Claudionor Velloso, a Dona Canô, ganhou mais prestígio em Santo Amaro (BA) do que qualquer político, empresário ou líder religioso da cidade. Era mais influente até do que seus dois filhos ilustres, Caetano Veloso e Maria Bethânia |
A matriarca morreu na manhã de Natal. A família já esperava pelo pior. Tanto que não fez a tradicional ceia
Salvador. Pelo Brasil afora e em parte do mundo, Dona Canô ficou célebre como a mãe da cantora Maria Bethânia, do compositor e cantor Caetano Veloso e da escritora Mabel Velloso. Entretanto, em Santo Amaro da Purificação, a situação se invertia: eles é que eram conhecidos como os filhos da carismática e estimada Claudionor Viana Teles Velloso.
Ontem pela manhã, ela morreu em sua casa, na cidade localizada no Recôncavo Baiano a 67 Km de Salvador. A matriarca de 105 anos esteve internada na Unidade Cardiovascular Intensiva do Hospital São Rafael, em Salvador, até a última sexta-feira (21). Na ocasião, Dona Canô havia sofrido um ataque isquêmico cerebral, que provoca redução do fluxo de sangue nas artérias do cérebro.
O velório foi realizado a partir das 19 horas (de Brasília), de ontem, no Memorial Caetano Veloso. O enterro acontecerá hoje, às 10 horas, na cidade.
Canô sempre simbolizou alegria e viveu rodeada de muita gente. Quando se casou com José Teles Velloso - morto em 13 de dezembro de 1983, aos 82 anos -, que não gostava de festas, foi morar com mais de 20 pessoas na casa da família dele.
Em Santo Amaro, constantemente recebeu muita gente em sua casa branca de janelas e portas azuis, onde atendia visitantes de toda espécie e origem, curiosos, fãs de seus filhos e dela também, com a mesma simpatia com que reunia os inúmeros amigos em festas embaladas por boa música, histórias, memórias, serestas na varanda, carurus de 5 mil quiabos e outros atrativos.
Novena de Canô
Era ali também o ponto de partida das comemorações da cidade e as famosas novenas do 2 de fevereiro, realizadas a cada janeiro e celebradas até em canção. "Não tenho escolha careta/ Vou descartar/ Quem não rezou a novena de Dona Canô...", canta Bethânia em Reconvexo, do mano Caetano.
Na segunda-feira, a família já esperava pelo pior. Tanto que não fez a tradicional ceia de Natal. Na sexta, Dona Canô recebeu alta do Hospital São Rafael, em Salvador, onde apresentou um quadro de isquemia, embora tivesse sofrido uma "leve piora".
"O maior desejo de D. Canô é passar este momento da sua vida no seu ambiente familiar", disse o boletim médico, acrescentando que ela havia atingido um estágio de estabilidade hemodinâmica e respiratória "minimamente satisfatório" para garantir a alta hospitalar".
"A idade avançada da paciente e a sua significativa restrição pulmonar e neurológica trazem para ela uma grande limitação funcional. Entretanto, o maior desejo de D. Canô é passar este momento da sua vida no seu ambiente familiar", dizia o texto divulgado pela equipe médica.
Em 16 de setembro, quando completou 105 anos, disse não ter medo da morte. "Não tenho, não, meu filho. Acredito em Deus e sempre vivi com a minha família, com pessoas do meu lado, com a casa cheia".
Dona Canô ganhou mais prestígio em Santo Amaro do que qualquer político, empresário ou líder religioso da cidade. Sua casa, a de número 179 na Avenida Vianna Bandeira, no Centro, tornou-se ponto turístico.
Salvador. Pelo Brasil afora e em parte do mundo, Dona Canô ficou célebre como a mãe da cantora Maria Bethânia, do compositor e cantor Caetano Veloso e da escritora Mabel Velloso. Entretanto, em Santo Amaro da Purificação, a situação se invertia: eles é que eram conhecidos como os filhos da carismática e estimada Claudionor Viana Teles Velloso.
Ontem pela manhã, ela morreu em sua casa, na cidade localizada no Recôncavo Baiano a 67 Km de Salvador. A matriarca de 105 anos esteve internada na Unidade Cardiovascular Intensiva do Hospital São Rafael, em Salvador, até a última sexta-feira (21). Na ocasião, Dona Canô havia sofrido um ataque isquêmico cerebral, que provoca redução do fluxo de sangue nas artérias do cérebro.
O velório foi realizado a partir das 19 horas (de Brasília), de ontem, no Memorial Caetano Veloso. O enterro acontecerá hoje, às 10 horas, na cidade.
Canô sempre simbolizou alegria e viveu rodeada de muita gente. Quando se casou com José Teles Velloso - morto em 13 de dezembro de 1983, aos 82 anos -, que não gostava de festas, foi morar com mais de 20 pessoas na casa da família dele.
Em Santo Amaro, constantemente recebeu muita gente em sua casa branca de janelas e portas azuis, onde atendia visitantes de toda espécie e origem, curiosos, fãs de seus filhos e dela também, com a mesma simpatia com que reunia os inúmeros amigos em festas embaladas por boa música, histórias, memórias, serestas na varanda, carurus de 5 mil quiabos e outros atrativos.
Novena de Canô
Era ali também o ponto de partida das comemorações da cidade e as famosas novenas do 2 de fevereiro, realizadas a cada janeiro e celebradas até em canção. "Não tenho escolha careta/ Vou descartar/ Quem não rezou a novena de Dona Canô...", canta Bethânia em Reconvexo, do mano Caetano.
Na segunda-feira, a família já esperava pelo pior. Tanto que não fez a tradicional ceia de Natal. Na sexta, Dona Canô recebeu alta do Hospital São Rafael, em Salvador, onde apresentou um quadro de isquemia, embora tivesse sofrido uma "leve piora".
"O maior desejo de D. Canô é passar este momento da sua vida no seu ambiente familiar", disse o boletim médico, acrescentando que ela havia atingido um estágio de estabilidade hemodinâmica e respiratória "minimamente satisfatório" para garantir a alta hospitalar".
"A idade avançada da paciente e a sua significativa restrição pulmonar e neurológica trazem para ela uma grande limitação funcional. Entretanto, o maior desejo de D. Canô é passar este momento da sua vida no seu ambiente familiar", dizia o texto divulgado pela equipe médica.
Em 16 de setembro, quando completou 105 anos, disse não ter medo da morte. "Não tenho, não, meu filho. Acredito em Deus e sempre vivi com a minha família, com pessoas do meu lado, com a casa cheia".
Dona Canô ganhou mais prestígio em Santo Amaro do que qualquer político, empresário ou líder religioso da cidade. Sua casa, a de número 179 na Avenida Vianna Bandeira, no Centro, tornou-se ponto turístico.
A matriarca discordou publicamente do filho Caetano quando este, ao declarar apoio a Marina Silva, disse que Lula era analfabeto e grosseiro FOTO: DIVULGAÇÃO |
Experiência
Influência na carreira dos filhos famosos
Dona Canô foi batizada como Claudionor Viana Teles Velloso - seu sobrenome tinha dois "l", diferentemente de Caetano, que deve a singularidade da letra a um erro de registro de cartório. O apelido foi dado por um irmão de criação que, pequeno, tinha dificuldade em pronunciar Claudionor. "Canô" era mais fácil para uma criança, e assim ficou. Foi mais fácil, também, para o Brasil.
Apesar de ser de origem humilde, a baiana foi criada na casa de uma família rica da região. Estudou em escola particular e aprendeu a falar francês e a tocar piano. Ela, que costumava cantar para todos, sempre incentivou os filhos a gostar de música. Sob sua influência, Nicinha, Clara Maria, Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia e Irene aprenderam a tocar instrumentos.
Religiosa, Dona Canô acreditava ter sido abençoada com uma vida tão longa pelo fato de ter criado muito bem os filhos.
Nosso Natal ficou mais triste, diz Dilma em nota
Brasília. A presidente Dilma Rousseff emitiu nota de pesar pela morte de Dona Canô, na tarde de ontem. "Nosso Natal ficou mais triste, perdemos Dona Canô. Uma mulher rica de coragem, principalmente a coragem de ser feliz, como ela mesma gostava de dizer", diz a mensagem da presidente
"Construiu uma família em torno do amor pela cultura, pela Bahia e pelo Brasil, expresso no talento de seus filhos, entre eles Caetano Veloso e Maria Bethânia. Sua alegria de viver e sua lucidez conquistaram o coração dos brasileiros.
Transmito meu sentimento de pesar aos familiares de Dona Canô e aos filhos e filhas de Santo Amaro da Purificação, que hoje perderam sua maior divulgadora e fã. Dona Canô, mulher forte e sábia, nos deixa muita saudades".
Mais cedo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a mãe de Caetano foi "um exemplo de mulher e uma referência de sabedoria e generosidade para a família e, também, para o Brasil".
Lula disse que Dona Canô foi uma grande amiga, da qual se lembrará com muito carinho. "Neste dia de Natal marcado pela tristeza de sua partida, estendemos nossa solidariedade a seus familiares e amigos".
A nota também é assinada pela mulher de Lula, dona Marisa Letícia.
O sepultamento está marcado para as 10h desta quarta-feira, no Cemitério de Santo Amaro. Antes, haverá missa de corpo presente na Matriz da Purificação na cidade.
Discordância
Mesmo com toda a admiração que declarava pelo filho, Dona Canô não evitou discordar dele publicamente em 2009, quando o assunto foi político.
O fato ocorreu depois de uma entrevista de Caetano em que declarou seu apoio à candidatura de Mariana Silva, dizendo "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro".
A matriarca quis, então, ligar para Lula, para pedir desculpas pelo filho. "Lula não merece isso. Quero muito bem a ele. Foi uma ofensa sem necessidade. Caetano não tinha que dizer aquilo. Vota em Lula se quiser, não precisa ofender", afirmou ela. Depois, foi o próprio Lula que ligou pessoalmente para ela, para dizer que não estava chateado e encerrar a polêmica.
Em 7 de julho de 2011, ela também havia sido hospitalizada com dores na coluna, dores abdominais e falta de ar. Em abril deste ano, esteve no hospital para realizar exames de rotina e um procedimento cirúrgico para a retirada de um sinal.
Viúva de José Teles Velloso, morto em 1983, aos 82 anos, a famosa centenária deixa oito filhos, nove netos e cinco bisnetos. Em outubro de 2011, ela perdeu a filha adotiva Eunice Veloso, aos 83 anos.
Caetano agradece a solidariedade
Salvador. O músico Caetano Veloso, 70, manifestou-se brevemente após a morte da mãe, Dona Canô, ontem, através de sua assessoria de imprensa.
"Caetano agradece a solidariedade de todos. O velório será às 18h no Memorial Caetano, missa às 9h na Purificação e enterro 10h em Santo Amaro", disse a assessoria do cantor por meio de seu perfil oficial no Twitter, onde tem 39 mil seguidores.
Caetano, assim como Maria Bethânia, a outra filha ilustre de Canô, já vinha há pouco mais de uma semana junto com a família, desde que a mãe se internou no Hospital São Rafael, em Salvador, no sábado (15).
Em 16 de setembro, no último aniversário de Dona Canô, Caetano levou o filho mais novo para a festa. Ele acaba de lançar um novo disco, "Abraçaço", cujo primeira faixa é a comentada "A Bossa Nova é Foda".
Em novembro, recebeu nos Estados Unidos o prêmio de personalidade do ano da academia musical que organiza o Grammy Latino. Em maio, o seu disco "Transa", uma de suas obras mais cultuadas, foi relançado aos 40 anos.
Adiamento
Muito abalada com a morte da mãe, a cantora Maria Bethânia adiou as apresentações que faria em Porto Alegre nos dias 8 e 9 de janeiro, na turnê "Carta de Amor". Bethânia não quis se pronunciar sobre a morte, segunda sua assessoria. A artista fez seu último show no dia 14, em Fortaleza, e desde o dia 15 estava ao lado da mãe.
Influência na carreira dos filhos famosos
Dona Canô foi batizada como Claudionor Viana Teles Velloso - seu sobrenome tinha dois "l", diferentemente de Caetano, que deve a singularidade da letra a um erro de registro de cartório. O apelido foi dado por um irmão de criação que, pequeno, tinha dificuldade em pronunciar Claudionor. "Canô" era mais fácil para uma criança, e assim ficou. Foi mais fácil, também, para o Brasil.
Apesar de ser de origem humilde, a baiana foi criada na casa de uma família rica da região. Estudou em escola particular e aprendeu a falar francês e a tocar piano. Ela, que costumava cantar para todos, sempre incentivou os filhos a gostar de música. Sob sua influência, Nicinha, Clara Maria, Maria Isabel, Rodrigo, Roberto, Caetano, Maria Bethânia e Irene aprenderam a tocar instrumentos.
Religiosa, Dona Canô acreditava ter sido abençoada com uma vida tão longa pelo fato de ter criado muito bem os filhos.
Nosso Natal ficou mais triste, diz Dilma em nota
Brasília. A presidente Dilma Rousseff emitiu nota de pesar pela morte de Dona Canô, na tarde de ontem. "Nosso Natal ficou mais triste, perdemos Dona Canô. Uma mulher rica de coragem, principalmente a coragem de ser feliz, como ela mesma gostava de dizer", diz a mensagem da presidente
"Construiu uma família em torno do amor pela cultura, pela Bahia e pelo Brasil, expresso no talento de seus filhos, entre eles Caetano Veloso e Maria Bethânia. Sua alegria de viver e sua lucidez conquistaram o coração dos brasileiros.
Transmito meu sentimento de pesar aos familiares de Dona Canô e aos filhos e filhas de Santo Amaro da Purificação, que hoje perderam sua maior divulgadora e fã. Dona Canô, mulher forte e sábia, nos deixa muita saudades".
Mais cedo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a mãe de Caetano foi "um exemplo de mulher e uma referência de sabedoria e generosidade para a família e, também, para o Brasil".
Lula disse que Dona Canô foi uma grande amiga, da qual se lembrará com muito carinho. "Neste dia de Natal marcado pela tristeza de sua partida, estendemos nossa solidariedade a seus familiares e amigos".
A nota também é assinada pela mulher de Lula, dona Marisa Letícia.
O sepultamento está marcado para as 10h desta quarta-feira, no Cemitério de Santo Amaro. Antes, haverá missa de corpo presente na Matriz da Purificação na cidade.
Discordância
Mesmo com toda a admiração que declarava pelo filho, Dona Canô não evitou discordar dele publicamente em 2009, quando o assunto foi político.
O fato ocorreu depois de uma entrevista de Caetano em que declarou seu apoio à candidatura de Mariana Silva, dizendo "Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro".
A matriarca quis, então, ligar para Lula, para pedir desculpas pelo filho. "Lula não merece isso. Quero muito bem a ele. Foi uma ofensa sem necessidade. Caetano não tinha que dizer aquilo. Vota em Lula se quiser, não precisa ofender", afirmou ela. Depois, foi o próprio Lula que ligou pessoalmente para ela, para dizer que não estava chateado e encerrar a polêmica.
Em 7 de julho de 2011, ela também havia sido hospitalizada com dores na coluna, dores abdominais e falta de ar. Em abril deste ano, esteve no hospital para realizar exames de rotina e um procedimento cirúrgico para a retirada de um sinal.
Viúva de José Teles Velloso, morto em 1983, aos 82 anos, a famosa centenária deixa oito filhos, nove netos e cinco bisnetos. Em outubro de 2011, ela perdeu a filha adotiva Eunice Veloso, aos 83 anos.
Caetano agradece a solidariedade
Salvador. O músico Caetano Veloso, 70, manifestou-se brevemente após a morte da mãe, Dona Canô, ontem, através de sua assessoria de imprensa.
"Caetano agradece a solidariedade de todos. O velório será às 18h no Memorial Caetano, missa às 9h na Purificação e enterro 10h em Santo Amaro", disse a assessoria do cantor por meio de seu perfil oficial no Twitter, onde tem 39 mil seguidores.
Caetano, assim como Maria Bethânia, a outra filha ilustre de Canô, já vinha há pouco mais de uma semana junto com a família, desde que a mãe se internou no Hospital São Rafael, em Salvador, no sábado (15).
Em 16 de setembro, no último aniversário de Dona Canô, Caetano levou o filho mais novo para a festa. Ele acaba de lançar um novo disco, "Abraçaço", cujo primeira faixa é a comentada "A Bossa Nova é Foda".
Em novembro, recebeu nos Estados Unidos o prêmio de personalidade do ano da academia musical que organiza o Grammy Latino. Em maio, o seu disco "Transa", uma de suas obras mais cultuadas, foi relançado aos 40 anos.
Adiamento
Muito abalada com a morte da mãe, a cantora Maria Bethânia adiou as apresentações que faria em Porto Alegre nos dias 8 e 9 de janeiro, na turnê "Carta de Amor". Bethânia não quis se pronunciar sobre a morte, segunda sua assessoria. A artista fez seu último show no dia 14, em Fortaleza, e desde o dia 15 estava ao lado da mãe.
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