sexta-feira, 20 de maio de 2011

Disciplina dá a escola de Goiás nível de países desenvolvidos

 
A cidade sorteada para representar o Centro-Oeste brasileiro na blitz da educação do JN no Ar foi Goiânia, que tem 1,3 milhão de habitantes.
Esta blitz do JN no Ar traz muitas surpresas. Como em todas as cidades, em Goiânia (GO), a equipe visitou a melhor e a pior escola da região. Mas ao chegar às escolas, foi surpreendida. Saiba por que, quais as lições que a equipe tirou desta surpresa, quais os tabus foram quebrados e quais os ensinamentos desta surpresa nesta reportagem.
A hora é do recreio, mas até durante esse tempo tem organização e disciplina com fila e controle. Na outra escola, a hora deveria ser de aula de matemática. Mas o professor diz que a bagunça da turma do fundo impede que os outros prestem atenção.
Uma tem melhores instalações. A outra é mais simples e fica em um bairro pobre. Mas é aí que caem por terra todos os preconceitos. Foi a escola do bairro pobre que obteve a maior média entre todas as visitadas pela blitz até agora: 7,1.
Para contar esta história incrível para os padrões brasileiros, a equipe do JN no Ar percorreu 1.820 quilômetros de Fortaleza até Goiânia. Foram duas horas e vinte e cinco minutos de viagem. O dia clareava quando a equipe chegou à escola que tem a menor nota da capital de Goiás e, entre todas as visitadas pela blitz do JN no Ar: 1,2. Para surpresa de todos, é uma escola com boa aparência e instalações amplas.
Aparentemente é um ambiente que não diferencia de outras escolas de qualidade. É um ambiente limpo, com salas de aula e instalações de qualidade. O que acontece lá? A diretora Susy Gonzaga tem uma explicação. Ela recebe alunos de outras escolas.
“Supostamente eu teria que pegar essas crianças já mais ou menos alfabetizadas. Pelo menos reconhecendo as letras e reconhecendo palavras. Não é isso que acontece na verdade”, contou.
Para essas crianças a escola programou um período extra de reforço. É o que acontece na sala da professora Gisele Jacques, formada em pedagogia e com salário de R$ 1.600.
“Uma criança do 4° ano, aos 9 anos de idade, chega para a gente, infelizmente, não alfabetizado. A gente tem que fazer aquele preparo todinho de alfabetização e tentar colocá-lo no seu agrupamento o ideal para um aluno de 4° ano”, explicou ela.
O especialista em educação Gustavo Ioschpe quer entender como é o reforço. Uma rodinha é feita para ouvir os alunos. Ele pergunta sobre tempo de aula, dever de casa.
“Tem aqui uma cultura da aceitação do fracasso e de empurrar com a barriga. A gente nota que a escola não tem uma indignação, não está preocupada em resolver esse problema que é crucial da alfabetização na idade certa. Isso acaba gerando indisciplina”, explicou o especialista.
A bagunça prejudica a aula do professor Jeferson. Ele tem licenciatura em matemática e recebe R$ 1.600 por mês. Nem na hora da entrevista a turma se acalma.
“A dificuldade para manter a disciplina, eu acho que é a quantidade de alunos e o desinteresse de alguns. E falta o compromisso dos pais em casa mesmo, que não têm compromisso com a educação, aí os filhos vêm mesmo só para bagunçar”, afirmou ele.
Se o assunto é disciplina, a diretora Maria de Fátima Silva, da escola que tem a melhor nota da região, média igual à de boas escolas de países desenvolvidos, tem o que falar: “Para trabalhar, o aluno tem que ter disciplina. Se não tiver disciplina, como que a gente trabalha com a criança? A criança tem que saber, tem que aprender, portanto eu dou sim”, afirmou.
Um caso típico de boa gestão. A diretora assumiu há oito anos, em um momento crítico. A prefeitura pensava até em fechar a unidade, porque tinha poucos alunos e um resultado sofrível. Como ela virou o jogo?
As instalações são boas, mas nada excepcional. Nas aulas, a razão do sucesso: Marisa é formada em pedagogia, com salário de R$ 1.100, mistura concentração com entusiasmo. E o resultado? Crianças de 9 anos com leitura fluente. Na hora de ir ao quadro fazer contas de três dígitos todo mundo quer.
“Esse é um exemplo fantástico. A gente tem aqui uma diretora que é uma heroína da educação brasileira. Uma profissional que assumiu essa escola há oito anos, quando ela estava quase fechando, com 67 alunos, e, desde então, vem batalhando para fazer dessa escola uma escola de nível de primeiro mundo, que é o que ela conseguiu hoje. O segredo dessa mudança na escola é o comprometimento. A palavra que a professora usa é comprometimento. Todos os profissionais que estão nessa escola estão comprometidos em fazer com que os alunos aprendam. E elas dizem: ‘Nós não temos tempo para esperar que o aluno aprenda, nós temos que ensinar para todos os alunos’. E os alunos que chegam aqui saem com possibilidades de vida muito maiores do que eles sonhavam. Essa escola é realmente fantástica e um exemplo para todo o Brasil”, afirmou Gustavo Ioschpe.

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