segunda-feira, 20 de agosto de 2012

'Minha conquista serve de exemplo', diz 1ª travesti doutora do Brasil

      Do G1 CE
Luma Oliveira, na defesa do estudo de doutorado, na Universidade Federal do Ceará (Foto: Igor Grazianno/UFC)
Luma Andrade, na defesa do estudo de doutorado,na
Univ. Federal do Ceará (Foto: Igor Grazianno/UFC)
 
A professora Luma Andrade, 35 anos, que se tornou a primeira travesti com doutorado do Brasil na sexta-feira (17), diz que sua carreira acadêmica vai servir de exemplo para que outros travestis busquem na educação uma forma de vencer o preconceito. "Nós vivemos numa posição que a sociedade nos impõe, à margem de tudo. E temos que quebrar esse paradigma e viver no centro da sociedade, a educação é uma das formas que temos para conseguir", diz a professora.
Luma defendeu o estudo elaborado em três cidades do Ceará "Travestis na Escola: Asujeitamento e Resistência à Ordem Normativa", na sexta-feira, na Universidade Federal do Ceará (UFC), e foi aprovada. O doutorado foi, segundo ela, uma "missão cumprida". Agora ela pretende seguir carreira política e obter um pós-doutorado.
Ela conta que já convenceu uma estudante travesti a manter-se na escola. "As pessoas não acreditam que uma travesti pode conseguir a vida com a educação. A estudante me perguntava: 'E é possível uma travesti estudar e ser uma doutora?'. E eu expliquei a ela que sou exemplo de que pode sim", diz Luma.
Além do pós-doutorado, ela tem como objetivo ser professora de uma escola federal no Ceará. Luma fez concurso público em 2010, quando ainda tinha no documento de identidade o nome de João Filho Nogueira de Andrade. Ela foi reprovada pela banca e recorreu do resultado, alegando ser vítima de preconceito. "Cerca de duas horas eles avaliaram o exame de várias pessoas, não há como isso ser feito, foi o que eu afirmei na justiça". Luma venceu em primeira instância, e a Universidade Regional do Cariri recorreu da decisão.
Ela sempre trabalhou como professora e atualmente acumula cargo na Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação na região cearense do Vale do Jaguaribe, que tem sede em Russas, no interior do estado. Quando começou a lecionar, Luma diz que sofreu resistência, da diretoria da escola, de alunos e de pais dos alunos.
"Como eu era a única da região que tinha formação para lecionar algumas disciplinas, eu fiquei como professora, mas o início foi bem difícil. Depois de inserir naquele meio, entendendo a sala de aula, passei a uma das professoras mais queridas da escola", conta.
Luma Andrade é filha de agricultores analfabetos, nasceu na cidade de Morada Nova, a 163 quilômetros de Fortaleza, e, no dia da mulher de 2010, ganhou o direito de mudar o nome nos documentos sem a operação de mudança de sexo.

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