A taxa de homicídios entre jovens de 12 a 17 anos foi de 19,1 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2009. Em 2004, esse número era praticamente a metade: 10,4 KIKO SILVA |
Relatório do Unicef analisa a situação dos adolescentes a partir da evolução de indicadores entre 2004 e 2009
No Ceará, atualmente, vivem 1,044 milhão de adolescentes, o que representa 12,4% do total de habitantes do Estado. Porém, centenas desses meninos e meninas acabam perdendo a vida muito cedo. Pelo menos é o que mostra os números do relatório “Situação da Adolescência Brasileira 2011”, divulgado na manhã de ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para se ter uma ideia da situação, a pesquisa revela que, em seis anos, a taxa de homicídios no Estado entre adolescentes de 12 a 17 anos praticamente dobrou, passando de 10,4 assassinatos a cada 100 mil habitantes nessa faixa etária, em 2004, para 19,1 no ano de 2009.
Apesar desse crescimento, o Ceará empata com a média nacional, que permanece estável desde 2004, com 19,1 homicídios na mesma proporção. Em relação a região Nordeste, o Estado está abaixo da média, que é de 24 assassinatos. Entretanto, ainda se apresenta com o quinto maior índice das mortes provocadas entre adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, perdendo para Alagoas; em primeiro lugar com 34,7 assassinatos, Pernambuco; com 34,3, Bahia com 31,1, e Paraíba; com 28 homicídios na mesma proporção. Mas, foi o Estado baiano que apresentou o maior crescimento negativo, passando de 8,6 homicídios para 34,3.
Segundo Ana Márcia Diógenes, coordenadora do Unicef Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, o relatório foi realizado com base nos dados preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010, e teve como objetivo analisar a situação de meninas e meninos de 12 a 17 anos a partir de 10 indicadores sociais e da evolução entre 2004 e 2009. De acordo com ela, o documento também traz a análise das políticas públicas desenvolvidas no Brasil, ponta os principais avanços e desafios na garantia dos direitos do adolescente.
Conforme a coordenadora, o Ceará vem evoluindo em áreas como educação e saúde, mas as taxas de homicídios e a situação de pobreza extrema entre os adolescentes ainda são muito altas. Baseando-se no relatório, Ana Marcia Diógenes afirma que os adolescentes cearense negros possuem quarto vezes mais chances de serem mortos do que os brancos. “Nessas estatísticas estão inclusos: a baixa renda familiar, o menor acesso a escolas e a moradia em áreas de risco. O Adolescente negro é muito mais vulnerável”.
Pobreza
Ainda de acordo Marcia Diógenes, apesar de existirem casos de homicídios envolvendo jovens de classe média e alta, os casos ainda estão muito ligados a pobreza no Pais. Segundo dados do relatório, no Ceará, o percentual de adolescentes de 12 a 17 vivendo em famílias extremamente pobres, ou seja com renda mensal de 1/4 do salário mínimo ainda é de 31,8%. Segundo a coordenadora do Unicef, essa estatística não apresentou melhora significativa nos últimos seis anos, pois em 2004 o percentual era de 32,9% dos jovens vivendo na mesma situação.
Ainda de acordo com ela, apesar do Estado se equiparar a média do Nordeste que é 32% dos adolescentes nessa faixa etária vivendo na extrema pobreza, está muito longe da média nacional que é de 17, 6%. “O único grupo onde a pobreza está aumentando consideravelmente é entre adolescentes. Essa situação gera vulnerabilidade. Enquanto o Brasil não construir um novo olhar em relação a essa faixa etária e desenvolver políticas públicas, o País não vai avançar”, conclui.
No mesmo período
Mais jovens estão no Ensino Médio
Apesar do crescimento negativo na taxa de homicídios e na permanência da pobreza extrema entre os adolescentes no Ceará, a área da educação mostra alguns números satisfatórios. De acordo com o relatório do Unicef, em 2004, o percentual de jovens entre 15 e 17 anos frequentando o Ensino Médio era de 34%. Já em 2009, esse número aumentou para 49,6%.
O dado classifica o Estado com a média mais alta da região Nordeste. Em seguida, vem o Maranhão que possue 40,2%, Rio Grande do Norte com 39,9% e Pernambuco com 38,2%. O último lugar foi o Estado alagoano, que apresentou um percentual de 33,3%. No País, a média é de 50,9% de adolescentes nessa faixa etária cursando o ensino médio.
Para Márcia Diógenes, os dados revelam que o adolescente cearenses estão entrando mais cedo na escola, apesar de ainda haver uma grande quantidade na distorção idade-serie, ou seja atrasados. “Mesmo diante da evolução, ainda é preciso pensar em políticas públicas para garantir a sustentabilidade dessa mudanças, oferecendo qualificação profissional e escolas seguras e de qualidade”.
Contudo, o coordenador de projetos do Unicef, Rui Aguiar, levantou uma questão relevante, mostrando os dados por um outro anglo. Segundo ele, entre esses 49,6% adolescentes entre 15 e 17 anos cursando o ensino médio, muitos pertencem a classe média e alta. “A pesquisa não revela, mas, certamente, os jovens pertencentes as classes D e E não estão inclusos entre os que estão na faixa etária recomendada para o Ensino Médio, muitos vivem ainda em condição de miséria”, diz.
Dobro
Para Rui Aguiar, na maioria das vezes, os jovens de classe baixa ou em situação de miséria, levam quase o dobro de tempo para concluir o Ensino Fundamental. Além disso, muitos pais possuem uma escolaridade inferir aos dos filhos.
O cenário leva muitos adolescentes a procurarem emprego muito cedo e abandonarem os bancos de escola. “Acredito que para que haja uma evolução integral o Estado deve investir na família como um todo”.
Causas violentas
Óbitos aumentam 23,06% no Ceará
Diferente do restante do País, o Nordeste teve um aumento nas mortes violentas em 2010. E, no Ceará, não foi diferente, o aumento foi de 23,06%. Isso porque, no ano passado, o total de óbitos por causas violentas foi de 4.850. Já em 2009, essas mortes somavam 3.941.
Os óbitos masculinos no Estado representaram 86% destas mortes, ou seja, 4.173. Assim como em todo o Brasil.
Outros Estados
As Unidades da Federação com as maiores proporções de óbitos violentos, por sexo, em 2010, foram Amapá (24,4%) e Alagoas (23,0%), no caso dos homens, e Mato Grosso (7,3%) e Maranhão (6,4%), entre as mulheres brasileiras.
Do total de 1.112.227 mortes registradas em 2010, verificou-se um maior percentual de óbitos masculinos (57,2% em todo o Brasil) na maior parte das faixas etárias, em especial na faixa de 20 a 24 anos (81,8%).
Os percentuais mais elevados de óbitos masculinos nos grupos etários de 15 a 29 anos decorrem, especialmente, da mortalidade por causas violentas ou acidentais.
O valor do sub-registro de óbitos (mortes ocorridas em 2010 e não registradas até o primeiro trimestre de 2011) estimado para o Brasil chegou a 7,7% em 2010, quase metade do percentual registrado em 2000 (14,6%).
Nas regiões Norte e Nordeste houve melhorias na cobertura, com proporções de sub-registro que passaram de 32,4% em 2000 para 22,4% em 2010 e de 36,2% para 24,5%, respectivamente. As regiões Sudeste (de 0,0% para -1,7%) e Sul (de 1,0% para -3,4%) têm coberturas elevadas.
Já a região Centro-Oeste teve redução no sub-registro de 12,3% para 4,0%. Entre os estados, Maranhão (48,2%) e Roraima (36,9%) tinham as mais altas proporções de sub-registro de óbitos em 2010.
Karla Camila e Thays LavorEspecial para Cidade/Repórter
No Ceará, atualmente, vivem 1,044 milhão de adolescentes, o que representa 12,4% do total de habitantes do Estado. Porém, centenas desses meninos e meninas acabam perdendo a vida muito cedo. Pelo menos é o que mostra os números do relatório “Situação da Adolescência Brasileira 2011”, divulgado na manhã de ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Para se ter uma ideia da situação, a pesquisa revela que, em seis anos, a taxa de homicídios no Estado entre adolescentes de 12 a 17 anos praticamente dobrou, passando de 10,4 assassinatos a cada 100 mil habitantes nessa faixa etária, em 2004, para 19,1 no ano de 2009.
Apesar desse crescimento, o Ceará empata com a média nacional, que permanece estável desde 2004, com 19,1 homicídios na mesma proporção. Em relação a região Nordeste, o Estado está abaixo da média, que é de 24 assassinatos. Entretanto, ainda se apresenta com o quinto maior índice das mortes provocadas entre adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, perdendo para Alagoas; em primeiro lugar com 34,7 assassinatos, Pernambuco; com 34,3, Bahia com 31,1, e Paraíba; com 28 homicídios na mesma proporção. Mas, foi o Estado baiano que apresentou o maior crescimento negativo, passando de 8,6 homicídios para 34,3.
Segundo Ana Márcia Diógenes, coordenadora do Unicef Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, o relatório foi realizado com base nos dados preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2010, e teve como objetivo analisar a situação de meninas e meninos de 12 a 17 anos a partir de 10 indicadores sociais e da evolução entre 2004 e 2009. De acordo com ela, o documento também traz a análise das políticas públicas desenvolvidas no Brasil, ponta os principais avanços e desafios na garantia dos direitos do adolescente.
Conforme a coordenadora, o Ceará vem evoluindo em áreas como educação e saúde, mas as taxas de homicídios e a situação de pobreza extrema entre os adolescentes ainda são muito altas. Baseando-se no relatório, Ana Marcia Diógenes afirma que os adolescentes cearense negros possuem quarto vezes mais chances de serem mortos do que os brancos. “Nessas estatísticas estão inclusos: a baixa renda familiar, o menor acesso a escolas e a moradia em áreas de risco. O Adolescente negro é muito mais vulnerável”.
Pobreza
Ainda de acordo Marcia Diógenes, apesar de existirem casos de homicídios envolvendo jovens de classe média e alta, os casos ainda estão muito ligados a pobreza no Pais. Segundo dados do relatório, no Ceará, o percentual de adolescentes de 12 a 17 vivendo em famílias extremamente pobres, ou seja com renda mensal de 1/4 do salário mínimo ainda é de 31,8%. Segundo a coordenadora do Unicef, essa estatística não apresentou melhora significativa nos últimos seis anos, pois em 2004 o percentual era de 32,9% dos jovens vivendo na mesma situação.
Ainda de acordo com ela, apesar do Estado se equiparar a média do Nordeste que é 32% dos adolescentes nessa faixa etária vivendo na extrema pobreza, está muito longe da média nacional que é de 17, 6%. “O único grupo onde a pobreza está aumentando consideravelmente é entre adolescentes. Essa situação gera vulnerabilidade. Enquanto o Brasil não construir um novo olhar em relação a essa faixa etária e desenvolver políticas públicas, o País não vai avançar”, conclui.
No mesmo período
Mais jovens estão no Ensino Médio
Apesar do crescimento negativo na taxa de homicídios e na permanência da pobreza extrema entre os adolescentes no Ceará, a área da educação mostra alguns números satisfatórios. De acordo com o relatório do Unicef, em 2004, o percentual de jovens entre 15 e 17 anos frequentando o Ensino Médio era de 34%. Já em 2009, esse número aumentou para 49,6%.
O dado classifica o Estado com a média mais alta da região Nordeste. Em seguida, vem o Maranhão que possue 40,2%, Rio Grande do Norte com 39,9% e Pernambuco com 38,2%. O último lugar foi o Estado alagoano, que apresentou um percentual de 33,3%. No País, a média é de 50,9% de adolescentes nessa faixa etária cursando o ensino médio.
Para Márcia Diógenes, os dados revelam que o adolescente cearenses estão entrando mais cedo na escola, apesar de ainda haver uma grande quantidade na distorção idade-serie, ou seja atrasados. “Mesmo diante da evolução, ainda é preciso pensar em políticas públicas para garantir a sustentabilidade dessa mudanças, oferecendo qualificação profissional e escolas seguras e de qualidade”.
Contudo, o coordenador de projetos do Unicef, Rui Aguiar, levantou uma questão relevante, mostrando os dados por um outro anglo. Segundo ele, entre esses 49,6% adolescentes entre 15 e 17 anos cursando o ensino médio, muitos pertencem a classe média e alta. “A pesquisa não revela, mas, certamente, os jovens pertencentes as classes D e E não estão inclusos entre os que estão na faixa etária recomendada para o Ensino Médio, muitos vivem ainda em condição de miséria”, diz.
Dobro
Para Rui Aguiar, na maioria das vezes, os jovens de classe baixa ou em situação de miséria, levam quase o dobro de tempo para concluir o Ensino Fundamental. Além disso, muitos pais possuem uma escolaridade inferir aos dos filhos.
O cenário leva muitos adolescentes a procurarem emprego muito cedo e abandonarem os bancos de escola. “Acredito que para que haja uma evolução integral o Estado deve investir na família como um todo”.
Causas violentas
Óbitos aumentam 23,06% no Ceará
Diferente do restante do País, o Nordeste teve um aumento nas mortes violentas em 2010. E, no Ceará, não foi diferente, o aumento foi de 23,06%. Isso porque, no ano passado, o total de óbitos por causas violentas foi de 4.850. Já em 2009, essas mortes somavam 3.941.
Os óbitos masculinos no Estado representaram 86% destas mortes, ou seja, 4.173. Assim como em todo o Brasil.
Outros Estados
As Unidades da Federação com as maiores proporções de óbitos violentos, por sexo, em 2010, foram Amapá (24,4%) e Alagoas (23,0%), no caso dos homens, e Mato Grosso (7,3%) e Maranhão (6,4%), entre as mulheres brasileiras.
Do total de 1.112.227 mortes registradas em 2010, verificou-se um maior percentual de óbitos masculinos (57,2% em todo o Brasil) na maior parte das faixas etárias, em especial na faixa de 20 a 24 anos (81,8%).
Os percentuais mais elevados de óbitos masculinos nos grupos etários de 15 a 29 anos decorrem, especialmente, da mortalidade por causas violentas ou acidentais.
O valor do sub-registro de óbitos (mortes ocorridas em 2010 e não registradas até o primeiro trimestre de 2011) estimado para o Brasil chegou a 7,7% em 2010, quase metade do percentual registrado em 2000 (14,6%).
Nas regiões Norte e Nordeste houve melhorias na cobertura, com proporções de sub-registro que passaram de 32,4% em 2000 para 22,4% em 2010 e de 36,2% para 24,5%, respectivamente. As regiões Sudeste (de 0,0% para -1,7%) e Sul (de 1,0% para -3,4%) têm coberturas elevadas.
Já a região Centro-Oeste teve redução no sub-registro de 12,3% para 4,0%. Entre os estados, Maranhão (48,2%) e Roraima (36,9%) tinham as mais altas proporções de sub-registro de óbitos em 2010.
Karla Camila e Thays LavorEspecial para Cidade/Repórter
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