Tentar-se-á compreender como aconteceu a aproximação de músicos, compositores, cantores e produtores, tendo os festivais de música como inserção na mídia, especialmente televisiva e o acesso ao sucesso ou não em suas carreiras
Qual o interesse de um artista em participar de festivais? Em Fortaleza, como se deu a convergência, transição e troca de experiências dos músicos e cantores originados do rádio nos idos dos anos 50, com outros artistas dos idos dos anos 60, com o surgimento da televisão, as tensões e embate entre os jovens artistas universitários? Qual a importância para os novos artistas geralmente, oriundos da Universidade para a "nova" "Música Popular Cearense", com os impasses surgidos com a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália e os festivais como meio de socialização, tensão, competição de músicos e divulgação dessas canções?
As duas margens
Os festivais podem ser divididos em de amostragem ou exibição, em que não há classificação e ganhadores e em festivais competitivos, geralmente com prêmios em dinheiro, com gravações servindo de prêmios; são seriados com várias eliminatórias como, por exemplo, alguns realizados em Fortaleza tal como os Nordestinos em fins dos anos 60, ou ainda, os produzidos pela TV Excelsior, pela TV Record e pela TV Globo ao longo dos anos 60, 70 e meados de 80. Existem, também, os festivais cooperativos, como os de show de calouros, ou ainda, os de audições de final de semestre em escolas de música.
O ponto de partida
Em meados dos anos 60, em Fortaleza, chamam atenção os três festivais de amostragem produzidos pelo Departamento de Cultura do Conservatório Musical Alberto Nepomuceno e patrocinado pela Secretaria de Educação do Município, realizados na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará conhecidos como I, II e III Festival de Música Popular Cearense, organizados pela professora, D´Alva Stela e pelo professor e pianista, Orlando leite. Participaram desses festivais, especialmente cantores originados do rádio, como Moreira Filho e José Jataí. O primeiro se realizou em 1965 e homenageou os maestros, compositores e boêmios, Lauro Maia e Luiz Assunção.
Em 1968, o IV Festival foi realizado em fins de novembro e início de dezembro. Algumas questões chamam atenção a respeito desse festival. Primeiro, houve uma modificação do nome para IV Festival da Música Popular do Ceará; segundo, o festival passou a ser competitivo, pois, haveria premiações em dinheiro ( o primeiro classificado ganharia NCr$ 500,00 ), além de outros brindes e cobertura pela imprensa); o que nos faz perceber uma espécie de mercado midiático e o quarto, o festival conseguia uma novidade: unir cantores e compositores do rádio, como Heitor Catunda, o violonista Aleardo Freitas e Luiz Assunção; e jovens secundaristas, como Raimundo Fagner, Marcus Francisco, Pretextato Melo e Marcus Vale; e universitários, como Antônio Carlos Belchior, Jorge Melo, Gustavo Silva dentre outros.
Primeiras luzes
Os secundaristas, Raimundo Fagner e Marcus Francisco, acabaram vencedores desse festival com o samba, Nada Sou. Com a vitória, Fagner decidiu-se pela carreira artística e, logo depois, "integrando" a turma de cearenses a qual ficou conhecida no eixo sudeste / sul como "Pessoal do Ceará" com Belchior, Ednardo, Jorge Melo, Rodger Rogério, Teti, dentre outros. Estimulados com a vitória, os secundaristas irão participar, logo na primeira semana de dezembro de 68, do I Festival de Música Popular Aqui. A despeito das intrigas e das controvérsias e lembranças de artistas e jurados sobre a participação de Piti, um integrante do grupo baiano, Nós, Por Exemplo (grupo este que originou o movimento Tropicalista), o qual teria sido convidado a participar do festival para ganhar.
O I Festival
O festival organizado por Aderbal Júnior (Aderbal Freire-Filho) na Rádio Assunção, com duas eliminatórias no prédio da escola Jesus, Maria José (hoje, tombado), classificou as doze melhores canções que tiveram como prêmio a gravação de um LP. O LP, que levava o mesmo nome do festival, pode ser considerado a primeira gravação do que se poderia considerar como "Música Popular Cearense" ou Música Universitária Cearense.
Em1969, tardiamente, os festivais de música alcançavam um caráter midiático, televisivo em Fortaleza com os Festivais Nordestinos da Música Popular promovidos pelos Diários Associados e realizados em quatro eliminatórias no Clube do Náutico Atlético Cearense, com transmissão da TV Ceará e da Ceará Rádio Clube. O jornal Correio do Ceará, pertencente ao grupo dos Diários Associados, fez a cobertura das quatro eliminatórias em Fortaleza dos quatro festivais.
Os Festivais Nordestinos
No I Festival Nordestino da Música Popular, o jornal faz referência às canções: Chapéu de Palha, de Ednardo, Bai, Bai Baião (Rodger Rogério / Dedé Evangelista) e Boca de Forno (Tânia Barbosa de Araújo), ambas interpretadas pelo consagrado cantor Ray Miranda. Bai, Bai, Baião representou o Ceará na grande final desse festival competitivo e classificatório em Recife, empatando em segundo lugar com a canção, Poema do Chapeuzinho Vermelho dos baianos, Alcivando Luz e Jairo Simões.
Os prêmios da grande final de Recife foram os seguintes: para os autores das músicas, 1º lugar, um automóvel Chrysler; 2º lugar, NCr$ 10 mil, 3º lugar, NCr$ 5 mil e para os intérpretes, 1º lugar, uma viagem de ida e volta aéreas a Lisboa; 2º lugar uma viagem ida e volta a Buenos Aires e 3º uma viagem ao Rio de Janeiro e ainda seria gravado um LP das 12 músicas da final de Recife. Rodger Rogério assim resumiu a mudança na sua condição social de músico, ao ser classificado em segundo lugar: (Texto I)
E os rapazes candidatos a artistas, que já participavam dos programas da televisão cearense como Por que Hoje é Sábado, de Gonzaga Vasconcelos, e Show do Mercantil, de Augusto Borges, conscientes do caráter midiático do festival, inscreveram-se: Ricardo Bezerra com Brandão, Jorge Melo, Belchior e Ednardo.
Apesar dos elogios da letra e arranjo do público, dos jurados e jornalistas presentes no Clube do Náutico, o orgulho da finalíssima em Recife do II Festival Nordestino para o Estado do Ceará foi o jovem Paulo Gomes, classificado em segundo lugar com seu samba Ora Essa.
Em outubro de 1971, foi realizado o III Festival Nordestino da Música Popular pela documentação conseguida no jornal "Unitário" (19/10/71), Ednardo classificou-sem, assim, na final de Fortaleza em segundo lugar com a canção, Além Muito Além.
Naquele momento, os Diários e Emissoras Associados já com problemas financeiros, notadamente pela ascensão da TV Globo, não tinham mais como organizar e divulgar festivais. Além disso, não representavam mais a grande mídia e nem era vislumbrada como investimento e interesse da indústria cultural pelos artistas vencedores dos seus festivais.
Trechos
TEXTO I
"(...) minha filha tinha nascido. Eu estava devendo dinheiro, uma pobreza desgraçada (...). Eu sei que era dinheiro demais, paguei minhas contas e comprei um carro (...). Foi um luxo! (risos)". (ROGÉRIO, Rodger, 2002, p. 12-13)
WAGNER CASTROCOLABORADOR*
*Doutorando em Educação pela UFC
O QUE ELES PENSAM
Reflexões sobre a criação artística
"Não é ofício do poeta narrar o que realmente acontece; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível, verossímil".
MASSAUD MOISÉSEnsaísta
"Poesia: circunstância, paisagem, manifestação artística, situação existencial, etc. dotadas de aparência tida como bela ou comovente, ressonâncias".
Roberto Acívelo de SouzaEnsaísta
Qual o interesse de um artista em participar de festivais? Em Fortaleza, como se deu a convergência, transição e troca de experiências dos músicos e cantores originados do rádio nos idos dos anos 50, com outros artistas dos idos dos anos 60, com o surgimento da televisão, as tensões e embate entre os jovens artistas universitários? Qual a importância para os novos artistas geralmente, oriundos da Universidade para a "nova" "Música Popular Cearense", com os impasses surgidos com a Bossa Nova, Jovem Guarda, Tropicália e os festivais como meio de socialização, tensão, competição de músicos e divulgação dessas canções?
As duas margens
Os festivais podem ser divididos em de amostragem ou exibição, em que não há classificação e ganhadores e em festivais competitivos, geralmente com prêmios em dinheiro, com gravações servindo de prêmios; são seriados com várias eliminatórias como, por exemplo, alguns realizados em Fortaleza tal como os Nordestinos em fins dos anos 60, ou ainda, os produzidos pela TV Excelsior, pela TV Record e pela TV Globo ao longo dos anos 60, 70 e meados de 80. Existem, também, os festivais cooperativos, como os de show de calouros, ou ainda, os de audições de final de semestre em escolas de música.
O ponto de partida
Em meados dos anos 60, em Fortaleza, chamam atenção os três festivais de amostragem produzidos pelo Departamento de Cultura do Conservatório Musical Alberto Nepomuceno e patrocinado pela Secretaria de Educação do Município, realizados na Concha Acústica da Universidade Federal do Ceará conhecidos como I, II e III Festival de Música Popular Cearense, organizados pela professora, D´Alva Stela e pelo professor e pianista, Orlando leite. Participaram desses festivais, especialmente cantores originados do rádio, como Moreira Filho e José Jataí. O primeiro se realizou em 1965 e homenageou os maestros, compositores e boêmios, Lauro Maia e Luiz Assunção.
Em 1968, o IV Festival foi realizado em fins de novembro e início de dezembro. Algumas questões chamam atenção a respeito desse festival. Primeiro, houve uma modificação do nome para IV Festival da Música Popular do Ceará; segundo, o festival passou a ser competitivo, pois, haveria premiações em dinheiro ( o primeiro classificado ganharia NCr$ 500,00 ), além de outros brindes e cobertura pela imprensa); o que nos faz perceber uma espécie de mercado midiático e o quarto, o festival conseguia uma novidade: unir cantores e compositores do rádio, como Heitor Catunda, o violonista Aleardo Freitas e Luiz Assunção; e jovens secundaristas, como Raimundo Fagner, Marcus Francisco, Pretextato Melo e Marcus Vale; e universitários, como Antônio Carlos Belchior, Jorge Melo, Gustavo Silva dentre outros.
Primeiras luzes
Os secundaristas, Raimundo Fagner e Marcus Francisco, acabaram vencedores desse festival com o samba, Nada Sou. Com a vitória, Fagner decidiu-se pela carreira artística e, logo depois, "integrando" a turma de cearenses a qual ficou conhecida no eixo sudeste / sul como "Pessoal do Ceará" com Belchior, Ednardo, Jorge Melo, Rodger Rogério, Teti, dentre outros. Estimulados com a vitória, os secundaristas irão participar, logo na primeira semana de dezembro de 68, do I Festival de Música Popular Aqui. A despeito das intrigas e das controvérsias e lembranças de artistas e jurados sobre a participação de Piti, um integrante do grupo baiano, Nós, Por Exemplo (grupo este que originou o movimento Tropicalista), o qual teria sido convidado a participar do festival para ganhar.
O I Festival
O festival organizado por Aderbal Júnior (Aderbal Freire-Filho) na Rádio Assunção, com duas eliminatórias no prédio da escola Jesus, Maria José (hoje, tombado), classificou as doze melhores canções que tiveram como prêmio a gravação de um LP. O LP, que levava o mesmo nome do festival, pode ser considerado a primeira gravação do que se poderia considerar como "Música Popular Cearense" ou Música Universitária Cearense.
Em1969, tardiamente, os festivais de música alcançavam um caráter midiático, televisivo em Fortaleza com os Festivais Nordestinos da Música Popular promovidos pelos Diários Associados e realizados em quatro eliminatórias no Clube do Náutico Atlético Cearense, com transmissão da TV Ceará e da Ceará Rádio Clube. O jornal Correio do Ceará, pertencente ao grupo dos Diários Associados, fez a cobertura das quatro eliminatórias em Fortaleza dos quatro festivais.
Os Festivais Nordestinos
No I Festival Nordestino da Música Popular, o jornal faz referência às canções: Chapéu de Palha, de Ednardo, Bai, Bai Baião (Rodger Rogério / Dedé Evangelista) e Boca de Forno (Tânia Barbosa de Araújo), ambas interpretadas pelo consagrado cantor Ray Miranda. Bai, Bai, Baião representou o Ceará na grande final desse festival competitivo e classificatório em Recife, empatando em segundo lugar com a canção, Poema do Chapeuzinho Vermelho dos baianos, Alcivando Luz e Jairo Simões.
Os prêmios da grande final de Recife foram os seguintes: para os autores das músicas, 1º lugar, um automóvel Chrysler; 2º lugar, NCr$ 10 mil, 3º lugar, NCr$ 5 mil e para os intérpretes, 1º lugar, uma viagem de ida e volta aéreas a Lisboa; 2º lugar uma viagem ida e volta a Buenos Aires e 3º uma viagem ao Rio de Janeiro e ainda seria gravado um LP das 12 músicas da final de Recife. Rodger Rogério assim resumiu a mudança na sua condição social de músico, ao ser classificado em segundo lugar: (Texto I)
E os rapazes candidatos a artistas, que já participavam dos programas da televisão cearense como Por que Hoje é Sábado, de Gonzaga Vasconcelos, e Show do Mercantil, de Augusto Borges, conscientes do caráter midiático do festival, inscreveram-se: Ricardo Bezerra com Brandão, Jorge Melo, Belchior e Ednardo.
Apesar dos elogios da letra e arranjo do público, dos jurados e jornalistas presentes no Clube do Náutico, o orgulho da finalíssima em Recife do II Festival Nordestino para o Estado do Ceará foi o jovem Paulo Gomes, classificado em segundo lugar com seu samba Ora Essa.
Em outubro de 1971, foi realizado o III Festival Nordestino da Música Popular pela documentação conseguida no jornal "Unitário" (19/10/71), Ednardo classificou-sem, assim, na final de Fortaleza em segundo lugar com a canção, Além Muito Além.
Naquele momento, os Diários e Emissoras Associados já com problemas financeiros, notadamente pela ascensão da TV Globo, não tinham mais como organizar e divulgar festivais. Além disso, não representavam mais a grande mídia e nem era vislumbrada como investimento e interesse da indústria cultural pelos artistas vencedores dos seus festivais.
Trechos
TEXTO I
"(...) minha filha tinha nascido. Eu estava devendo dinheiro, uma pobreza desgraçada (...). Eu sei que era dinheiro demais, paguei minhas contas e comprei um carro (...). Foi um luxo! (risos)". (ROGÉRIO, Rodger, 2002, p. 12-13)
WAGNER CASTROCOLABORADOR*
*Doutorando em Educação pela UFC
O QUE ELES PENSAM
Reflexões sobre a criação artística
"Não é ofício do poeta narrar o que realmente acontece; é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível, verossímil".
MASSAUD MOISÉSEnsaísta
"Poesia: circunstância, paisagem, manifestação artística, situação existencial, etc. dotadas de aparência tida como bela ou comovente, ressonâncias".
Roberto Acívelo de SouzaEnsaísta
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