A trindade forrozeira do Trio Nordestino completa 55 anos!



Com 55 anos de estrada, o Trio Nordestino lança disco novo e site com toda a discografia disponível para audição

A atual formação do Trio Nordestino: com 55 anos de estrada, grupo fez shows com Luiz Gonzaga

Em 2013, serão 55 anos de estrada. Literalmente, pois a história do Trio Nordestino inclui não apenas centenas de horas em estúdio, de ensaios e composição de novas canções, mas de shows por todo o País. Fundado em Salvador, em 1958, pelos músicos Lindú (voz e sanfona), Coroné (zabumba) e Cobrinha (triângulo), o grupo chega à quarta formação com o novo CD "A Bahia do Trio", uma homenagem a sua terra natal.

Atualmente, o Trio é composto pelos herdeiros musicais Luiz Mário, filho de Lindú (triângulo e voz); Coroneto, neto de Coroné (zabumba), e Beto Sousa, afilhado de Lindú (sanfona). Com 14 faixas - sendo oito regravações e seis inéditas -, o novo disco tem direção musical do multi-instrumentista Luiz Caldas, normalmente associado à axé music, mesmo tendo lançado, em 2009, nada menos do que dez CDs, divididos em duas caixas, com composições de samba, forró, MPB, heavy metal (!) e até músicas na língua indígena tupi.Com "Bahia" do Trio, Caldas volta a reafirmar seu "ecleticismo musical". "O pessoal vincula muito sua imagem ao axé, mas ele curte todos os estilos", justifica Coroneto. A parceria surgiu em 2012, em um dos pontos turísticos de Salvador.

Parceria

"Em maio do ano passado fizemos um projeto de ensaios abertos no Pelourinho, por ocasião do centenário de Luiz Gonzaga (o Trio original chegou a excursionar com o Rei do Baião). Tocávamos músicas nossas e algumas composições dele, sempre com a participação de um convidado, como Genival Lacerda e Targino Gondim. Um deles foi Luiz Caldas, que já conhecia nosso trabalho e acabou nos convidando para gravar um disco em seu estúdio. Daí nasceu uma grande amizade", recorda Coroneto.

Pelo fato de o novo disco marcar os 55 anos de existência do Trio, seus integrantes acharam por bem fazer uma homenagem ao Estado que lhe deu origem, a Bahia. Para isso, reuniram sete composições do repertório do Trio que falam sobre o lugar. "Reviramos o baú e descobrimos 12 ou 13 canções sobre a Bahia que as formações anteriores do Trio já haviam gravado. Pinçamos sete para esse novo CD, que falam de tudo um pouco: sobre o povo baiano, as praias, o acarajé", explica Coroneto.

Assim, estão lá "Voltar à Bahia", "Defesa de baiano", "Bahia com B maiúsculo", "Minha Bahia", "Fartura de beijo", "Alegria e sorriso" e "Jacarandá". Entre as regravações, está ainda o "Coco Sergipano". Já "Eta lugar bom", também sobre a terra natal, é inédita, de autoria dos baianos Nyldo Fernandes e Jean Carvalho. "Selecionamos como primeira música de trabalho, nosso carro-chefe", adianta Coroneto.

A lista de inéditas se completa com "Tô de ressaca", "Sou eu", "Forró no Canto", "Liga pra mim" e "Minha louca paixão" completam a lista de inéditas. "Vemos muitas músicas falando de mulher, de bebedeira. Então resolvemos falar sobre o que vem depois da farra: a ressaca", brinca Coroneto, sobre uma das faixas. "É um arrasta-pé bem gostoso, do Rodrigo Castanheira".

"Sou eu", por sua vez, é assinada por Teixeira de Paula, compositor de Recife. "A letra parece com a de ´Esse cara sou eu´, do Roberto Carlos, mas Teixeira já tinha essa música há alguns anos", observa Coroneto. "Já a ´Forró no Canto´ foi composta por Carlinhos Santana, nosso percussionista, em homenagem ao Canto da Ema, uma das maiores casas de forró de São Paulo", detalha.

Discografia

Todas as faixas estão disponíveis para audição no site oficial do Trio. Além delas, o Trio disponibilizou toda sua discografia para audição no site oficial - desde o primeiro trabalho "Chupando Gelo" (1962) até os últimos, "Tá Ligado Doido" (2011) e o próprio "A Bahia do Trio" (2013). Ao todo, são 40 discos, organizados cronologicamente e com as respectivas capas - uma excelente fonte de pesquisa ou para conhecer melhor o trabalho do grupo. "Com as facilidades da internet, não há razão para não divulgar seu trabalho. Como o Trio tem mais de 50 anos, resolvemos organizar esse acervo", explica Coroneto.

"Foi uma tacada certeira, temos recebido muitos elogios e os acessos ao site praticamente triplicaram. É uma maneira não só de divulgar nosso trabalho, mas de preservar a memória do grupo e de retribuir o carinho dos fãs", complementa o músico.

O site do Trio Nordestino conta ainda com fotos, vídeos, blog e agenda de shows.

O trio sob a bênção de dois mestres sanfoneiros

Embora 1958 seja um marco, a história do nome "Trio Nordestino" começa um pouco antes, e com protagonistas diferentes. Em 1957, após a dissolução do conjunto que o acompanhava, Luiz Gonzaga reuniu dois músicos que já haviam tocado com ele - o cearense João Batista de Lima Filho e o paraibano Manoel Valdivino de Souza, conhecidos respectivamente pelos nomes artísticos Zé Minhoca (depois Miudinho) e Zito Borborema - e os apresentou a José Domingos de Morais (então conhecido por Neném, depois por Dominguinhos), outro protegido seu.

Acatando à sugestão da esposa, Helena, Gonzaga nomeou o grupo de Trio Nordestino. Por dois anos, eles fizeram relativo sucesso, embora não tenham chegado a gravar nenhum disco. O conjunto se desfez especialmente por conta dos anseios e qualidades individuais dos integrantes, especialmente Dominguinhos e Zito Borborema.

Como não havia patente para o nome, o mesmo foi alvo de uma acirrada disputa jurídica entre dois trios: o baiano, formado por Evaldo dos Santos (Coroné), Lindolfo Mendes Barbosa (Lindú) e José Pedro Cerqueira (Cobrinha) e um paulista (formado por Xavier, Heleno e Toninho). Com o apoio de Gonzaga e de Dominguinhos, o primeiro trio venceu a disputa.

Além do apoio do Rei do Baião, outro personagem importante na trajetória do grupo foi Gordurinha, então famoso radialista que os levou para o Rio de Janeiro com a promessa da contratação por uma gravadora. Assim, o primeiro disco, "Chupando Gelo", saiu em 1962, pela Copacabana Discos. Além de canções do próprio Gordurinha ("Pau-de-arara é a vovozinha", "Carta 100 erros", "Carta a Maceió"), a obra incluía composições de Antônio Barros ("Chililique", "Forró pesado", "Procurando tu"), da iniciante dupla Dominguinhos e Anastácia ("Conversa De Motorista") e do próprio Lindú.

"Procurando Tu", aliás, foi o maior sucesso do Trio Nordestino no início dos anos 70. Na TV, tornaram-se frequentadores assíduos de Chacrinha e Flávio Cavalcanti, chegando a vender cerca de 1 milhão de discos.

Nos anos 80, falece Lindú. Em seu lugar entrou o sanfoneiro Genaro. Com a morte de Cobrinha e a saída de Genaro, Coroné chama Luís Mário e Beto (respectivamente filho e afilhado de Lindú) para iniciar outra etapa do Trio. Em abril de 2005, é a vez de Coroné partir, deixando em seu lugar seu neto Carlinhos, hoje, batizado "Coroneto".

"Temos grande preocupação em manter a tradição no grupo, tanto no figurino - com as roupas, o chapéu de couro - quanto na música", esclarece Coroneto. Mesmo assim, o Trio não abre mão de renovar-se sempre.

ADRIANA MARTINS
REPÓRTER

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