A licença de José Eduardo Dutra (SE) da Presidência do PT fomentou ainda mais a disputa interna no partido e nas suas bancadas no Congresso. Há divisões até mesmo dentro das disciplinadas correntes internas, sobretudo na majoritária Construindo Um Novo Brasil – a mesma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos bastidores, setores do PT já falam numa possível substituição definitiva de Dutra.
Atualmente, o partido está sob o comando do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), que é o primeiro vice-presidente. Durante a campanha de Dilma Rousseff, ele aumentou o número de desafetos ao se desentender com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel sobre as estratégias de campanha. É por esse motivo que a maioria não deseja ver estendida interinidade de Falcão na presidência do PT.
Ele e Pimentel acabaram afastados da campanha. O ex-prefeito mineiro, no entanto, ganhou a cadeira de ministro do Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio. Amigo de Dilma desde juventude quando ambos militaram no movimento estudantil, Pimentel tem se consolidado como o principal interlocutor da presidenta nesses primeiros meses de governo.
Essa aproximação tem deixado o PT paulista desconfiado. Grupos já vislumbram um aumento de poder do PT mineiro -- com Pimentel à frente -- na Executiva Nacional. Para reverter isso, setores do CNB paulista já cogitam o nome de Luiz Dulci para substituir Dutra. Ex-secretário geral da Presidência, Dulci é adversário de Pimentel no diretório mineiro.
Na campanha estadual em Minas Gerais, Dulci lutou para lançar o ex-ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) como candidato ao governo do Estado. Pimentel, porém, preferiu fechar um acordo com Hélio Costa (PMDB). Patrus acabou saindo na chapa como vice de Costa. Todos acabaram derrotados. Até agora, no entanto, Pimentel foi o único a ganhar cargo no governo.
O racha petista ficou mais evidente na escolha do nome que iria disputar a presidência da Câmara. Na última hora, o grupo mineiro da corrente Construindo Um Novo Brasil deixou de apoiar o então favorito Cândido Vaccarezza (PT-SP) para fechar acordo com Marco Maia (PT-RS), tido como azarão. Mesmo com apoio da CNB paulista, Vaccarezza viu a derrota e preferiu não disputar a indicação no voto.
Como consolação, Vaccarezza foi reconduzido ao posto de líder do governo na Câmara. Nesta semana, ele tenta dar o troco indicando somente pessoas de sua confiança para as vagas de vice-líderes do governo. Um dos articuladores da campanha de Maia, Odair Cunha (PT-MG) foi preterido. Vaccarezza decidiu indicar José Guimarães (PT-CE) para uma das vagas de vice-líder.
Licença de Dutra
Há dez dias, Dutra pediu licença do partido para se tratar de uma hipertensão provocada por estresse. Ainda durante a campanha de Dilma Rousseff, ele já havia passado mal durante uma reunião e precisou de atendimento durante uma reunião partidária. Dutra foi um dos coordenadores da campanha ao lado dos atuais ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Antonio Palocci (Casa Civil).
Dutra foi o único a não ganhar um ministério. Seu projeto era voltar para o Senado, onde exerceu mandato entre 1995 e 2002. Para tanto, era preciso que o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) fosse nomeado ministro. Dutra é o primeiro suplente do socialista, que chegou a ser cotado para as pastas do Turismo e da Micro e Pequena Empresa.
Valadares, no entanto, acabou não sendo indicado pelo PSB e Dutra teve de seguir à frente do PT. Como atuou como coordenador de campanha, coube a ele negociar com os demais partidos. De janeiro para cá, Dutra continuou sendo pressionado por siglas que querem cargos no segundo escalão. As nomeações ainda estão emperradas.
Segundo o iG apurou, Dutra se desentendeu até com o colega Marcelo Déda (PT), governador de Sergipe. A amigos próximos, o presidente do PT disse estar frustrado com o relacionamento com o governo. Para tentar se recuperar do estresse, ele tem evitado atender telefonemas. O iG tentou falar com ele, mas também não conseguiu.
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