domingo, 21 de agosto de 2011

Arte religiosa dos santeiros aquece romarias de Juazeiro

Clique para Ampliar
Nas lojas de santeiros, se encontra peças fabricadas com vários tipos de material, como madeira e gesso
FOTOS: EDUARDO QUEIROZ
Com a proximidade da chegada das grandes romarias em Juazeiro do Norte, os artesãos mostram que o trabalho de fabricar peças com imagens de santos continua viva e merece destaque
Juazeiro do Norte. As imagens que marcam época ajudam a manter a memória da cidade. A imagem símbolo, que mantém uma tradição. A arte de esculpir e o pleno exercício de uma atividade que é fonte de renda para centenas de famílias em Juazeiro do Norte. Se aproxima o calendário das grandes romarias. A grande e intensa festa das romarias da terra do "Padim" se aproxima, com os louvores à Nossa Senhora das Dores, padroeira da cidade. A segunda maior romaria do ano já impulsiona um mercado econômico basicamente informal, que se encontra nos quintais das casas, em sua maioria na Rua do Horto e no Bairro Socorro. São as fábricas de imagens. Os santeiros põem a mão no gesso, na massa, na madeira, e os grandes fabricantes internacionais nas novas ideias, para trazerem novidades que estimulem a venda das estátuas.

A líder de mercado traz o ícone maior, que não é santo oficial da Igreja Católica. O Padre Cícero Romão Batista trouxe e incentivou a prática de produção das imagens. Ainda nas primeiras décadas do século passado, Juazeiro já tinha uma safra de artistas que se deslocava de vários lugares do Nordeste. No Juazeiro, recebiam a acolhida e o incentivo do sacerdote.

A primeira imagem do Padre Cícero foi produzida em madeira pelo Mestre Noza, que decidiu consultar o próprio sacerdote para obter a aprovação. E conseguiu. Para o padrinho, ficou perfeita. Não deu outra. Daqueles primeiros anos do século 20 até os dias de hoje, a estátua do Padre Cícero de acrílico, borracha, plástico ou na forma mais tradicional e acessível ao romeiro, que é o gesso, continua sendo um dos artigos mais vendidos da cidade. É o símbolo, que tem uma complexa rede de significados, que na linguagem romeira quer dizer voto de fé. Ter um padrinho no altar de casa é evocar o sagrado.

A partir do segundo semestre do ano se intensifica a fabricação de imagens em Juazeiro. É praticamente 80% a mais do que nos primeiros seis meses do ano. Isso tudo por conta das romarias. Para a artesã Maria Gorete de Lima, é um período em que muita gente fica empregada. São famílias inteiras que buscam atender demandas de outros Estados de pedidos com centenas de imagens. Ele diz que localidades do interior do Piauí, Paraíba, do Ceará e do Pernambuco querem a compra das estatuetas de Juazeiro.

Isso tem um motivo especial, que não é difícil de imaginar. Para a pesquisadora Paula Jacinto, a proximidade com o Padre Cícero faz com que essas imagens tenha um sentido muito maior para as pessoas que adquirem. Maria Gorete há cerca de 30 anos mete a mão na massa, literalmente, no pó fino e especial para produzir imagens especiais. É um trabalho dedicado e cuidadoso, para não ficar nem as mínimas imperfeições.

Isso pode comprometer a venda. Cores fortes, celestiais, que dão mais vida a uma longa história que faz de Juazeiro uma das cidades do Brasil onde mais se fabrica imagens de santos. Isso pode ser dito até de forma aleatória, segundo o presidente do Centro de Cultura Popular Mestre Noza, Hamurabi Batista, já que não existe uma pesquisa oficial do ranking de cidades que mais fabricam. Mas ele arrisca em citar localidades como Salvador, Caruaru, Canindé e Aparecida. Juazeiro do Norte está entre as cinco.

Tipos de peças
As lojas de santeiros, neste período do ano, funcionam a passos lentos. São poucos os compradores, mas nas prateleiras podem ser encontradas desde as imagens de borracha, por sinal muito bem feitas e parecidas com as de gesso, e que somam maioria nas vendas, até por conta do preço que é bem inferior. Essas são a preferência do romeiro.

As estátuas com a gravação de benditos também são sucesso, pelo menos ainda, desde que novas versões foram lançadas há cerca de dois anos. Mas, tiveram de ser uma imitação quase fidedigna às estatuetas de gesso, para cair no gosto dos fregueses que vêm à cidade.

HÁBITO
"São muitas famílias que sobrevivem aqui em Juazeiro do Norte desse trabalho"
Maria Gorete de LimaArtesã
"Se vende imagens, mas a juventude não preserva esse hábito de adquirir os santos"
Joana DarcVendedora
MAIS INFORMAÇÕES
Centro de Cultura Popular Mestre Noza - Juazeiro do Norte (CE)
Telefone: (88) 3511.3133/ Site: lojavirtualmestrenoza.blogspot.com

MATÉRIA-PRIMA

Palha diversifica artesanato

Juazeiro do Norte. A criatividade no mundo das imagens de Juazeiro está pela cidade. E não só estatuetas de madeira, gesso, barro, que deixaram famosos artesãos do Município até internacionalmente, como Ciça do Barro Cru e a família Cândido. Na Rua do Horto, são dezenas de casas inspiradas no trançado da palha. A Associação dos Artesãos da Mãe das Dores valoriza o material. Já foi escola para centenas de artesãos, que sobrevivem dos artigos feitos do material.

O presidente da associação, Luciano Bezerra da Silva, chegou ao local ainda adolescente. É um dos filhos da instituição. Além das bolsas, chapéus, que vende em maior quantidade e se tornou uma tradição romeira, no local são cumpridas encomendas para o Natal, com a confecção de cartões especiais, com a criatividade da palha, que vem compor o cenário de um mundo diferente. Os artigos são vendidos para o mercado europeu, a países como a Bélgica. Mas as atividades são incentivadas também em diversos bairros da cidade, onde são realizadas atividades educativas, como forma de ampliar o aprendizado da arte.

Os centros de cultura de Juazeiro são incentivo à parte nesse processo. Os artesãos, principalmente aqueles que trabalham com produtos elaborados, muitas vezes têm dificuldade de comercializar o seu produto para o mercado interno. E vêm as parcerias institucionais, como incentivo para o mercado externo e outras partes do País. Quem tem a oportunidade de entrar no Centro de Cultura Popular Mestre Noza, se depara com um cenário que é só arte impregnada em todos os espaços.

Segundo ao artista plástico do Mestre Noza, Gilberto Francisco de Lima, é preciso ter criatividade e um bom acabamento das peças para poder produzir. Ele afirma que, normalmente, o artesanato em madeira, por se mais elaborado e peças com preços acima do poder aquisitivo da maioria dos romeiros, normalmente estão mais voltados para os apreciadores de peças de arte. "Não são propriamente as pessoas mais religiosas, mas aquelas que admiram a arte".

Sem especificidade
Não há uma especificidade para o artista em termos de imagem. Ele afirma que desde as de Nossa Senhora da Conceição, que são as mais vendáveis, São Francisco deitado, podem ser desenvolvidas de forma criativa com a marca do artista, que é normalmente a forma de divulgar o seu trabalho. Uma escultura em madeira com cerca de 50 cm pode custar até R$ 200,00.

Gilberto afirma que há pessoas que acham o preço elevado, mas justifica que é uma arte, que deve ser mais valorizada pelas pessoas.

ELIZÂNGELA SANTOSREPÓRTER

Nenhum comentário:

Postar um comentário