sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Acidentes de trabalho crescem 103% no Ceará

Em 2012, três famílias pediram pensão por morte em consequência de acidentes de trabalho. A indústria da construção é uma área preocupante FOTO: KIKO SILVA
Em todo o Estado, 26 agentes fiscalizam essa área de segurança. Na região metropolitana, há apenas três atuando
Carência na fiscalização na área de segurança e saúde do trabalho, falta de consciência, tanto por parte dos empregados como dos empregadores, aliados à negligência e à ausência de prevenção vêm gerando um aumento expressivo dos acidentes de trabalho no Ceará. Os dados de acidentes não são atualizados e, muitas vezes, subnotificados.
Segundo a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Ceará, dos 121 auditores fiscais do trabalho que existem no Estado, apenas 26 atuam na área de segurança e saúde no trabalho, dos quais 23 estão lotados em Fortaleza. Os outros três atuam em Maracanaú, Sobral e Cariri, o que significa que dezenas de municípios não contam com fiscalização, fato que tende a facilitar o aumento do número de acidentes no trabalho.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS) mostram que, de janeiro a julho deste ano, três famílias de trabalhadores cearenses solicitaram ao órgão o pagamento de pensão por morte em consequência de acidentes de trabalho.

Entre 2006 e 2010, os acidentes cresceram 103% no Ceará, segundo a Previdência Social. Foram 5.965 acidentes em 2006 e 12.135 em 2010. No Brasil, 720 mil ficaram feridos em 2010 e 2.712 trabalhadores morreram em decorrência de acidentes de trabalho. Destes, 68 no Ceará.

Diante de todo este cenário, amanhã, o Conselho Superior da Justiça do Trabalho (SJT), o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o Tribunal Regional do Trabalho do Ceará (TRT/CE) e outras 25 instituições vão realizar um ato público pelo trabalho seguro na arena do Estádio Castelão, que emprega mais de 1.500 operários.

Manifestação
A ação está inserida dentro do Programa Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho do Ministério do Trabalho e deve acontecer nas 12 capitais que serão sedes da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014, Fortaleza.

Segundo Júlio Brizzi Neto, titular da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Ceará, é preocupante o número elevado, em termos relativos, de acidentes graves e fatais na indústria da construção. Também preocupam os acidentes graves por mutilação na indústria metal-mecânica e os acidentes por choque na distribuição elétrica.

Conforme ele, para reverter esse quadro é necessário o esforço articulado de empresários, representantes dos trabalhadores e do Governo. "Na definição das responsabilidades reservadas a cada parceiro social, sem dúvida, o ônus maior recai sobre os empregadores. São esses os detentores do poder de promover com mais rapidez e eficácia as melhorias necessárias nas condições de trabalho. Para tanto, faz-se mister, antes de mais nada, avançar no reconhecimento do direito à dignidade e à cidadania do trabalhador", diz.

Segundo Nicodemos Fabrício Maia, procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Ceará, 120 inquéritos sobre acidentes de trabalho estão ativos no órgão. Porém, o número poderia ser maior, já que segundo ele, a quantidade de auditores fiscais para saúde e segurança no trabalho é insuficiente.

Júlio Brizzi Neto reconhece que apenas 26 auditores fiscais atuando em todo Estado na área da saúde e segurança no trabalho trata-se de um número muito aquém das necessidades do órgão e da sociedade. Ele explica que este quadro vem se reduzindo gradualmente em decorrência das aposentadorias.

Porém, de 2011 para cá, o Setor de Segurança e Saúde no Trabalho da SRTE/CE recebeu cinco auditores provenientes de outras regionais, insuficientes para compensarem sete aposentadorias em um ano e meio. "Tudo é centralizado em Brasília na Secretaria de Inspeção do Trabalho no Ministério do Trabalho", diz. Ele acrescenta que há uma expectativa de que seja feito um novo concurso até 2013.

A presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT/CE), desembargadora Roseli Alencar, diz que há desinformação com relação à saúde e segurança, negligência e falta de prevenção de acidentes.

"O aumento das ações trabalhistas o crescente gasto da previdência social vêm gerando preocupação nos diversos setores. Para se ter uma ideia, a Previdência Social gasta cerca de R$ 71 bilhões por ano no Brasil com trabalhadores acidentados", analisa a desembargadora.

Investigação
120 inquéritos relacionados a esses acidentes estão abertos, segundo o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Ceará, Nicodemos Fabrício Maia

KARLA CAMILAREPÓRTER

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