sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Desabastecimento de água ameaça Carnaval

No Iguape, moradores recorrem à bica que fica na entrada do distrito de Aquiraz para conseguir água potável. É tanta procura que , muitas vezes, formam-se filas para encher baldes, garrafas e camburões Foto: Kelly Freitas
Em Paracuru, a festa só estará garantida se a Petrobras conseguir abrir 10 novos poços em prazo recorde de 9 dias
Sem água nas torneiras tudo fica ameaçado: o comércio, a agricultura, a sobrevivência e até o Carnaval. Famosa entre os foliões, a cidade de Paracuru, por exemplo, corre risco de ter as festividades canceladas por falta de abastecimento. Há nove dias do feriadão, o que resta é esperar que gestores resolvam a questão, tentem diminuir a penúria e a população possa, enfim, se divertir.
Atualmente, 20 municípios seguem em colapso total e essa quantidade pode até dobrar caso não chova até março. Até ontem à noite, 66 açudes estavam com volumes inferior a 30%, sendo a média estadual de 46,6%.

A empresa de Petróleo Brasileiro (Petrobras) prometeu construir dez poços profundos para garantir que não falte água em Paracuru. O desafio é finalizar as obras em tempo recorde, média de uma obra por dia. População desconfia que não dará tempo. A farmacêutica Andrea Chaves, não quer perder a festa por nada.

"Sei que o povo está triste sem a chuva, mas o Carnaval traz muitos visitantes e isso pode melhorar nossa renda", afirma.

O diretor de Meio Ambiente da Cidade, Edmundo Ferreira, explica que a lagoa do município está com a capacidade reduzida. Por isso, a Prefeitura segue preocupada em como ocorrerá o Carnaval. A fé está na Petrobras. Mas, nem todos os poços serão construídos a tempo para festividades: apenas o suficiente para cumprir demanda emergencial.

Entretanto, a situação não está crítica apenas em Paracuru. Cidades como Beberibe, Aracati, Cascavel e Camocim podem até estar com as festividades programadas, mas necessitam ainda de ajustes, escavação de novos poços e reformas. Todas feitas em prazo recorde de pouco mais de uma semana. Correria tamanha.

Planejamento
Para o assessor em Desenvolvimento Rural da Associação dos Municípios e Prefeitos do Estado do Ceara (Aprece), Nicolas Fabre, a situação está crítica até onde, normalmente não era para estar, no Litoral. "Esses municípios deveriam ser os menos prejudicados pela seca. Mas a estiagem está tão pesada que ninguém está imune. As dunas funcionam como uma espécie de esponja que suga a água e acaba não conseguindo gerar grandes açudes. Daí a falta de água".

Outro problema grave também, segundo Fabre, são os problemas estruturais e de gestão que acabam gerando graves situações de colapso. "Não há, nesses municípios, ações de prevenção. Daí, os prefeitos só começarem a pensar nas ações uma semana antes do Carnaval. E o resto do ano, como fica?", indaga.

Ações
E sobram medidas tomadas em caráter de urgência, às vésperas do feriadão. Em Beberibe, por exemplo, agora que estão sendo feitas novas perfurações de poços. A lagoa está muito baixa, em nível crítico e dez novas perfurações ainda devem ser feitas.

"Mas temos oito carros-pipa atendendo o município. Garantimos que os poços estarão, sim, prontos para o Carnaval, alguns já estão até em fase de testes", detalha Luís Alexandre Belém, secretário de Desenvolvimento Rural e Pesca de Beberibe.

Tudo parece está sendo feito em cima da hora. Em Aracati, há a pendência de perenização das lagoas e expectativa que os níveis de água subam mais. "Ficou garantido todo o abastecimento, mas, mesmo assim, nós teremos equipes de plantão 24 horas", afirma o prefeito Ivan Silverio.

A esperança do vice-prefeito de Camocim, José Olavo, também diretor do Serviço de Água e Esgoto, é que o desabastecimento não aconteça apesar da estiagem. "Estamos fazendo reformas em algumas bombas e queremos subir um total de 70 mil litros a mais de água por hora na cidade, 33% a mais do que no ano passado. Vamos torcer que não falte nas torneiras", relata.

Em Cascavel, eletricistas e bombeiros estarão de plantão durante o feriado a fim de não haver maiores transtornos. "A meta é tentar manter a festa mesmo com a seca. Estamos sofrendo mais no Interior, mas existem sete carros-pipa. Já mandamos até fazer reformas em todos os chafarizes do município", afirma, através de nota, Prefeitura.

Plantão
Sobre o período de Carnaval, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que haverá equipes plantonistas em todas as localidades atendidas. Nas cidades onde a concentração de foliões será maior, a mobilização também. "Estão sendo buscadas soluções alternativas para amenizar qualquer possível ocorrência advinda do excesso de demanda de água, provocado pelo aumento da população flutuante", diz em nota, a Cagece.

Sobre fornecimento, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) informa que os municípios de Cascavel, Aracati e Paracuru não sofrerão com o desabastecimento em relação apenas à água bruta (anterior ao tratamento). Em relação ao município de Cascavel, a Cogerh informa que o açude Pacajus e o açude Malcozinhado, atualmente estão com 32% e 50% da capacidade total. Já Aracati tem como fonte Canal do Trabalhador.

Líquido impróprio para consumo no Iguape
A água utilizada pelos moradores do Iguape, no município de Aquiraz, encontra-se em condições impróprias para consumo. Segundo a população, os poços artesianos que abastecem as casas estão salgados, prejudicando a qualidade do líquido.

Os moradores relatam que o problema acontece devido ao acúmulo de água do mar no rio que cerca o distrito. O aumento do nível de salinidade do líquido acaba atingindo também os lençóis freáticos próximos, responsáveis por alimentar os poços.

A situação afeta tanto a população ribeirinha quanto os habitantes do Centro do Iguape. A população precisa comprar água salubre nos estabelecimentos da região ou dirigir-se à bica que fica na entrada do distrito. A demanda no local é tão grande que, muitas vezes, formam-se filas para encher baldes, garrafas e camburões.

Todos os moradores do distrito dependem dos poços artesianos. As casas não possuem sistema de abastecimento nem saneamento básico fornecido pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).

Contrato
A Cagece alega que integra a concessão de água do município de Aquiraz, mas o contrato com não inclui o Iguape. Segundo a assessoria, as obras para a instalação do sistema de tratamento de água não foram de responsabilidade da empresa.

O secretário adjunto da Secretaria de Infra-Estrutura e Recursos Hídricos de Aquiraz, Napoleão Leite, afirmou que a Prefeitura irá averiguar o problema. Leite destacou que existe a intenção do governo do Estado em levar os serviços da Cagece ao Iguape, mas nenhuma ação foi consolidada.

IVNA GIRÃO/ VANESSA MADEIRA
REPÓRTER/ESPECIAL PARA CIDADE

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