Fernanda Quinderé recebeu prêmios importantes, como o troféu Mambembe de melhor produção, pelo espetáculo No mundo dos sonhos (1986); e o troféu Carlos Câmara (1989) FOTO: RODRIGO CARVALHO |
A atriz Fernanda Quinderé recebe, hoje, homenagem por seus 60 anos de carreira. A artista traz na bagagem diversos prêmios e muitas histórias para contar
Seis décadas de carreira, mas com a intensidade de 500 anos, tamanha a quantidade de histórias vividas, encontros e desencontros de personagens e tramas traçadas. Fernanda Quinderé é uma artista de mil faces. Assumiu, dentre outros, os papéis de mãe, pai, amiga, mulher apaixonada, compositora, produtora, escritora e atriz, tantos são os enredos configurados nas páginas de sua vida. É por essas e outras que a carioca de coração cearense receberá hoje à noite uma homenagem da Academia de Letras e Artes do Nordeste (Alane - Ceará), com a presença de familiares, amigos e admiradores no Ideal Clube.
O começo no teatro aconteceu de forma quase inusitada. Com 13 anos, a garota magrela, que sonhava dançar "igual ao Fred Astaire", e que tinha mania de imitar os personagens que o pai achava engraçado, encontrou a razão de viver: as artes cênicas. "Sempre fui metida, ainda pequena gostava de pousar de atriz. Eu era loirinha e adorava fazer penteados de lado para ficar igual às atrizes de cinema. Mas, meu primeiro alumbramento com teatro aconteceu aos oito anos de idade, quando a minha mãe me levou para ver uma apresentação do ator francês Jean Grande, no Theatro José de Alencar".
Carreira
A experiência foi tão marcante que, anos depois, já mãe de cinco filhos, durante uma apresentação da cantora Elis Regina no Rio de Janeiro, a atriz lembrou do episódio da infância. "Quando Elis entrou no palco, cantando ´Fascinação´, ela teve a mesma atitude em cena que o Jean tempos atrás. Foi uma emoção muito grande, que nunca mais saiu da minha memória".
Em 1951, numa tarde que poderia ser mais uma entre tantas outras passadas, parou em frente a casa dos "Quinderés", um carro de onde desceram duas distintas senhoras. Eram elas ninguém menos que Nadir Sabóya e Maristher Gentil. As duas vinham à procura da irmã de Fernanda para fazer parte de um grupo de teatro que estavam organizando.
"Fiquei ali no canto da sala as observando. A Maristher foi a primeira a me notar. Ela me apontou para a Nadir, que disse: ´é só uma menina, muito magrinha e pequena. Não vai dar certo´. Mas, a Maristher continuou insistindo, e perguntou se eu sabia recitar um poema ou cantar uma música. Estava muito encabulada, mas ainda assim cantei... Então, ela me falou que ia me levar para trabalhar na peça ´A Moreninha´".
A primeira experiência rendeu à atriz novos trabalhos, e, dai em diante, nunca mais parou. "Foi uma primeira vez e tanto! Eu ia fazer uma irmã de leite da Moreninha. Mas, não sabia que iriam me pintar de preto. Quando começaram a me maquiar cai num choro. Vi as outras meninas, tão arrumadas e com roupas mais bonitas que a minha, e não aguentei. A Maristher veio até a mim e mandou engolir o choro, pois ´teatro é assim mesmo´".
Com os olhos mais misteriosos do que nunca, rompendo a breve pausa, Fernanda completa: "com o teatro aprendi a engolir os muitos choros que a vida iria me trazer. A gente se depara com tantas coisas... A vida é encenação, um grande teatro".
Amores
Quinderé estudou artes cênicas durante sete anos e como atriz, ao lado de Nadir Sabóya, Maristher Gentil e Eduardo Campos, viajou representando o Ceará ao participar de vários festivais de teatro amador. "Depois de Maristher, fui chamada por Nadir para integrar o elenco da peça ´A importância de ser Ernesto´, obra de Oscar Wilde. Eu fazia uma personagem central, uma mulher de 25 anos (na época eu tinha uns 15). Na sequência, trabalhei com o Eduardo Campos, em ´Os deserdados´, um grande sucesso".
Em 1959, ela já era premiada como melhor atriz do Norte e Nordeste, pela atuação na peça "Nós, as testemunhas", de Eduardo Campos, no II Festival Nortista de Teatro Amador, realizado em Alagoas. Com grande efervescência em sua carreira, Fernanda recebeu dois convites importantes. "Primeiro fui chamada por Ancelmo Duarte para trabalhar em sua companhia em São Paulo, mas meus pais acharam melhor eu não ir, pois era muito jovem para morar só em outra cidade. Depois, fui convidada para fazer cinema em Hollywood, mas estava apaixonada", revela.
A atriz estava em seu primeiro casamento e não cogitava a ideia de deixar o marido para partir ao "estrangeiro". "Fiquei casada com ele por 16 anos. Meu primeiro marido achava que teatro era uma agressão... Por amor desviei os rumos da minha carreira e deixei de atuar por uns bons tempos".
Em 1978, depois da separação, a atriz foi viver no Rio de Janeiro com os cinco filhos. Lá, voltou de maneira torta ao teatro, trabalhando no Instituto Nacional de Artes Cênicas. "Eu assessorava o presidente do instituto. Fazia um trabalho mais burocrático, coordenava os concursos nas áreas de dramaturgia e jornalismo. Mas, ainda longe dos palcos", explica.
Em terras cariocas, além de novas experiências profissionais, Fernanda reencontrou um velho amigo, o pianista Luiz Eça (1936 - 1992), com quem viveu seu segundo casamento. Um amor digno dos grandes romances. Daqueles que poucos tem a chance de viver ao longo da vida. "Vivemos uma relação de 12 anos. Luiz foi o grande amor da minha vida. Ele me apresentou um mundo novo. Estávamos sempre juntos. Era tudo muito intenso", lembra. Com o marido, a atriz também desenvolveu trabalhos importantes, como o seriado "Luizinho no mundo dos sons", veiculado na televisão mexicana, e da peça infantil "No Mundo dos Sons", adaptação feita sobre o texto do seriado musical, escrito em parceria com Luiz Eça.
Projetos
Além do teatro, Fernanda Quinderé atuou no cinema e na televisão. "Comecei no cinema a convite do Emiliano Queiroz, grande amigo e meu vizinho no Rio de Janeiro. Fiz os filmes ´Tangerine Girl´, de Liloe Boublie (baseada na obra homônima de Rachel de Queiroz) e ´Iremos à Beirute´, de Marcos Moura. ´A doença´ é o mais recente deles".
Na televisão, a atriz participou da novela global "Meu bem querer", e apresentou durante onze anos um programa de entrevistas na TV Diário. Ultimamente, ela se dedica a escrita de seu oitavo livro. Desta vez um romance, "Madame Rian". Assim, sempre em ativa, Fernanda segue sua vida, imersas em projetos, pura energia, de alguém que nasceu para brilhar.
MAIS INFORMAÇÕES
Comemoração dos 60 anos de carreira da atriz Fernanda Quinderé. Hoje, às 20 horas, no Ideal Clube (Salão Meireles). A apresentação do evento fica por conta do jornalista e colunista social Lúcio Brasileiro. Também haverá performances de Ricardo Guilherme, Jadeilson Feitosa, Hiramisa Serra e Lúcio Leon.
ANA CECÍLIA SOARESREPÓRTER
Seis décadas de carreira, mas com a intensidade de 500 anos, tamanha a quantidade de histórias vividas, encontros e desencontros de personagens e tramas traçadas. Fernanda Quinderé é uma artista de mil faces. Assumiu, dentre outros, os papéis de mãe, pai, amiga, mulher apaixonada, compositora, produtora, escritora e atriz, tantos são os enredos configurados nas páginas de sua vida. É por essas e outras que a carioca de coração cearense receberá hoje à noite uma homenagem da Academia de Letras e Artes do Nordeste (Alane - Ceará), com a presença de familiares, amigos e admiradores no Ideal Clube.
O começo no teatro aconteceu de forma quase inusitada. Com 13 anos, a garota magrela, que sonhava dançar "igual ao Fred Astaire", e que tinha mania de imitar os personagens que o pai achava engraçado, encontrou a razão de viver: as artes cênicas. "Sempre fui metida, ainda pequena gostava de pousar de atriz. Eu era loirinha e adorava fazer penteados de lado para ficar igual às atrizes de cinema. Mas, meu primeiro alumbramento com teatro aconteceu aos oito anos de idade, quando a minha mãe me levou para ver uma apresentação do ator francês Jean Grande, no Theatro José de Alencar".
Carreira
A experiência foi tão marcante que, anos depois, já mãe de cinco filhos, durante uma apresentação da cantora Elis Regina no Rio de Janeiro, a atriz lembrou do episódio da infância. "Quando Elis entrou no palco, cantando ´Fascinação´, ela teve a mesma atitude em cena que o Jean tempos atrás. Foi uma emoção muito grande, que nunca mais saiu da minha memória".
Em 1951, numa tarde que poderia ser mais uma entre tantas outras passadas, parou em frente a casa dos "Quinderés", um carro de onde desceram duas distintas senhoras. Eram elas ninguém menos que Nadir Sabóya e Maristher Gentil. As duas vinham à procura da irmã de Fernanda para fazer parte de um grupo de teatro que estavam organizando.
"Fiquei ali no canto da sala as observando. A Maristher foi a primeira a me notar. Ela me apontou para a Nadir, que disse: ´é só uma menina, muito magrinha e pequena. Não vai dar certo´. Mas, a Maristher continuou insistindo, e perguntou se eu sabia recitar um poema ou cantar uma música. Estava muito encabulada, mas ainda assim cantei... Então, ela me falou que ia me levar para trabalhar na peça ´A Moreninha´".
A primeira experiência rendeu à atriz novos trabalhos, e, dai em diante, nunca mais parou. "Foi uma primeira vez e tanto! Eu ia fazer uma irmã de leite da Moreninha. Mas, não sabia que iriam me pintar de preto. Quando começaram a me maquiar cai num choro. Vi as outras meninas, tão arrumadas e com roupas mais bonitas que a minha, e não aguentei. A Maristher veio até a mim e mandou engolir o choro, pois ´teatro é assim mesmo´".
Com os olhos mais misteriosos do que nunca, rompendo a breve pausa, Fernanda completa: "com o teatro aprendi a engolir os muitos choros que a vida iria me trazer. A gente se depara com tantas coisas... A vida é encenação, um grande teatro".
Amores
Quinderé estudou artes cênicas durante sete anos e como atriz, ao lado de Nadir Sabóya, Maristher Gentil e Eduardo Campos, viajou representando o Ceará ao participar de vários festivais de teatro amador. "Depois de Maristher, fui chamada por Nadir para integrar o elenco da peça ´A importância de ser Ernesto´, obra de Oscar Wilde. Eu fazia uma personagem central, uma mulher de 25 anos (na época eu tinha uns 15). Na sequência, trabalhei com o Eduardo Campos, em ´Os deserdados´, um grande sucesso".
Em 1959, ela já era premiada como melhor atriz do Norte e Nordeste, pela atuação na peça "Nós, as testemunhas", de Eduardo Campos, no II Festival Nortista de Teatro Amador, realizado em Alagoas. Com grande efervescência em sua carreira, Fernanda recebeu dois convites importantes. "Primeiro fui chamada por Ancelmo Duarte para trabalhar em sua companhia em São Paulo, mas meus pais acharam melhor eu não ir, pois era muito jovem para morar só em outra cidade. Depois, fui convidada para fazer cinema em Hollywood, mas estava apaixonada", revela.
A atriz estava em seu primeiro casamento e não cogitava a ideia de deixar o marido para partir ao "estrangeiro". "Fiquei casada com ele por 16 anos. Meu primeiro marido achava que teatro era uma agressão... Por amor desviei os rumos da minha carreira e deixei de atuar por uns bons tempos".
Em 1978, depois da separação, a atriz foi viver no Rio de Janeiro com os cinco filhos. Lá, voltou de maneira torta ao teatro, trabalhando no Instituto Nacional de Artes Cênicas. "Eu assessorava o presidente do instituto. Fazia um trabalho mais burocrático, coordenava os concursos nas áreas de dramaturgia e jornalismo. Mas, ainda longe dos palcos", explica.
Em terras cariocas, além de novas experiências profissionais, Fernanda reencontrou um velho amigo, o pianista Luiz Eça (1936 - 1992), com quem viveu seu segundo casamento. Um amor digno dos grandes romances. Daqueles que poucos tem a chance de viver ao longo da vida. "Vivemos uma relação de 12 anos. Luiz foi o grande amor da minha vida. Ele me apresentou um mundo novo. Estávamos sempre juntos. Era tudo muito intenso", lembra. Com o marido, a atriz também desenvolveu trabalhos importantes, como o seriado "Luizinho no mundo dos sons", veiculado na televisão mexicana, e da peça infantil "No Mundo dos Sons", adaptação feita sobre o texto do seriado musical, escrito em parceria com Luiz Eça.
Projetos
Além do teatro, Fernanda Quinderé atuou no cinema e na televisão. "Comecei no cinema a convite do Emiliano Queiroz, grande amigo e meu vizinho no Rio de Janeiro. Fiz os filmes ´Tangerine Girl´, de Liloe Boublie (baseada na obra homônima de Rachel de Queiroz) e ´Iremos à Beirute´, de Marcos Moura. ´A doença´ é o mais recente deles".
Na televisão, a atriz participou da novela global "Meu bem querer", e apresentou durante onze anos um programa de entrevistas na TV Diário. Ultimamente, ela se dedica a escrita de seu oitavo livro. Desta vez um romance, "Madame Rian". Assim, sempre em ativa, Fernanda segue sua vida, imersas em projetos, pura energia, de alguém que nasceu para brilhar.
MAIS INFORMAÇÕES
Comemoração dos 60 anos de carreira da atriz Fernanda Quinderé. Hoje, às 20 horas, no Ideal Clube (Salão Meireles). A apresentação do evento fica por conta do jornalista e colunista social Lúcio Brasileiro. Também haverá performances de Ricardo Guilherme, Jadeilson Feitosa, Hiramisa Serra e Lúcio Leon.
ANA CECÍLIA SOARESREPÓRTER
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