terça-feira, 17 de maio de 2011

Após veto, livro do MEC ensina como lidar com obra de Lobato

Depois de ter a obra Caçadas de Pedrinho vetada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) por racismo, Monteiro Lobato ganhou agora duas páginas com um “modo de usar” em livro que será enviado pelo Ministério da Educação (MEC) a 157 mil professores de 1º ao 5º ano. O volume 19 da Coleção Explorando o Ensino - o primeiro de Língua Portuguesa para essa faixa etária - diz que a personagem Tia Nastácia deve ser apresentada com “análise” e sem “julgamento”.
Foto: Reprodução Ampliar
Capa do livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato: recomendação do Conselho reacendeu o debate sobre o politicamente correto
Em outubro do ano passado, o CNE decidiu por unanimidade recomendar que não se distribuísse o livro Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933, a instituições de ensino por considerar que algumas passagens são racistas. O veto foi derrubado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que devolveu o texto ao conselho solicitando uma revisão, que não ocorreu até hoje.
Agora, um livro elaborado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e que será distribuído no segundo semestre para escolas de todo o País se refere a Monteiro Lobato em capítulo intitulado “Leitura e Compreensão: a ronda dos preconceitos e estereótipos” e explica como os educadores devem tratar de “Tia Nastácia, a inesquecível personagem referida como 'negra de estimação', logo nas páginas iniciais do Sítio do Pica-Pau Amarelo.”
O livro destinado à formação docente aponta tratamento discriminatório, mas enfatiza que os alunos não devem ser privados da riqueza de outros pontos do legado do autor por conta disso. “Perderemos parte significativa do que a obra de Lobato pode nos ensinar sobre o Brasil se reduzirmos essa personagem a uma mera manifestação de preconceito”, explica um trecho. “Dizer que os livros infantis de Lobato são preconceituosos e recusá-los ou censurar passagens, em nome do combate ao preconceito, é esquecer que são ficções e que seus personagens e situações formam um mundo à parte, por mais que se relacionem de diferentes formas com o mundo real”, arremata outro.
O texto considera ainda que Tia Nastácia aparece de forma “matriarcal”, portanto, ao mesmo tempo em que “reflete o preconceito do branco letrado das classes médias urbanas” da época, inscreve o negro no imaginário de crianças e adultos da mesma cultura – único público naquele tempo.
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O livro para professores, assinado por nove autores, conclui que “compreender e criticar essas e outras ambiguidades éticas e políticas, numa obra literária demanda um resgate tanto das condições histórico-sociais de sua produção quanto do mundo imaginário em que se inserem”. Os autores explicam ainda que fazer esta “análise” e “avaliação” sobre uma obra é diferente de julgá-la sob um aspecto político, moral, científico ou mesmo de usá-la como programa social. “Considerá-lo (a Lobato) preconceituoso e, por este motivo, afastá-lo de nossas crianças é negar-lhes o direito a um contato direto e vivo com nossa história e nossa cultura.”
Votação ainda é pendência
A polêmica no Conselho Nacional de Educação ainda não terminou. De acordo com a conselheira Clélia Brandão, o parecer contrário do ministro ainda não foi analisado e o assunto deve ser tema das próximas reuniões do grupo.
Além do volume que trata de Língua Portuguesa, professores de 1º ao 5 º ano receberam mais cinco livros sobre Literatura, Matemática, Ciências, Geografia e História. As obras podem também ser baixadas em pdf nesta página do site do MEC
 

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