sexta-feira, 4 de maio de 2012

De bengala, Lula critica países ricos


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O ex-presidente fez o primeiro discurso após o tratamento contra o câncer na laringe e, apesar da dificuldade inicial, leu o texto com firmeza até o fim. Aparentemente, a bengala foi usada por precaução
FOTO: RICARDO STUCKERT/ INSTITUTO LULA
 
O alvo de Lula foi as nações que cortam gastos sociais, mas ajudam as instituições que causaram a crise
Rio de Janeiro. De bengala, sem improvisos - diferentemente de seu costume, leu um texto preparado com antecedência - e com um duro ataque à resposta dos países ricos à turbulência econômica, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem seu primeiro discurso completo desde que se submeteu a um tratamento contra o câncer na laringe entre o fim de 2011 e os primeiros meses de 2012."Punem as vítimas da crise e distribuem prêmios para os responsáveis por ela. Há algo muito errado nesse caminho", afirmou na abertura do seminário "Investindo na África: Oportunidades, Desafios e Instrumentos para Cooperação Econômica", no auditório do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), parte das comemorações pelos 60 anos da instituição.

O ex-presidente foi aplaudido de pé ao entrar com o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Vestindo blazer escuro, gravata vermelha e calça clara, com os cabelos ralos, aparência frágil e pálido, Lula surpreendeu quem não o vira por muito tempo. Aparentemente, usava a bengala apenas como medida de segurança, porque andava normalmente.

Segundo sua assessoria, desde o início do tratamento o ex-presidente perdeu dezoito quilos, inclusive massa nas pernas. Faz fisioterapia para fortalecê-las e recorreu ao apoio ontem, pela primeira vez, devido à extensão da programação.

Em 14 de abril, em São Bernardo do Campo, tentou discursar, mas com sete minutos um acesso de tosse o calou. Hoje, após um início cauteloso, leu o texto com firmeza até o fim.

"Faz sete meses que eu não falo, espero não ter desaprendido a falar", disse Lula, com a voz ainda fraca, sentado ao lado de Cabral e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel". Vou tentar ler aqui o mais devagar possível, para ver se a garganta permite que eu termine. O discurso não é longo não, apenas vou falar mais devagar".

Crítica
Depois das dificuldades iniciais, o ex-presidente firmou a voz e foi bem até o encerramento, exaltando as relações de cooperação entre o Brasil e o continente africano, que ganharam grande impulso em seu governo. "Em lugar de ficarmos paralisados com a crise, que não foi criada nem por brasileiros nem por africanos, precisamos estreitar relações. O Atlântico não mais nos separa, nos une nas mesmas fronteiras, nos banhamos nas mesmas águas", disse.

Ele criticou os países ricos que cortam gastos sociais e investimentos, aprofundando a recessão, e concedem ajuda às instituições financeiras que, segundo ele, provocaram a crise.

Festejado por todos, depois da solenidade, foi cercado por participantes, entre eles diplomatas africanos. Tentou poupar a voz, mas não se recusou a posar para fotos. Assistiu na primeira fila à palestra de empresários da África. Depois, almoçou no BNDES. Hoje, receberá o título de doutor honoris causa das universidades federais do Rio.

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