sexta-feira, 25 de maio de 2012

Exame confirma ausência de agrotóxicos em orgânicos

Avaliação do Nutec atesta inexistência de venenos em frutas e verduras vendidos em pontos da Capital
Fortaleza. Produtos orgânicos vendidos em estabelecimentos comerciais de Fortaleza estão isentos de qualquer contaminação por agrotóxicos. Esse é o resultado da pesquisa exclusiva feita pela Fundação do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), solicitada pelo Diário do Nordeste. A avaliação focou amostras de pimentão, alface, tomate, pepino e bananas, que foram examinadas tendo como base ingredientes ativos em pesticidas utilizados como defensivos agrícolas.
Os itens foram adquiridos em três estabelecimentos comerciais de Fortaleza (Portal do Orgânico, Mercadinho Japonês e Mercadinho São Luis), no dia 8 deste mês, e levados a exame no Nutec na mesma data. Os laudos, que foram assinados pela química industrial Maria da Conceição do Nascimento Monteiro, coordenadora da Área de Alimentos, e a química Solange Maria Bastos, supervisora do Núcleo de Tecnologia de Alimentos e Química, mantidos pela Fundação, e foram unânimes em destacar a inexistência de nenhum dos ingredientes pesquisados.

Essa pesquisa se contrapõe com uma anterior, também realizada pelo Nutec, por solicitação do Diário do Nordeste, também com cinco tipos de frutas e verduras não orgânicos, adquiridos na Ceasa, em Maracanaú, na Região Metropolitana. Esses resultados foram divulgados em 5 de dezembro do ano passado. Na ocasião, o tomate e o pepino apresentaram a substância Clorpirifós, que tem sua comercialização proibida no País.

Para o professor do curso de Ciências Ambientais, do Labomar, Rivelino Cavalcante, os resultados confirmam o alerta da comunidade científica sobre a necessidade de se investir nos produtos orgânicos como alimentação sadia e exigir do poder público medidas restritivas contra o uso de agrotóxicos.

"Esta pesquisa fortalece nossa convicção de que é possível manter uma agricultura livre dos agrotóxicos e não a proliferação dos venenos", disse o pesquisador, que esteve à frente de um estudo comprovando que mais de 50 princípios ativos de defensivos agrícolas estavam se infiltrando no subsolo e nos lençóis freáticos da Região do Vale do Jaguaribe.

Câncer
A médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária e coordenadora do Núcleo Trabalho e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Rigotto, obervou que os resultados demonstram a viabilidade do governo valorizar mais a agricultura orgânica. Ela lembrou que a alimentação convencional, susceptível ao uso dos pesticidas, são danosos tanto para o consumidor, quanto para os trabalhadores rurais. Os estudos comprovam a relação de incidência de casos de cânceres e dos disruptores endócrinos, resultando na alteração hormonal, tais como a puberdade precoce e infertilidade humana. Além disso, a professora ressaltou que os danos são drásticos para o meio ambiente, com a contaminação do solo.

"O que acontece é que os alimentos convencionais são bem mais baratos do que os orgânicos. Mas isso não revelam os verdadeiros custos para o consumidor, quer nos efeitos sobre a saúde, quer na isenção de impostos concedida ao comércio de defensivos agrícolas". Ela defende maior incentivo à agricultura familiar, responsável pelos alimentos mais sadios, e menos para o agronegócio. Os números de 2011, conforme disse, confirmam essa disparidade, uma vez que se investiu R$ 107 bilhões no agronegócio e apenas R$ 32 bilhões na agricultura familiar.

"Esse é um tipo de comércio que favorece os grandes produtores, os comerciantes, mas extremamente prejudiciais à população, ao trabalhador e ao meio ambiente", afirmou.

FIQUE POR DENTRO
Exame constata itens com venda proibida no País
O caso do Clorpirifós, encontrado na primeira pesquisa, trata-se de biocida, que mata micro organismos das plantas e polui o meio ambiente. O Clorpirifós foi proibido no Brasil. Outras substâncias proibidas ainda em uso no Ceará com grande evidência são Tiofanato-metílico, Imidacloprido, Glifosato, Clorotalonil, Atrazina e o Cipermetrina. Os ingredientes ativos pesquisados pelo Nutec foram: Ametrina, Buprofezina, Clorobenzilato, Etridiazol, Imibenconazol, Parationa metílica, Propacloro, Atrazina, Ciproconazol, Cloroneb, Fenarimol, Lambda-cialotrina, Pendimentalina, Triazofós, Azoxistrobina, Clordano, Crezoxim metílico, Fenitrotiona, Malationa, Permetrina, Trifluralina, Bifentrina, Clorotalonil, DCPA, Hexaclorobenzeno, Metalaxil, Piraclostrobina, Boscalida, Clorpirifós, Deltametrina, Imazalil, Molinato e Piriproxifem.

Mais informações:
Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec)
Rua Prof. Rômulo Proença - Pici
Telefone: 3101.2445

http://www.nutec.ce.gov.br

Primeira pesquisa em dezembro
Em dezembro passado, o Diário do Nordeste solicitou pela primeira vez um exame de frutas e verduras comercializadas na Ceasa. Foram cinco itens encaminhados (tomate, melão, pimentão, pepino e alface) para pesquisa no laboratório do Nutec.

O laudo alertou para o uso de substâncias ativas de agrotóxicos. De lá para cá, o Ministério Público recomendou providências ao Estado para uma atenção não apenas para os produtos comercializados na Ceasa, como todos que se destinavam no atacado ou no varejo dos centros de revenda à mesa do consumidor.

Quando da apresentação dos resultados da primeira pesquisa solicitada ao Nutec, a Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) pediu a instauração de inquérito administrativo e policial para apurar o comércio de alimentos contaminados por agrotóxico.

A decisão foi tomada pela então coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (Aomace), mantido pela PGJ, a procuradora de Justiça, Sheila Pitombeira.

Na ocasião, ela também requereu ao Ministério Público em Maracanaú para que acompanhasse o caso. Ao longo deste semestre, a reportagem procurou contato com o Ministério Público, através do promotor Fabrício Barbosa, naquele Município, sem que houvesse qualquer atendimento. O laudo foi explícito ao identificar a presença do Clorpirifós, em tomates e pepinos vendidos na Ceasa, apesar do produto ter sua comercialização vetada no País.

Conscientização
A engenheira agrônoma e secretária do Grupo de Coordenação de Estatísticas Agropecuárias do Nordeste, mantido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Regina Lúcia Feitosa Dias, aposta na crescente conscientização do consumidor para optar pelos produtos orgânicos. No entanto, vê que não há estímulo do governo, em vista do já reconhecido baixo investimento na agricultura familiar e na insistência do modelo agrícola com ênfase no agronegócio. Ela ressalta que os dados da produção da agricultura orgânica são incipientes, mas uma educação ambiental se faz necessária, tanto para aumentar o nicho dos produtores rurais, quanto para disseminar ainda mais uma cultura de alimentação sadia.

Para a engenheira agrônoma, existe ainda um conceito de que os alimentos orgânicos são caros e isso afasta o consumidor. Ela lembra que se for levar em conta os preços expostos nas prateleiras dos supermercados e mercadinhos, chega os orgânicos a custar até o dobro do valor dos produtos convencionais.

Contudo, os danos à saúde, como são ressaltados por especialistas como a médica Raquel Rigotto, apontam para que o consumidor opte por alternativas alimentares mais seguras.

Regina Feitosa observa que o problema maior é com relação à restrição da oferta, que caso haja um aumento da demanda, não haveria como manter um equilíbrio na relação entre fornecedores e consumidores.

Segundo a Anvisa, para reduzir o consumo de agrotóxico em alimentos, o consumidor deve optar por produtos com origem identificada. Essa identificação aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos, com adoção de boas práticas agrícolas.

O comércio desordenado das substâncias tóxicas utilizadas para combater pragas e organismos que atacam plantas e lavouras tem uma particularidade no Ceará, segundo os especialistas. Alguns itens são isentos 100% do ICMS e do Cofins.

MARCUS PEIXOTOREPÓRTER

Nenhum comentário:

Postar um comentário