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| Foto exposta na casa de Conselheiro, em Quixeramobim, mostra o flagelo dos seguidores conselheiristas após o ataque a Canudos, na Bahia. Abaixo, o líder vencido |
Demitri Túlio
demitri@opovo.com.br
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Cláudio Ribeiro
claudioribeiro@opovo.com.br
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EM QUIXERAMOBIM, A HISTÓRIA DE CONSELHEIRO REVELA UM MÁRTIR
PERSEGUIDO PELO PRECONCEITO DOMÉSTICO, MAS COM RASTROS DE FÉ NA BAHIA
Em Sobrados e Molambos, Gilberto Freyre epitafiou: “O homem morto ainda é, de certo modo, homem social”. Se não há túmulo suntuoso que ostente o que ele tinha, resta a história para perpetuá-lo. Em Quixeramobim, longe 206 km de Fortaleza, o morto mais ilustre que o município gerou - Antônio Vicente Mendes Maciel ou Antônio Conselheiro - é santo na boca da historiadora Maria de Fátima Alexandre da Silva e de muitos que vivem no Sertão Central do Ceará e além.
Foi a avó Maria do Carmo que deu a Fátima Alexandre as medidas da “importância” do líder dos perseguidos da comunidade de Canudos. Religiosa, a vó da menina repassava o que havia lhe chegado aos ouvidos em conversas de igreja. O homem, que chegou a ser caluniado de “matricida”, conquistou a admiração de Maria do Carmo por causa da vigilância ao Evangelho e vocação para pregador.
“Vovó dizia que ele queria ser santo, ser padre. Tanto que o pai dele construiu um quarto que lhe servia de templo”, recorda. O lugar de oração ainda existe, embora mal preservado, na casa da família Maciel que, hoje, abriga o Memorial do Conselheiro.
Porém dentro da própria casa, a mãe de Fátima Alexandre tratava a história do Conselheiro dos Sertões com a indiferença. Não acreditava na santidade de Antônio Vicente Mendes Maciel. “Não me admiro nem a culpo. Na escola Virgílio Távora, onde dou aulas de história do Ceará, conto quem foi esse homem que nasceu entre nós. Uns ligam e outros não. É o retrato do povo de Quixeramobim”.
Entre as “besteiras” que dizem contra o “santo” conterrâneo está a maledicência, segundo Fátima Alexandre, de quererem pechar Antônio Conselheiro de corno. “Corno é quem o chama. Deviam se preocupar com mulher deles e não caluniar um morto, um homem que não fez mal a ninguém”, esbraveja Fátima Alexandre que há dois anos trabalha no Memorial do Conselheiro - localizado no Centro de Quixeramobim.
O estereótipo com certeza sobreviveu ao tempo. Em 1876 Antônio Conselheiro, que era já tratado como personagem “divino” e arrebanhador de levas de nordestinos, foi preso nos sertões da Bahia, por causa de boatos. Um deles é que teria matado a esposa que, em 1861, o traiu com um sargento de polícia. Adultério flagrado em sua casa, quando moravam na Vila do Ipu Grande.
Decepcionado, Antônio Vicente Mendes Maciel desistiu da esposa e mudou-se para os sertões do Cariri cearense. Anos depois, correria a conversa falaciosa de que ele teria matado a ex-mulher e ainda a própria mãe - Maria Joaquina de Jesus. Preso na Bahia e transferido para o Ceará, semanas depois conseguiria ser solto.
Segundo artigo de Ismael Pordeus, no jornal O Nordeste, em 1949, tudo não passava de calúnia e que ganhou força de lenda através dos tempo. Quando a mãe do Conselheiro faleceu, ele não tinha mais que seis anos de idade.
Seu Manoel Marcílio Maciel, 74, primo em 4º grau de Antônio Conselheiro, enxerga no parente ilustre as marcas de mártir da história. “Falta é livro e escola pra esse povo que fala sem sabedoria”, arremata.
Se no sertão do Ceará também há quem olhe enviesado para Conselheiro, em seu espaço de culto,no sertão da Bahia, há toda liturgia de adoração dedicada aos santos populares: ex-votos, fitinhas, retratos, missas e manifestações de gratidão pelas graças alcançadas. Um santificado pop e objeto desejo acadêmico.
Antônio Vicente Mendes Maciel, antes de virar beato, estudou aritmética, latim, francês. Atuou como rábula (advogado sem diploma) e em cartório, foi até pedreiro e construtor
Fátima Alexandre é professora e assistente de cultura em Quixeramobim. Trabalha há três anos como guia para quem visita a casa onde nasceu Antônio Conselheiro
A placa em frente diz: ”Nesta casa nasceu Antônio Conselheiro em 13/março/1830”. Mais acima, seu Manuel Marcílio Maciel: “minha bisavó era prima legítima de Conselheiro”
Antônio Vicente Mendes Maciel, antes de virar beato, estudou aritmética, latim, francês. Atuou como rábula (advogado sem diploma) e em cartório, foi até pedreiro e construtor
Fátima Alexandre é professora e assistente de cultura em Quixeramobim. Trabalha há três anos como guia para quem visita a casa onde nasceu Antônio Conselheiro
A placa em frente diz: ”Nesta casa nasceu Antônio Conselheiro em 13/março/1830”. Mais acima, seu Manuel Marcílio Maciel: “minha bisavó era prima legítima de Conselheiro”

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