segunda-feira, 23 de abril de 2012

Áreas invadidas viram ´território´ do tráfico de drogas e de assassinatos



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Na Barra do Ceará, a invasão ao antigo prédio da fábrica Villejack virou a Favela Gueto, onde traficantes contam com a ajuda dos moradores até para fazer barricada e impedir a entrada da Polícia FOTO: KIKO SILVA
São locais onde a PM tem enfrentado, nos últimos dias, resistência de moradores no combate ao tráfico
Barra do Ceará e Jangurussu tornaram-se, nos últimos meses, uma das principais ´dores de cabeça´ para as autoridades da Segurança Pública na Capital. Nestes dois bairros de Fortaleza, áreas invadidas agora são locais de persistente tráfico de drogas que, aliado à circulação de armas de fogo ilegais e a presença de ex-presidiários e fugitivos da Justiça, vem contribuindo para aumentar os índices de assassinatos praticados pelo tráfico contra jovens e adolescentes.
Foi a partir dessa constatação que a SSPDS determinou à Polícia Militar intensificar as operações de ´saturação´ e ocupação nas duas comunidades. Na Barra do Ceará, dois pontos considerados críticos estão sendo vigiados diuturnamente pela PM.

Gangues
Um desses pontos é o Morro de São Tiago, na Comunidade das Goiabeiras. Ali, gangues rivais de traficantes vêm patrocinando cenas de violência e tornando os moradores reféns do terror na Favela do ´Inferninho´ e na Comunidade Vila do Mar. Duas gangues, denominadas de ´Ratos da Barra´ e ´Diabos do Polo´, já travaram diversos tiroteios. O último, ocorreu há dez dias e deixou o saldo trágico de três pessoas mortas e outras duas baleadas.

Gueto
O segundo local que preocupa a Polícia ainda na Barra do Ceará e a Favela do Gueto, que, na verdade, se trata de uma ocupação ilegal de dezenas de famílias de sem-teto no terreno onde antes funcionavam a indústria de roupas Villejack, na esquina das avenidas Francisco Sá e Senador Roberto Kennedy, na Zona Oeste da cidade.

Naquela invasão, a Polícia já registrou diversos crimes de morte, neste ano, e vem encontrando dificuldades para controlar a segurança, já que os ´invasores´ tornaram-se aliados dos traficantes. Drogas e armas estão escondidas no lugar, onde a Polícia já fez diversas prisões.

Na noite da última quinta-feira, os moradores montaram até uma barricada para impedir que os carros da Polícia entrassem no local. "Somente as nossas motos e o policiamento à pé tiveram como entrar ali", contou o comandante do 5º BPM, tenente-coronel Francisco Souto, que estavam à frente de uma operação batizada de ´Bairros Seguros´, que tenta reverter a escalada dos homicídios na RMF.

Em duas semanas de operação da PM em diversos bairros da Capital, mais de 20 armas foram apreendidas na RMF.

Moradores acabam reféns do crime
“Saiam daqui, vão embora senão eles vão atirar em vocês. Esse negócio aí de Reportagem e nada é a mesma coisa pra eles. Vão embora, senão eles vão começar a atirar!”

A advertência foi feita por um morador da Favela do Gueto, na Barra do Ceará, aos repórteres do Diário do Nordeste, na semana passada, quando a equipe foi ao local especificamente fotografar a entrada da comunidade onde, no dia anterior, os moradores montaram uma barricada com paus, pedras e até um sofá velho, para impedir ou, ao menos, dificultar a entrada da Polícia no local.

Crimes
As palavras do morador da favela aos jornalistas traduz o clima reinante naquele local. Por vários anos, o terreno onde estava instalada a fábrica de roupas jeans Villejack ficou preservado, mesmo após a empresa entrar em desativação.

No entanto, há cerca de três anos, o local foi invadido e se transformou num ajuntamento de barracos, depois transformados em pequenas casas de alvenaria. O amontoado de casebres, com becos para todos os lados, ajudou aos traficantes a se instalarem ali.

O comandante da 3ª Companhia do 5º BPM (Pirambu), major PM Marden Oliveira, tem determinado a seus policiais realizarem constantes batidas no local. Equipes do Batalhão de Rondas Intensivas e Ostensivas (BpRaio) também fazem constantes incursões com o apoio do Comando Tático Motorizado (Cotam), mas a dificuldade de localizar as armas e drogas dos traficantes é presente.

“Estamos realizando operações permanentes não apenas lá, mas em outras áreas de risco, buscando fazer o desarmamento e apreender entorpecentes”, conta o comandante do 5º BPM, tenente-coronel Francisco Souto, responsável pelo policiamento em mais de 120 bairros da Capital cearense.

José Walter
Do lado oposto da cidade, o cenário se repete. Acontece numa invasão chamada Montenegro, localizada próxima ao Conjunto Prefeito José Walter, na zona sul. Em poucos meses, a área foi invadida por dezenas de famílias sem-teto, procedentes do Interior e de outras áreas da Grande Fortaleza.

O resultado isso, a instalação do mesmo cenário que ocorre na Barra do Ceará. Traficantes se instalaram em meio aos moradores e, com jovens armados, se tornaram responsáveis pela execução de várias pessoas. Eram jovens, em sua maioria, que estavam e dívida com o tráfico e não tiveram como pagar o que deviam. Acabaram sendo eliminados com muitos tiros.

Um policiais do 8º DP (José Walter), que pediu para não ser identificado na reportagem, conta que, para entrar naquela invasão, a Polícia Militar precisa reunir algumas viaturas. “Se entrar só uma, leva bala”, revela.

Pontos da violência
Com base nos registros estatísticos, a Secretaria da Segurança Pública, através dos seus setores de Inteligência e operacional, tem determinado ao Comando do Policiamento da Capital (CPC) as constantes operações de ocupação e saturação.

Esse trabalho já vem trazendo resultados positivos em setores da Capital que, até então, apresentavam altos índices de crimes, como a área do Conjunto São Miguel, em Messejana.

Armamento e crack são apreendidas na favela
No mês passado, uma grande operação desencadeada na Favela do Gueto (Barra do Ceará) pela Delegacia de Narcóticos (Denarc) e Departamento de Polícia Especializada (DPE) resultou numa expressiva apreensão de armas de fogo de grosso calibre - como escopetas de calibre 2 e pistolas Ponto 40 - além de drogas, munição de diversos tipos e motocicletas roubadas que eram usadas no vai-e-vem dos ´aviões´ do tráfico naquela zona da cidade.

Segundo a Polícia, a dificuldade de entrar no local tem favorecido os traficantes na hora das operações. Eles conseguem fugir ou se escondem nas casas dos moradores e ali ficam até a Polícia ir embora. Também ficou constatado pela equipe da Denarc que motos roubadas nas ruas de Fortaleza são levadas para o Gueto e ´desmanchadas´.

Jangurussu
Do outro lado da Capital, a área do Grande Jangurussu vem também "tirando o sono" das autoridades policiais. A área é imensa e abriga diversos bairros considerados violentos, como o Conjunto Palmeiras, Conjunto São Cristóvão e o João Paulo II.

Segundo o coronel F. Souto, dentro do Grande Jangurussu, quatro comunidades apresentam altos índices de violência armada, especialmente em se tratando de assassinatos de jovens usuários de drogas ou envolvidos em delitos como assaltos.

São eles, o Conjunto João Paulo II, Conjunto Maria Tomázia, São Cristóvão e o Palmeiras. A Inteligência da 2ª Companhia do 5º BPM (Messejana) já identificou a presença de grupos criminosos nas comunidades do Circo Escola, Jagatá, Saquarema e Piçarreira, todas no Conjunto Palmeiras. A presença de traficantes e seus ´aviões´ armados vem sendo reprimida.

FERNANDO RIBEIROEDITOR DE POLÍCIA

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