domingo, 20 de novembro de 2011

O novo som de Amelinha


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A volta de Amelinha aos estúdios de gravação deve-se, em grande parte, aos esforços do produtor Thiago Marques Luiz e do DJ Zé Pedro, fãs confessos do trabalho da cearense

Após dez anos sem lançar um álbum solo, a cearense Amelinha desabrocha novamente para a música e aponta novos rumos em sua carreira com o álbum "Janelas do Brasil". O disco chega às lojas de todo o País, hoje
O ´frevo-mulher´ de voz forte e pulsante que tomou o Brasil no final dos anos 1970 chega à primeira década do novo milênio aprontando novos passos, alimentando outras melodias com seu canto de pássaro e harmonizando-se, renovada. Após um hiato de 10 anos sem lançar um disco solo, Amelinha nos brinda com "Janelas do Brasil", incluindo 12 gravações inéditas de canções de parceiros como Belchior, Alceu Valença, Raimundo Fagner e experimentando outros compositores como Zeca Baleiro, Almir Sater e Marcelo Jeneci. O disco, que chega às lojas neste domingo, é o marco de uma nova fase que Amelinha imposta em sua carreira, mais madura e repleta de projetos. A obra foi gravada em São Paulo (SP), em agosto deste ano, pela gravadora Joia Moderna, do DJ Zé Pedro, com produção de Thiago Marques Luiz, um dos idealizadores da obra.

Sem percussões e com destaque para o canto forte e melodioso de Amelinha, o disco traz uma seleção de canções embaladas pelas cordas de Dino Barioni, compositor e arranjador paulista. O músico assina a direção musical, arranjos e a execução de todos instrumentos de cordas. "Esse disco foi gravado em São Paulo em três noites mágicas em que os violões de Dino Barioni emolduraram o canto vital de Amelinha, que está de volta, dessa vez para sempre se Deus quiser", anuncia o DJ Zé Pedro em texto publicado no encarte do disco.

Fã do trabalho de Amelinha, Thiago conheceu a cantora em 2009, quando produziu o disco "Ataúlfo 100 Anos", em homenagem ao compositor carioca, na qual Amelinha interpreta a valsa "A Você". O convite foi feito após receber o aval do DJ Zé Pedro para lançar um disco da cantora cearense por sua recém criada gravadora. O repertório, escolhido a três mãos por Amelinha, Zé Pedro e Thiago, mescla velhos compositores conhecidos da cantora e outros que ela nunca havia gravado.

Músicas
A textura musical da obra segue a linha dada à gravação de "A Você", na homenagem a Ataúlfo, com arranjos enxutos, sem pompa de orquestra ou banda e primando pelo detalhe, deixando fluir a voz de Amelinha. "Ela canta tão bem quanto há 30 anos. Essa foi a grande alegria", comemora Thiago, sobre o resultado final. O violão de corda de aço é uma constante nas canções, dando um clima aviolado que reforça a aura sertaneja das interpretações de Amelinha, mas com arranjos e músicas urbanizadas, cosmopolitas.

Belchior é o primeiro da relação de memórias afetivas que Amelinha separou. Um de seus clássicos, "Galos, Noites e Quintais" abre o repertório, carregado de simbolismo, evocando os aprendizados da maturidade em contraponto à ingenuidade da infância, versando o refrão "Não sou feliz, mas não sou mudo, hoje eu canto muito mais".

Dos cearenses de sua geração, ela canta ainda "Asa Partida", de Fagner e Abel Silva - em uma versão de arrepiar o espinhaço e encharcar os corações doídos - e "Terral", um verdadeiro hino de Fortaleza, composto por Ednardo, e que virou sinônimo do Pessoal do Ceará.

Entre os estreantes na voz de Amelinha estão Marcelo Jeneci e Chico César, que assinam a quarta faixa com a música "Felicidade", e Zeca Baleiro, com "O Silêncio", obra-prima bem ao estilo do cancioneiro cearense. Amelinha traça ainda uma ponte com o canto do sertão caipira, com "Planície de Prata", de Almir Sater e Paulo Simões; e "Olhos Profundos", de Renato Teixeira.

O repertório de memórias da cantora é novamente visitado em "De Algum Lugar". Gravada originalmente no LP "Encontro e Desencontro", de 1972, a música é fruto da parceria do poeta Vinicius de Morais com a cantora Marília Medalha, dupla que Amelinha conviveu antes mesmo de se lançar como profissional, em meados daquela década. Desta convivência ela tirou forças para dar o pontapé inicial na carreira.

O disco tem ainda músicas de Alceu Valença e Emmanoel Cavalcanti ("Quando Fugias de Mim"), Geraldo Espíndola ("É Necessário") e da potiguar Cátia de França ("Ponta do Seixas"), velha conhecida de Amelinha. Uma das gratas surpresa é ainda a música final, do cearense Amaro Penna. Única completamente inédita do disco, "Para Seguir um Violeiro" faz uma ode a cantoria de viola e lança luzes sobre o caminho de Amelinha que, mais que nunca, hoje sabe: "Pra seguir um violeiro/É preciso liberdade/Ter a mente sem fronteiras/Cantar sertão e cidade/ Cruzar rio, serra e mares/Atravessa a idade".

A Joia Moderna trabalha com uma tiragem inicial limitada à mil cópias, o que dá a imaginar que rapidamente terá a sua primeira prensagem esgotada. O lançamento oficial será em janeiro de 2012 em São Paulo. A data e o local do show ainda não estão confirmados.

FÁBIO MARQUES
REPÓRTER

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