| Marcos Losekann |
Desde o dia 25 de janeiro, notícias sobre a crise no Egito têm tido destaque nos jornais do mundo inteiro. Entre manifestações populares, tanques e soldados destaca-se, entre outros, o jornalista Ari Peixoto. Há dois anos como correspondente no Oriente Médio e com passagem marcada para voltar em março ao Brasil, o repórter encerra sua jornada em grande estilo. Sua experiência por lá começou em 28 de janeiro, quando chegou ao Cairo. Desde então ele vem acompanhando de perto os protestos que tomaram conta da república árabe.
No epicentro dos acontecimentos, o repórter testemunhou confrontos entre policiais e manifestantes, perdeu a conexão com o mundo exterior, deu susto nos familiares e passou por diversos apuros e estresses. Mas, em nenhum momento, deixou em segundo plano seu objetivo: noticiar o que estava acontecendo lá para quem o acompanhava do lado de cá. "Não tínhamos conexão com celular e a internet estava fora do ar. Senti que as condições de trabalho seriam muito difíceis. Mas me lembrei que, quando a comecei a carreira, na década de 80, não havia nem uma coisa nem outra. Era máquina de escrever, orelhão, quando funcionava - e a gente sempre fez reportagem", diz Peixoto, por e- mail, em depoimento exclusivo.
Assim como ele, Franz Vacek, também esteve lado a lado com o conflito. Correspondente da RedeTV! em Paris desde 2008, ele afirma que presenciar atos históricos como este faz a profissão valer a pena. "Eu estava na praça e escutei tiros. O cheiro do gás lacrimogêneo estava muito forte e, ainda assim, eu consegui dar voz à população local. E isso não tem preço", orgulha-se.
As histórias dos dois jornalistas citados acima exemplificam bem as aventuras de um correspondente internacional. Na busca por personagens interessantes e notícias em primeiríssima mão, eles enfrentam situações como as disparidades culturais, o fuso horário - que os faz passar praticamente o dia todo acordados - as diferenças climáticas e, claro, a saudade da família e das comidinhas gostosas que ficaram por aqui. Em depoimentos dados à revista, alguns dos 46 correspondentes que trabalham na nossa TV (Globo, Globo News, Band, Band News, Record, Record News, SBT e TV Brasil) revelam as curiosidades e as dificuldades que a distância pode trazer. E que a tecnologia avançada pode reverter.
"Acho que difícil é se "encaixar" na cultura local, no modo de ser, de viver, de pensar, de se relacionar, até de comer... Tudo é diferente, desde o gosto da comida até o estilo de vida. Geralmente se adaptar a isso leva um tempo", descreve Marcos Losekann, correspondente da Globo em Londres.
Embora garanta que a adaptação não está entre seus maiores problemas, ele reforça que lidar com a saudade requer sangue frio. "Costumo dizer que sou camaleão... rapidamente pareço um nativo (risos). O que faz a gente sofrer é a falta dos amigos, dos parentes mais próximos, do Brasil de um modo geral... mas, como se vê, a gente sobrevive", analisa ele, atualmente como coordenador do escritório da TV Globo na Europa, após período no Oriente Médio, onde passou por poucas e boas devido às diversidades culturais.
Barreiras linguísticas
"Em certos lugares árabes entrava falando "Shalom" (paz), cumprimento comum entre os judeus, e que gerava constrangimento nos árabes. Volta e meia eu invertia dizendo "Schucram" (obrigado em árabe) para os judeus. Mas ninguém, jamais, se zangou. Até porque sabiam que eu era estrangeiro, cristão, brasileiro e, portanto, neutro".
Já em Londres, Losekann revela que a grande prova inicial foi mesmo falar ao telefone. "Embora eu falasse inglês razoavelmente bem, é complicado falar em outra língua com uma pessoa que você não está vendo".
As - muitas - barreiras linguísticas ainda atrapalham o jornalista Roberto Kovalic, o primeiro correspondente da Globo no Japão. Há um ano em Tóquio, ele conta que vem se esforçando para aprender a língua escrita, já que há três alfabetos no país. O principal possui nada menos que dois mil caracteres.
"Já entendo um pouco do japonês falado, mas ler é impossível. Não consigo ir ao cinema, apesar de o Japão ter uma enorme produção cinematográfica. Também não vou ao teatro. Vim do Brasil agora e trouxe uma mala de livros para ler", revela o jornalista. A pior parte, entretanto, são as idas aos restaurantes japoneses.
"A não ser que o cardápio tenha fotos, geralmente não sei o que vou comer. Aponto qualquer coisa e entrego e Deus. No começo era ainda pior, pois não sabia ler os números em japonês. Portanto, não sabia o que iria comer e nem quanto iria pagar", diverte-se, que viajou acompanhado da mulher, Karina.
Kovalic revela que quando vem ao Brasil, só quer saber de feijão, churrasco e frutas. "Aqui a variedade é pequena e elas podem ser absurdamente caras. Um melão pode custar o equivalente a R$ 400", impressiona-se. Para as tarefas mais complicadas, o gaúcho de Santana do Livramento conta com o apoio de sua produtora, Sanae Ono.
Em outra parte do continente asiático, na China, mais precisamente em Pequim, a correspondente Patricia Bolsoy revela que aprender mandarim - a língua mais falada do mundo - foi fundamental.
"Os primeiros seis meses foram os mais complicados porque eu não sabia nenhuma palavra do chinês e o abismo cultural impedia o contato. Não conseguia me comunicar e me sentia péssima. Foi quando percebi que a obrigação de aprender os costumes locais e o idioma era minha. Hoje, não tenho a necessidade de trabalhar com intérprete, o que facilita bastante. Percebo que os chineses respeitam um estrangeiro que aprendeu o idioma. E eu consigo um contato mais direto e de mais confiança com as fontes", pondera.
Após receber um convite de Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, ela partiu sozinha em direção ao outro lado do mundo. "A decisão de deixar o Brasil, em 2007, e encarar os desafios de um país comunista foi tomada em alguns dias. Eu me despi de todos os valores e preconceitos que tinha e coloquei na bagagem o desejo de buscar o novo, o desconhecido", ressalta Patricia, explicando que foi preciso de libertar dos conceitos ocidentais para se adaptar à filosofia oriental. Questões culturais à parte, o trabalho em si exige tanto - ou mais - do que no Brasil.
Marcos Losekann - Londres
"Como bom gaúcho, sinto falta de um bom churrasco. Até faço uns assados aqui, mas nem sempre encontro a carne perfeita. O corte no Brasil é diferente, especial. Também gosto muito de uma boa feijoada no sábado, de uma boa caipirinha... isso a gente faz sempre que possível. O mais complicado e curioso foi me habituar ao lado inglês de dirigir: dirigir do lado direito e andar do lado esquerdo. No mais, logo percebi a formalidade dos ingleses, a educação... No Oriente Médio achava chato ter que passar, a toda hora, em cada porta de loja ou restaurante, por minuciosas revistas. Também estranhei a comida, que tem temperos fortes".
Patricia Bolsoy - China
"Os primeiros dias foram mais difíceis porque a China era muito diferente quando cheguei, em 2007. O acesso a produtos importados era limitado. A primeira dificuldade foi comprar xampu e condicionador, como os rótulos eram todos em caracteres chineses, eu não sabia diferenciar produtos de higiene pessoal e limpeza da casa. Os hábitos alimentares são muito diferentes. Por exemplo, os chineses costumam jantar às 18h. Além disso, o costume de fumar, arrotar e falar enquanto se come faz parte da cultura. O que mais gosto é poder andar de bicicleta, passear pela cidade em qualquer horário".
Ari Peixoto - Oriente Médio
"Eu, que comecei como repórter de rádio, estou acostumado com a adrenalina de entrar ao vivo, na hora em que o fato está acontecendo, é escrever uma página da história. Depois de um trabalho bem feito, esquecemos os limites, as dificuldades, os perigos e curtimos a satisfação de ter passado a mensagem. E nisso não conta cansaço: dormir três horas para no dia seguinte fazer tudo de novo, cansa, mas é bom demais. No futuro, além de pirâmides e farós, a história do Egito também vai registrar a Revolução da praça Tahrir. E eu poderei dizer que vi de perto a emoção dos egípcios na luta por um mundo melhor"
Roberto Kovalic - Japão
"Conheci o Japão em 2008, quando vim passar férias aqui. Vim a Tóquio e Quioto e adorei o país. Vim com minha mulher e um gato, Toulouse. Para ela foi mais difícil no começo, mas agora acho que gosta mais daqui do que eu. A história mais engraçada que aconteceu comigo é que durante um mês usei um spray para os pés como desodorante. Como eu iria saber? Os dois estavam na mesma seção da farmácia! O Japão é um país absurdamente limpo e eficiente. Há muitas regras. O mais difícil foi - e ainda é - a pontualidade".
Franz Vacek - Paris
"Estou fora do Brasil há quase três anos e posso dizer que a adaptação a uma cultura diferente não é fácil. Eu não encontro em Paris a mesma paciência dos vendedores no Brasil. A rotina é bem solitária. Falo português no meio das ruas e ninguém entende, o povo acha que sou louco (risos). Mantenho bastante contato com a redação do Brasil, mas é virtual. A maior dificuldade é estar longe dos seus pais e familiares em datas festivas.
Yula Rocha - Nova York
"Uma história engraçada aconteceu quando eu estava grávida de oito meses e fui cobrir a visita do (então) presidente Lula a Barack Obama na Casa Branca. Depois da entrevista no Salão Oval, aguardamos a saída deles no Rose Garden. Um dos jornalistas perguntou: "O senhor tem brincado muito com as filhas no novo playground?" Obama respondeu que sim e que estava planejando convidar repórteres com filhos para uma tarde informal no jardim. Olhou para mim e disse: "A futura mãe também está convidada". Saudade do Brasil eu tenho em vários momentos principalmente no inverno rigoroso".
Missão internacional
As dificuldades que os correspondentes enfrentam em trabalhar com o fuso horário diferente, longe dos amigos e da famílias
Para se manter atualizado com os acontecimentos locais, é necessário que eles estejam sempre em dia com os jornais impressos e noticiários. No Japão, Kovalic utiliza as instalações da IPC, afiliada da Globo que produz também matérias para a Globo internacional. Já Patricia vive no mesmo apartamento onde fica o escritório da Band.
A variação nas horas também mexe com a rotina de trabalho de Franz Vacek. Por conta do jeito discreto e reservado dos franceses, ele é obrigado a improvisar seus "offs". "Geralmente, meu fuso está a três, quatro horas à frente do Brasil. Eu vou dormir de madrugada e como trabalho em casa passo por situações inusitadas como, por exemplo, o vizinho pedir silêncio porque estou passando "off" na madrugada. Às vezes, acabo gravando no porão ou no para não atrapalhar". A formalidade dos moradores da Cidade Luz ainda impressiona o correspondente. "No primeiro momento, o que se percebe é a falta do sorriso, do contato mais próximo com o interlocutor. Mas isso não é regra geral".
É verdade que o computador não substitui um abraço, mas na hora do aperto, é a tecnologia quem "aconchega" os profissionais. Vale tudo: orkut, facebook, twitter e Skype.
"Não sei o que seria de mim sem o skype. Minha mãe acompanhou toda a minha gravidez e o crescimento do meu filho por ele. É triste? Sim, mas ajuda a apaziguar a saudade", contenta-se Yula Rocha, do SBT, casada com um inglês e mãe de Liam, de um ano e oito meses.
A oportunidade de viver nos Estados Unidos veio por acaso. Ela estudava jornalismo internacional em Londres quando a Inglaterra foi alvo de um atentado terrorista, em 2005. Acionada pela Globo News, reforçou a cobertura dos ataques (explosões em ônibus e estações de metrô) e, ao finalizar a colaboração com o canal, recebeu uma ligação da jornalista Ana Paula Padrão, do SBT, que lhe fez o convite. Apesar da grande oferta da Big Apple, e da fácil comunicação, engana-se quem pensa que a vida da correspondente é cômoda.
"Eu trabalho em casa, então meu quarto é uma miniredação. No início sentia falta da correria de uma redação de verdade, mas hoje gosto porque administro melhor o meu tempo e tenho muita liberdade", reconhece ela.
Ao contrário dos outros, adiantados em relação ao nosso horário, Yula está três horas atrás. "Já acordo com a sensação de estar atrasada".
FIQUE POR DENTRO
Atualmente no Rio onde faz reportagens para o jornalismo da Globo, a repórter Sandra Passarinho foi a primeira correspondente mulher da emissora. Em 1974, ela passou a trabalhar no recém-inaugurado escritório da emissora em Londres, com o cinegrafista Orlando Moreira. Sem os aparatos tecnólogicos de hoje, a dupla ainda dependia do filme, que era mandado para cá via satélite.
"Fomos cobrir a Revolução dos Cravos, em Portugal, que começou em 25 de abril de 1974. Desembarcamos em 26 de abril em Madri e de lá fomos de carro para Lisboa. Ficamos vários meses sem morar em lugar nenhum, porque de Portugal seguimos para fazer reportagens sucessivas em vários países. A experiência portuguesa foi marcante por ter sido a primeira, num país ligado à nossa história, com a mesma língua, e que começava a sair de uma ditadura, enquanto no Brasil o regime autoritário se fortalecia. Portugal estava de cabeça para baixo, era difícil entender direito o que estava acontecendo e separar o joio do trigo em meio a tanta informação desencontrada. Mas para uma dupla de jovens repórteres, nada podia ser melhor do que aquilo! Era um trabalho danado, ainda usávamos filme. Então tinha que revelar, montar, sonorizar e gerar para o Rio via satélite. O vídeo e a internet tornaram o jornalismo televisivo muito mais ágil, mas há uma tendência internacional a manter equipes menores".
NATALIA CASTROAGÊNCIA O GLOBO
Assim como ele, Franz Vacek, também esteve lado a lado com o conflito. Correspondente da RedeTV! em Paris desde 2008, ele afirma que presenciar atos históricos como este faz a profissão valer a pena. "Eu estava na praça e escutei tiros. O cheiro do gás lacrimogêneo estava muito forte e, ainda assim, eu consegui dar voz à população local. E isso não tem preço", orgulha-se.
As histórias dos dois jornalistas citados acima exemplificam bem as aventuras de um correspondente internacional. Na busca por personagens interessantes e notícias em primeiríssima mão, eles enfrentam situações como as disparidades culturais, o fuso horário - que os faz passar praticamente o dia todo acordados - as diferenças climáticas e, claro, a saudade da família e das comidinhas gostosas que ficaram por aqui. Em depoimentos dados à revista, alguns dos 46 correspondentes que trabalham na nossa TV (Globo, Globo News, Band, Band News, Record, Record News, SBT e TV Brasil) revelam as curiosidades e as dificuldades que a distância pode trazer. E que a tecnologia avançada pode reverter.
"Acho que difícil é se "encaixar" na cultura local, no modo de ser, de viver, de pensar, de se relacionar, até de comer... Tudo é diferente, desde o gosto da comida até o estilo de vida. Geralmente se adaptar a isso leva um tempo", descreve Marcos Losekann, correspondente da Globo em Londres.
Embora garanta que a adaptação não está entre seus maiores problemas, ele reforça que lidar com a saudade requer sangue frio. "Costumo dizer que sou camaleão... rapidamente pareço um nativo (risos). O que faz a gente sofrer é a falta dos amigos, dos parentes mais próximos, do Brasil de um modo geral... mas, como se vê, a gente sobrevive", analisa ele, atualmente como coordenador do escritório da TV Globo na Europa, após período no Oriente Médio, onde passou por poucas e boas devido às diversidades culturais.
Barreiras linguísticas
"Em certos lugares árabes entrava falando "Shalom" (paz), cumprimento comum entre os judeus, e que gerava constrangimento nos árabes. Volta e meia eu invertia dizendo "Schucram" (obrigado em árabe) para os judeus. Mas ninguém, jamais, se zangou. Até porque sabiam que eu era estrangeiro, cristão, brasileiro e, portanto, neutro".
Já em Londres, Losekann revela que a grande prova inicial foi mesmo falar ao telefone. "Embora eu falasse inglês razoavelmente bem, é complicado falar em outra língua com uma pessoa que você não está vendo".
As - muitas - barreiras linguísticas ainda atrapalham o jornalista Roberto Kovalic, o primeiro correspondente da Globo no Japão. Há um ano em Tóquio, ele conta que vem se esforçando para aprender a língua escrita, já que há três alfabetos no país. O principal possui nada menos que dois mil caracteres.
"Já entendo um pouco do japonês falado, mas ler é impossível. Não consigo ir ao cinema, apesar de o Japão ter uma enorme produção cinematográfica. Também não vou ao teatro. Vim do Brasil agora e trouxe uma mala de livros para ler", revela o jornalista. A pior parte, entretanto, são as idas aos restaurantes japoneses.
"A não ser que o cardápio tenha fotos, geralmente não sei o que vou comer. Aponto qualquer coisa e entrego e Deus. No começo era ainda pior, pois não sabia ler os números em japonês. Portanto, não sabia o que iria comer e nem quanto iria pagar", diverte-se, que viajou acompanhado da mulher, Karina.
Kovalic revela que quando vem ao Brasil, só quer saber de feijão, churrasco e frutas. "Aqui a variedade é pequena e elas podem ser absurdamente caras. Um melão pode custar o equivalente a R$ 400", impressiona-se. Para as tarefas mais complicadas, o gaúcho de Santana do Livramento conta com o apoio de sua produtora, Sanae Ono.
Em outra parte do continente asiático, na China, mais precisamente em Pequim, a correspondente Patricia Bolsoy revela que aprender mandarim - a língua mais falada do mundo - foi fundamental.
"Os primeiros seis meses foram os mais complicados porque eu não sabia nenhuma palavra do chinês e o abismo cultural impedia o contato. Não conseguia me comunicar e me sentia péssima. Foi quando percebi que a obrigação de aprender os costumes locais e o idioma era minha. Hoje, não tenho a necessidade de trabalhar com intérprete, o que facilita bastante. Percebo que os chineses respeitam um estrangeiro que aprendeu o idioma. E eu consigo um contato mais direto e de mais confiança com as fontes", pondera.
Após receber um convite de Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, ela partiu sozinha em direção ao outro lado do mundo. "A decisão de deixar o Brasil, em 2007, e encarar os desafios de um país comunista foi tomada em alguns dias. Eu me despi de todos os valores e preconceitos que tinha e coloquei na bagagem o desejo de buscar o novo, o desconhecido", ressalta Patricia, explicando que foi preciso de libertar dos conceitos ocidentais para se adaptar à filosofia oriental. Questões culturais à parte, o trabalho em si exige tanto - ou mais - do que no Brasil.
Marcos Losekann - Londres
"Como bom gaúcho, sinto falta de um bom churrasco. Até faço uns assados aqui, mas nem sempre encontro a carne perfeita. O corte no Brasil é diferente, especial. Também gosto muito de uma boa feijoada no sábado, de uma boa caipirinha... isso a gente faz sempre que possível. O mais complicado e curioso foi me habituar ao lado inglês de dirigir: dirigir do lado direito e andar do lado esquerdo. No mais, logo percebi a formalidade dos ingleses, a educação... No Oriente Médio achava chato ter que passar, a toda hora, em cada porta de loja ou restaurante, por minuciosas revistas. Também estranhei a comida, que tem temperos fortes".
Patricia Bolsoy - China
"Os primeiros dias foram mais difíceis porque a China era muito diferente quando cheguei, em 2007. O acesso a produtos importados era limitado. A primeira dificuldade foi comprar xampu e condicionador, como os rótulos eram todos em caracteres chineses, eu não sabia diferenciar produtos de higiene pessoal e limpeza da casa. Os hábitos alimentares são muito diferentes. Por exemplo, os chineses costumam jantar às 18h. Além disso, o costume de fumar, arrotar e falar enquanto se come faz parte da cultura. O que mais gosto é poder andar de bicicleta, passear pela cidade em qualquer horário".
Ari Peixoto - Oriente Médio
"Eu, que comecei como repórter de rádio, estou acostumado com a adrenalina de entrar ao vivo, na hora em que o fato está acontecendo, é escrever uma página da história. Depois de um trabalho bem feito, esquecemos os limites, as dificuldades, os perigos e curtimos a satisfação de ter passado a mensagem. E nisso não conta cansaço: dormir três horas para no dia seguinte fazer tudo de novo, cansa, mas é bom demais. No futuro, além de pirâmides e farós, a história do Egito também vai registrar a Revolução da praça Tahrir. E eu poderei dizer que vi de perto a emoção dos egípcios na luta por um mundo melhor"
Roberto Kovalic - Japão
"Conheci o Japão em 2008, quando vim passar férias aqui. Vim a Tóquio e Quioto e adorei o país. Vim com minha mulher e um gato, Toulouse. Para ela foi mais difícil no começo, mas agora acho que gosta mais daqui do que eu. A história mais engraçada que aconteceu comigo é que durante um mês usei um spray para os pés como desodorante. Como eu iria saber? Os dois estavam na mesma seção da farmácia! O Japão é um país absurdamente limpo e eficiente. Há muitas regras. O mais difícil foi - e ainda é - a pontualidade".
Franz Vacek - Paris
"Estou fora do Brasil há quase três anos e posso dizer que a adaptação a uma cultura diferente não é fácil. Eu não encontro em Paris a mesma paciência dos vendedores no Brasil. A rotina é bem solitária. Falo português no meio das ruas e ninguém entende, o povo acha que sou louco (risos). Mantenho bastante contato com a redação do Brasil, mas é virtual. A maior dificuldade é estar longe dos seus pais e familiares em datas festivas.
Yula Rocha - Nova York
"Uma história engraçada aconteceu quando eu estava grávida de oito meses e fui cobrir a visita do (então) presidente Lula a Barack Obama na Casa Branca. Depois da entrevista no Salão Oval, aguardamos a saída deles no Rose Garden. Um dos jornalistas perguntou: "O senhor tem brincado muito com as filhas no novo playground?" Obama respondeu que sim e que estava planejando convidar repórteres com filhos para uma tarde informal no jardim. Olhou para mim e disse: "A futura mãe também está convidada". Saudade do Brasil eu tenho em vários momentos principalmente no inverno rigoroso".
Missão internacional
As dificuldades que os correspondentes enfrentam em trabalhar com o fuso horário diferente, longe dos amigos e da famílias
Para se manter atualizado com os acontecimentos locais, é necessário que eles estejam sempre em dia com os jornais impressos e noticiários. No Japão, Kovalic utiliza as instalações da IPC, afiliada da Globo que produz também matérias para a Globo internacional. Já Patricia vive no mesmo apartamento onde fica o escritório da Band.
A variação nas horas também mexe com a rotina de trabalho de Franz Vacek. Por conta do jeito discreto e reservado dos franceses, ele é obrigado a improvisar seus "offs". "Geralmente, meu fuso está a três, quatro horas à frente do Brasil. Eu vou dormir de madrugada e como trabalho em casa passo por situações inusitadas como, por exemplo, o vizinho pedir silêncio porque estou passando "off" na madrugada. Às vezes, acabo gravando no porão ou no para não atrapalhar". A formalidade dos moradores da Cidade Luz ainda impressiona o correspondente. "No primeiro momento, o que se percebe é a falta do sorriso, do contato mais próximo com o interlocutor. Mas isso não é regra geral".
É verdade que o computador não substitui um abraço, mas na hora do aperto, é a tecnologia quem "aconchega" os profissionais. Vale tudo: orkut, facebook, twitter e Skype.
"Não sei o que seria de mim sem o skype. Minha mãe acompanhou toda a minha gravidez e o crescimento do meu filho por ele. É triste? Sim, mas ajuda a apaziguar a saudade", contenta-se Yula Rocha, do SBT, casada com um inglês e mãe de Liam, de um ano e oito meses.
A oportunidade de viver nos Estados Unidos veio por acaso. Ela estudava jornalismo internacional em Londres quando a Inglaterra foi alvo de um atentado terrorista, em 2005. Acionada pela Globo News, reforçou a cobertura dos ataques (explosões em ônibus e estações de metrô) e, ao finalizar a colaboração com o canal, recebeu uma ligação da jornalista Ana Paula Padrão, do SBT, que lhe fez o convite. Apesar da grande oferta da Big Apple, e da fácil comunicação, engana-se quem pensa que a vida da correspondente é cômoda.
"Eu trabalho em casa, então meu quarto é uma miniredação. No início sentia falta da correria de uma redação de verdade, mas hoje gosto porque administro melhor o meu tempo e tenho muita liberdade", reconhece ela.
Ao contrário dos outros, adiantados em relação ao nosso horário, Yula está três horas atrás. "Já acordo com a sensação de estar atrasada".
FIQUE POR DENTRO
Atualmente no Rio onde faz reportagens para o jornalismo da Globo, a repórter Sandra Passarinho foi a primeira correspondente mulher da emissora. Em 1974, ela passou a trabalhar no recém-inaugurado escritório da emissora em Londres, com o cinegrafista Orlando Moreira. Sem os aparatos tecnólogicos de hoje, a dupla ainda dependia do filme, que era mandado para cá via satélite.
"Fomos cobrir a Revolução dos Cravos, em Portugal, que começou em 25 de abril de 1974. Desembarcamos em 26 de abril em Madri e de lá fomos de carro para Lisboa. Ficamos vários meses sem morar em lugar nenhum, porque de Portugal seguimos para fazer reportagens sucessivas em vários países. A experiência portuguesa foi marcante por ter sido a primeira, num país ligado à nossa história, com a mesma língua, e que começava a sair de uma ditadura, enquanto no Brasil o regime autoritário se fortalecia. Portugal estava de cabeça para baixo, era difícil entender direito o que estava acontecendo e separar o joio do trigo em meio a tanta informação desencontrada. Mas para uma dupla de jovens repórteres, nada podia ser melhor do que aquilo! Era um trabalho danado, ainda usávamos filme. Então tinha que revelar, montar, sonorizar e gerar para o Rio via satélite. O vídeo e a internet tornaram o jornalismo televisivo muito mais ágil, mas há uma tendência internacional a manter equipes menores".
NATALIA CASTROAGÊNCIA O GLOBO
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