sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Professores lideram pedidos de licença médica na Capital

Professor conta que um aluno já tentou arremessar um tijolo contra ele
Professor conta que um aluno já tentou arremessar um tijolo contra ele -Foto Tuno Vieira
Levantamento do IPM indica que, além de patologias da voz, esses profissionais sofrem de depressão e neurose
Um dos maiores vilões para o exercício do magistério, o giz, entrou em desuso, em algumas escolas da rede pública, há pelo menos uma década. Contudo, na difícil tarefa de transmitir o conhecimento, outros vilões persistiram ou despontaram e são, hoje, os responsáveis por tornar o educador o profissional que mais se ausenta do trabalho devido às questões de saúde.
Em Fortaleza, os professores da rede pública lideram os pedidos de licença médica e de transferência de função, conforme levantamento do Instituto de Previdência do Município (IPM). No ano passado, a Junta Médica do IPM realizou 19.415 atendimentos. A licença médica foi a principal demanda, sendo concedidas, no período, um total de 10.561. Entre os servidores municipais atendidos, sobressaíram-se os professores, para os quais foram concedidas 4.921 licenças e 591 readaptações.

Saúde

Apesar de, no Município de Fortaleza, os professores serem maioria (chegam a quase 35 mil servidores), o levantamento indica que a categoria tem um quadro de saúde preocupante, admite a coordenadora da Junta Médica do IPM, Auxiliadora Gadelha. As patologias decorrentes do uso excessivo da voz lideram entre os problemas físicos. Já as neuroses, depressões e síndrome do pânico são as questões psíquicas mais comuns.

"Tem profissional que entra em pânico ao se deparar, em sala de aula, com a problemática de crianças pobres, com famílias desestruturadas, que muitas vezes usam drogas ou até mesmo são agressivas", observa a médica do IPM. Quanto às doenças da voz, ela cita as disfonias, laringites e pólipos focais.

Também a chefe da equipe lotação de pessoal da Secretaria de Educação do Município, Leuma Asfor, reconhece o grande número de pedidos de afastamentos do trabalho por parte do professores da rede pública. "Hoje, o educador não tem nem vez nem voz", reclama, explicando ser difícil, em muitas situações, conter crianças e adolescentes indisciplinados. "Algumas são mesmo violentas. Chegam a ameaçar o professor, até mesmo devido à nota baixa que recebem", conta ela.

Leuma Asfor confirma não serem raros os pedidos de afastamentos motivados pelas ameaças de morte por parte de estudantes que tiveram contrariedades de pouca relevância. "Alguns alunos cumprem regime de liberdade assistida", lembra, adiantando que os conflitos registrados na escola, muitas vezes, são apenas uma decorrência do que já existe dentro de casa. "Isso e a carga horária excessiva provocam uma situação de muito estresse", comenta.

O quadro de aflição e temor vivenciado por muitos professores foi facilmente comprovado pela reportagem em uma rápida visita a escolas da rede pública. Embora, de um modo em geral, a diretoria dos estabelecimentos de ensino fizessem questão de negar as ocorrências de conflitos, alguns professores admitiram o problema. Porém, temerosos de represálias por parte dos alunos, preferiram omitir a sua identidade.

Agressões

"A gente vive em estresse contínuo", afirma um professor de Educação Física da rede municipal e estadual, relatando que um aluno já tentou arremessar contra ele um tijolo, sem nenhum motivo aparente. "Ele brigava com facilidade com os colegas e até tinha chutado uma garota. Noutra ocasião, recebeu ameaça de morte de um estudante que ele levou para a direção devido à indisciplina e por se negar a fazer suas tarefas. O professor chegou a fazer um Boletim de Ocorrência na Delegacia, mas retirou o BO ao saber que o adolescente, residente no bairro Tancredo Neves, era envolvido com drogas. Eu tive até problemas digestivos, refluxo. É uma situação pesada", relata.

Medo, palpitações cardíacas e estresse foram os principais tormentos vivenciados por uma professora de uma escola do bairro do Mucuripe após ser ameaçada de morte. Ela recorda que um aluno, anonimamente, fez chegar às suas mãos um bilhete contendo desenho de uma pessoa sendo perfurada com um punhal, inclusive nos órgãos genitais. Apavorada, pediu licença e nunca mais retornou àquela unidade. "Não houve sequer uma investigação para se descobrir o autor dos desenhos", lamenta ela, lembrando que também tem doenças nas cordas vocais.

Escola realiza trabalho para conscientizar
A vice-diretora da Escola Municipal do Ensino Infantil e Fundamental (EMEIF) José Ramos Torres de Melo, Janaína Silva, garante que, nesta unidade da rede pública municipal, localizada no bairro do Mucuripe e em área de abrangência da Secretaria Regional II (SER II), não são identificados conflitos entre os alunos e professores.

A escola, atualmente, vem desenvolvendo a Campanha "Respeito é bom e eu gosto" como uma das estratégias para conscientizar os alunos quanto aos valores morais necessários a um boa convivência na escola. "A gente procura incutir no aluno a importância de uma boa convivência com os colegas, professores e funcionários", cita.

Problemas vocais

Contudo, adiantou, são comuns problemas de voz entre os educadores. Fenda glótica e calos nas cordas vocais destacam-se, já tendo provocado o afastamento de alguns profissionais das atividades. "Eles precisam falar muito com os alunos e terminam comprometendo a voz", afirma.

MOZARLY ALMEIDAREPÓRTER

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