sexta-feira, 1 de junho de 2012

Menino aguarda contato de família


A criança de cerca de dez anos foi encontrada sozinha, no bairro Cidade Nova. Conselho Tutelar e Dececa buscam por familiares FOTO: FABIANE DE PAULA
Busca por informação é dificultada pelo fato de a criança ser portadora de necessidades especiais e não se comunicar
Ele gosta de dançar e tirar foto. São essas as informações de um menino de, aproximadamente, dez anos de idade, encontrado no último domingo nas ruas do bairro Cidade Nova, antigo Pantanal. Por ser portador de necessidades especiais, a identificação do garoto é difícil, visto que ele não consegue se comunicar por meio da fala e também não conhece a linguagem dos mudos. Nem mesmo o nome do garoto se sabe.
A situação se agrava ainda mais por não ter sido registrado, até a noite de ontem, nenhum Boletim de Ocorrência (B.O.) na Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dececa) ou qualquer sinal de procura por algum familiar ou conhecido da criança.

Segundo o conselheiro tutelar Emanuel Acrísio de Freitas, o menino foi acolhido por uma senhora que, em seguida, comunicou o caso ao Conselho Tutelar. Na ocasião, o garoto estava vestido de calça jeans e camiseta branca. A criança não apresenta sinais de maus tratos.

"Essa é uma situação raríssima e bastante complicada. Primeiro, porque ele não se comunica. Segundo, porque não houve nenhuma procura de familiares por ele. Achamos que ele deve ser do Interior do Estado. A divulgação da imagem nos ajudará muito para que ele volte ao seu lar", comenta.

O menino está em uma das casas de acolhimento da Prefeitura, conhecida por Casa de Passagem. Se, em dez dias, não for encontrado parentes ou conhecidos, ele será encaminhado para um abrigo institucional.

O caso pode ser visto como uma demonstração da necessidade de uma rede interligada para tratar desaparecimentos de crianças e adolescentes no Ceará. Conforme Emanuel Acrísio, esta seria uma das ações mais importantes para que esses problemas sejam resolvidos rapidamente. "É essencial que uma rede de procura seja implantada. Este instrumento interligaria todo o Estado e possuiria um único banco de dados".

Outras duas crianças e uma adolescente estão, neste momento, sendo procuradas pela Dececa. Somente em fevereiro, 19 desapareceram, foram achados e entregues às famílias. Em todo o ano passado, 103 meninos e meninas desapareceram no Estado, destes 98 retornaram para casa.

Conflitos familiares

Célia de Sousa, chefe do setor de investigação de Crianças Desaparecidas da Dececa, explica que a maioria dos casos está ligada à fuga de menores por conflitos familiares. "Muitos meninos que saem de casa é por conta de briga entre familiares ou consumo de drogas. Já as meninas, que são grande parte, é mais devido a namorado, festas e discussão em casa", afirma.

Célia de Sousa também enfatiza a necessidade desta rede integrada e funcional entre os órgãos. A inspetora informa ainda a importância de ser feito um B.O. quando for notado o desaparecimento. "As famílias ficam desesperadas. A vida é suspensa. No caso deste menino, não há nenhuma ocorrência de procura por ele. Apenas a imprensa pode nos ajudar, já que ele também não consegue falar".

Conforme a inspetora, as outras crianças e adolescentes desaparecidos e que seguem sendo procuradas são Ana Cléia, de 17 anos, vista pela última vez em julho de 2011, numa festa em Maracanaú; Daniel Teodógio, 14 anos, visto em vários terminais de ônibus na Capital; e Givanilson Sideles de Araújo, 13 anos, do Vicente Pizon, suspeita-se que ele tenha saído na companhia de caminhoneiros.

O conselheiro tutelar Emanuel Acrísio informa que, hoje, o órgão acompanha 80 casos recorrentes, em Fortaleza, de menores que fogem, são achados e devolvidos à família, mas desaparecem novamente.

Uma das maneiras de contribuir na busca por essas crianças é saber de que forma agir ao se desconfiar que pode ser uma desaparecida. Acrísio explica que a principal diferença entre estes menores e os que vivem nas ruas é que aqueles andam por bairros, perambulando sem rumo; já estes preferem pontos fixos em grandes corredores. "A pessoa que encontrar uma criança e quer ajudar deve acolher a mesma e, antes de 24 horas, avisar o poder público, como Conselheiro ou uma delegacia", avisa.

A partir de hoje, Fortaleza terá um posto do Conselho Tutelar funcionando em regime de plantão. A unidade da Regional I, na Av. Bezerra de Menezes, 480, prestará atendimento aos sábados, de 8h às 17h, e aos domingos e feriados, de 8h às 12h.

Desaparecimentos
103 crianças e adolescentes desapareceram, em 2011. Destes, 98 foram encontrados e encaminhados aos familiares ou responsáveis, segundo a Dececa

JÉSSICA PETRUCCIREPÓRTER

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