sexta-feira, 29 de julho de 2011

População da RMF foi a que mais cresceu no País

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O crescimento da Grande Fortaleza não foi acompanhado pelo aprimoramento do transporte público
Dentre as nove maiores regiões metropolitanas do País, instituídas por Lei Federal nos anos de 1973 e 1974, a Grande Fortaleza é a que apresentou a maior taxa de crescimento entre os anos 2000 e 2010. Passou de uma população de 3.056.769 para 3.610.379, o que representa uma variação de 1,68%, ou seja, maior que São Paulo (0,96%), Rio de Janeiro (0,67%) e Salvador (1,37%).

Os dados são do Comunicado Nº 102, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que realiza uma reflexão sobre o crescimento populacional nas regiões metropolitanas brasileiras e sobre a necessidade de expansão do sistema de transporte em massa.

O crescimento populacional registrado mostra, segundo o Comunicado, que independentemente das tecnologias disponíveis, os desafios de mobilidade nos grandes aglomerados urbanos são significativos e demandam soluções mais consistentes. Para se ter uma ideia da situação, gasta-se, em média, para se locomover de casa para o lugar de trabalho, em Fortaleza, 1h30min.

O surgimento de novos polos provoca novas ligações, não somente aquelas centroperiferia das regiões metropolitanas, mas outras formas de mobilidade, criando movimentos de população entre os municípios metropolitanos, e não com o núcleo da metrópole.

Segundo o estudo, o crescimento populacional deve-se às outras 12 cidades integrantes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) - Caucaia, Aquiraz, Pacatuba, Maranguape, Maracanaú, Eusébio, Guaiuba, Itaitinga, Chorozinho, Pacajus, Horizonte e São Gonçalo do Amarante - e não à cidade-sede, no caso, Fortaleza.

De acordo com os dados do Ipea, baseados no Censo 2010, o município da RMF que apresentou a maior média de crescimento anual foi Horizonte, com 5,02%, enquanto que a média do município sede foi de 1,34%. Horizonte cresceu mais até que a própria média da RMF, de 1,68%. Já a cidade de Chorozinho foi a que apresentou a menor taxa, com 0,11%.

Em Fortaleza, os bairros periféricos também têm crescido vertiginosamente, devido aos baixos preços das habitações e à proximidade de saída para cidades vizinhas e integrantes da RMF. No caso, pode-se citar, baseado nos dados do Censo 2010, o bairro do Mondubim, com 76.044 habitantes e onde há uma das menores taxas de domicílios vazios, 1.261, 5,34% das 23.596 habitações.

Uma das recém-chegadas ao bairro, a aposentada Teresa Sousa comemora o fato de agora estar vivendo, junto com a filha, em um apartamento próprio. Antes de se mudar, há cerca de cinco meses, a aposentada vivia de aluguel no Conjunto Ceará.

Questionada sobre o motivo que levou a sua família e tantas pessoas a optarem pelo Mondubim, Teresa aponta os preços mais acessíveis dos imóveis em contraste com a especulação imobiliária em bairros mais valorizados e com uma melhor infraestrutura.

TRANSPORTE
Usuários pagam mais caro em busca de maior comodidade
Diante da dificuldade de deslocamento apontada pelo estudo como um dos grandes desafios das regiões metropolitanas para os próximos anos, muitas pessoas que residem e trabalham em Fortaleza optam diariamente pela utilização de ônibus que realizam o transporte intermunicipal, ainda que tenham de pagar mais caro.

Para transitar entre os bairros Maraponga, onde trabalha, e Jacarecanga, onde mora, a auxiliar administrativa Thassiana Farias costuma pagar R$ 4,50. Ao sair do trabalho, conta, muitas vezes pega um ônibus que transita entre Maracanaú e Fortaleza - cuja passagem custa R$ 2,50 - e desce no Centro, de onde pega outra linha para chegar ao Jacarecanga.

Caso prefira gastar menos, a auxiliar administrativa tem a opção de pegar transportes que circulem apenas em Fortaleza. Contudo, afirma, por conta da habitual demora do ônibus e do fato de que o veículo frequentemente se encontra lotado, a alternativa mais cara se torna mais atraente. A escolha pela comodidade, ainda que mais cara, também é feita pelo promotor de vendas Adriano Ferreira, que costuma transitar entre a Maraponga e o Centro.

Segundo o técnico da diretoria de transportes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) Joaquim Rolim, pegar ônibus intermunicipais para se deslocar apenas dentro de um município, ainda que o usuário pague a tarifa intermunicipal, não é permitido.

A justificativa da proibição, afirma, é impedir que os passageiros que transitam de fato entre cidades distintas sejam "penalizados" com as paradas que o veículo fará para receber usuários que poderiam fazer uso de outras linhas.

Conforme Rolim, a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado têm realizado estudos para promover maior integração entre as linhas de ônibus intermunicipais e aquelas que circulam apenas na Capital. A integração, complementa, também envolverá o Metrô de Fortaleza (Metrofor).

O técnico ressalta que ainda não existe previsão para que a integração seja implantada, já que ainda está sendo elaborada uma política tarifária, a qual depende de negociações entre gestores da Prefeitura e do Estado e de análises e simulações que estão em andamento.

O presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Ademar Gondim, afirma que a integração metropolitana depende apenas de uma decisão política entre o governo estadual e o municipal. "Temos um sistema de bilhetagem eletrônico consolidado e controlado pela Etufor", informa.

Fora isso, o responsável pelo órgão, acrescenta que fazem parte destas medidas a implementação da tarifa ´horo-sazonal´, que permite a cobrança de tarifas diferenciadas em horários alternados. "Testamos também a integração temporal, via cartão com a complementação tarifária, na linha central", diz.

Já o responsável pelo Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor), Daniel Lustosa, declara que um novo corredor será construído em 2012, como parte do Transfor 2. No caso, ele interligaria o terminal do Conjunto Ceará à Praça do Coração de Jesus, além do Terminal do Siqueira e a Praça da Lagoinha, no Centro.

A opinião do especialista: Mobilidade sem avanço
O IPEA divulgou pesquisas sobre a mobilidade urbana nas cidades brasileiras e constatou a luta cotidiana da população dos grandes centros para atender às suas necessidades de deslocamento. O estudo detectou também que a franja metropolitana, em termos demográficos, cresce mais que o município do núcleo. Com o crescimento, aumentam também as agruras da população trabalhadora para dar conta de seus deslocamentos cotidianos. Os empregos continuam concentrados na cidade núcleo, provocando o aumento do fluxo casa/trabalho/casa, dentre outros. Nos últimos anos, Fortaleza ampliou sua área metropolitana. Criada em 1973 com cinco municípios, hoje conta com 15. No censo de 2010, vários municípios de sua região metropolitana apresentaram acentuado crescimento demográfico. Quanto à mobilidade, não há avanços significativos. Os terminais integrados restringem-se à capital. A situação atual é precária. O transporte é caro e irregular. Não há integração tarifária e os ônibus das linhas metropolitanas não possuem um terminal específico na área central. O Metrofor atenderá, apenas, à demanda de Maracanaú. A mobilidade possível restringe-se praticamente às demandas do trabalho. A mobilidade urbana em Fortaleza é lenta e difícil todos os dias e pior, nos finais de semana. Que contradição! Uma cidade litorânea, que nega o mar e a praia, para a maioria de seus trabalhadores, nos dias de descanso e lazer. Como sair da periferia? O que fazer?

José Borzacchiello da Silva
Mestre e doutor em Geografia Humana pela USP


THAYS LAVOR E JOÃO MOURAREPÓRTERES

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