quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Exposição relembra máquinas ´lambe-lambe´ em Juazeiro

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O artista plástico Rogê Venâncio resgata a fotografia popular através da exposição
ELIZÂNGELA SANTOS
Apesar da criação de novas tecnologias, painelistas ainda atuam em Juazeiro durante as festas religiosas
Juazeiro do Norte. Uma instalação voltada para um passado não muito distante traz à lembrança a forma de captação de imagens analógicas, abordando o sentido da popularidade na fotografia. Os profissionais que lotavam as calçadas de Juazeiro do Norte com suas máquinas lambe-lambe e painéis com os santos da devoção do povo são lembrados. A exposição Foto Silva, no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN Cariri), expõe, até o dia 10 de março, o que há de mais popular na fotografia.
A busca dos "Silva", um dos nomes mais populares do Brasil, faz com que o visitante entre as inúmeras fotografias 3x4 esteja em sua própria procura. Um trabalho concentrado que o artista plástico Rogê Venâncio, com a curadoria da fotógrafa Nívea Uchôa tiveram para dar uma feição bem próxima da realidade desse horizonte da fotografia que se perdeu, praticamente, no tempo, em virtude da digitalização das imagens.

Mas há quem ainda fabrique, em Juazeiro, as famosas caixas que eram colocadas nas calçadas e praças do centro, para o momento solene da pequena fotografia em preto e branco para os documentos. Muitos dos fotógrafos lambe-lambe resistiram ao tempo em Juazeiro. Segundo Rogê, na praça do Romeiro, durante as festas religiosas da cidade, muitos painelistas ainda permanecem realizando os sonhos dos romeiros que querem sair do Município com a imagem de Nossa Senhora das Dores, Padre Cícero e outros santos de sua devoção. Seria como penetrar de forma lúdica nesse mundo celestial, segundo o artista.

Os monóculos tão comercializados até poucos anos atrás são expostos com imagens de romeiros e moradores de Juazeiro. "Alguém pode se encontrar aqui, nesses filmes", diz. A distribuição de rolos de filmes no chão e fotos anônimas nas paredes, que formam, com mais de 500 imagens 3x4, um desenho do Padre Cícero é uma forma de homenagear o mito. "Foi justamente esse fenômeno da religiosidade que fez com que Juazeiro se tornasse diferente de tantas outras cidades nordestinas e fez sobreviver essa expressão da fotografia em nossa cidade".

No comércio da cidade, ainda podem ser encontrados materiais como monóculos, mesmo já estando quase em desuso. A homenagem à fotografia lambe-lambe veio com uma máquina no capricho, feita pelo fotógrafo João Braz, que tem mais de 60 anos de fotografia. Aos 81 anos, Braz demonstra amor pela profissão. Está lá, vendendo sonhos para o povo irmanado pela fé, com a velha máquina polaroid aplicada ao formato lambe-lambe no capricho. O fotógrafo arruma o fotografado e mexe com o imaginário de cada cliente, no momento solene.

Queixa
O último dos lambe-lambe de Juazeiro do Norte é um incansável batalhador pela sua atividade. Francisco Pereira da Silva, seu Chico Alagoano, 80 anos, 54 de profissão. Chegou a marca de quase 500 fotos por dia, na praça da Prefeitura de Juazeiro. Hoje, continua lá - com sua Olympus- Pen, aderindo ao colorido - permanece até quase meio-dia com sua esposa, também fotógrafa, Cícera Barbosa, mesmo sem tirar nenhuma foto. A queixa está na modernidade, no computador. Mas ele fala do golpe de vista, da inteligência para o bom fotógrafo - indispensável a um veterano. Está lá, tudo isso registrado no filme Câmara Viajante, na base do verso, em que seu Chico Alagoano, como é conhecido, é um dos destaques.

Para Rogê, que também tem em o sobrenome Silva, a exposição homenageia o que praticamente se extinguiu no Nordeste brasileiro. "É algo muito lúdico que precisa ser resgatado. O que eu quis mostrar nesse trabalho é que a fotografia analógica no Nordeste é algo riquíssimo", diz. Quase todo o acervo de fotografias da exposição foi cedido pelo Museu Vivo Padre Cícero, através do padre José Venturelli. São fotos de romeiros que depositam os seus ex-votos no Horto. Uma lembrança que ficou no espaço sagrado tão presente na vida dos fieis que se deslocam de várias partes do Nordeste até o Juazeiro do Norte.

Homenagem
Houve tempo em que ele e toda a família, mulher e 10 filhos, eram fotógrafos. Na praça estavam mais de 40 fotógrafos e as filas eram intermináveis para tirar 3 por 4 para as carteiras de trabalho, algo novo para o seu tempo, carteiras do INPS, título de eleitor. Como bom fotógrafo popular era um dos únicos ´mão no saco´ que frequentavam a feira do Crato.

O material representa o cotidiano das pessoas e a maneira como elas vivem. Praticamente todo o acervo de fotografias da exposição foi cedido pelo Museu Vivo Padre Cícero, por meio do Padre José Venturelli. São fotos de romeiros que depositam os seus ex-votos no Horto.

Mais informações
Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri
Rua São Pedro, 337
Centro - Juazeiro do Norte
Telefone: (88) 3512.2855


ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTER

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