quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Limoeiro reúne o melhor da trova e do repente nordestino


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Geraldo Amâncio, poeta, repentista e um dos idealizadores do evento, faz versos improvisados a partir de temas que o público apresenta ao vivo. A criatividade prova o valor da arte
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Orquestra popular Som das Carnaubeiras, de Russas, integra a programação
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Chico César e sua poesia nordestina global é atração certa na Praça da Matriz
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O músico Khalil Gibran integra a nova safra de artistas do acervo cearense
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Praça José Osterne, no Largo da Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, vira um grande "pé-de-parede", como afirmam os trovadores e repentistas que sobem ao palco

Limoeiro do Norte. A poesia vai "correr frouxa" de hoje em diante. A viola e a memória estarão afinadas. Tem início o VI Festival Internacional de Trovadores e Repentistas, com mais de 50 cantadores reunidos em Limoeiro do Norte.Mala e viola
É uma semana para estes homens que por décadas viajam pelos interiores com duas malas, sendo a principal a que guarda a viola. Seja num bar, num terreiro de quermesse, num pátio de associação, o público pode ser grande ou pequeno, mas é fiel. Os trovadores e repentistas são porta-poesia, nas cordas vocais e das violas, uma memória invejável e uma criatividade sem tamanho. São os donos do pedaço. E são "só" poetas. O Festival que começa hoje em Limoeiro superdimensiona e valoriza o espaço. Agora a praça principal e o maior palco da festa é deles, os "cantadores".
As apresentações terão início sempre às 20h30, mas logo no início da noite haverá mesas com livros, cordéis e CDs e outros artigos à venda na Feira dos Trovadores e Repentistas. Longe de lojas e livrarias, é lá que o poeta popular pode divulgar sua arte para além dos festivais e dos programas de rádio de cantoria de início de dia e de fim de tarde no interior.
A Praça José Osterne, no largo da Igreja de Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Limoeiro, vira um grande pé-de-parede, como os repentistas definem o espaço da poesia e do desafio. O público dá o mote e o repentista faz o verso. Não existe sarau mais interativo. Certa vez, chegaram para seu Geraldo Amâncio, poeta popular e cantador, coordenador do Festival, e lhe deram um mote: "se não fosse a viola o que seria dos lamentos do sertão".
Não teve medo: "um ouvinte me pega de surpresa/ num bilhete mandou o seu recado,/que o poeta é um advogado/ defendendo os lamentos da pobreza/ ele canta o poder da natureza/ o inverno, a chuva e o torreão/ terra seca, o roçado e o verão/ pensa, toca, se inspira, canta e cria/ Se não fosse a viola o que seria/ dos lamentos do povo do sertão".
O VI Festival Internacional de Trovadores e Repentistas é realizado pelo Instituto Internacional de Artes e Cantorias (Intercanto), com patrocínio do Governo do Estado e apoio cultural da Coelce, Fafidam/Uece, Prefeitura de Limoeiro do Norte e TV Diário, tendo execução de J.A.Lima Produções.
De dia, antes dos trovadores, o Festival traz debates com "olhar contemporâneo sobre a cultura popular". À noite, o evento deste ano enlaça várias vertentes da música. Têm repentistas, mas tem quem embriagou-se dessas fontes para compor a sua própria (p)arte. Que o digam os meninos e meninas da Orquestra Popular Som das Carnaubeiras, de Russas. Outras apresentações seguem encerrando os dias de Festival, como a fadista Cristina Maria, de Portugal; e os cantores e compositores Chico César, da Paraíba e Khalil Gibran, do Ceará.
No auditório da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam) haverá palestras e debates. Entre os participantes, o repentista Francisco de Assis, o Chico Repentista, do Distrito Federal (DF); o músico e apresentador Dílson Pinheiro, professor e cantador Zé Fernandes, os mestres acadêmicos Kelson Gerison Oliveira Chaves (Fafidam) e Sólon Sales (IFCE); Clerton Martintas (Unifor e da Comissão Cearense de Folclore); Crispiniano Neto, da Fundação José Augusto (Rio Grande do Norte), doutor Clarindo Barbosa, da Universidade Federal de Campina Grande (PB) e Lourdes Macena, presidente da Comissão Nacional de Folclore.
O músico Custódio Castelo, de Portugal, falará sobre "O fado e a guitarra portuguesa", ampliando a programação.

Fique por dentro
A história continuaO Festival Internacional de Trovadores e Repentistas foi lançado no ano de 2005. Teve as duas primeiras edições simultaneamente em Quixadá e Quixeramobim. Em 2007, seguiu para as cidades de Senador Pompeu e Farias Brito e, desde 2008, acontece em Limoeiro do Norte. Idealizado pelo cineasta Rosemberg Cariry e também pelo poeta e cantador Geraldo Amâncio, o festival contribui para a valorização, fortalecimento e preservação das culturas populares regionais tradicionais.
Não fica restrito somente à trova e o repente tradicional, mas se amplia para outros gêneros musicais, tais como a música popular brasileira, o pop rock, o maracatu. Esta diversidade permite o diálogo entre as várias formações artísticas. Quem ganha com isto é o público, formado por diferentes gerações. Já é o terceiro ano consecutivo que acontece no Vale do Jaguaribe, em Limoeiro.
DO FADO AO MARACATUProgramação tem variedade musical
 Até o próximo sábado, apresentam-se em praça pública as duplas de repentistas, seguido de shows com outras vertentes da música popular daqui e alhures. O encontro da poesia popular nacional e internacional terá dedos de prosa em debates e palestras de pesquisadores e artistas de Portugal, Brasília, Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.
É um festival sem competição, só na peleja entre os cantadores, para graça do público que acompanhar. Para os poetas populares, a premiação é estar lá. Desde que foi lançado em 2005 para Quixadá e Quixeramobim, o Festival de Trovadores e Repentistas é evento certo na agenda de grandes criadores, como Ivanildo Vila Nova (Pernambuco) e Raimundo Caetano (PB), dupla que se apresentará hoje à noite. Até o próximo sábado, serão 53 cantadores, sendo 28 do Ceará, 15 do Rio Grande do Norte, quatro da Paraíba, três de Pernambuco, dois do Piauí e um repentista do Rio Grande do Sul.
Um leque variado de gêneros musicais marca a agenda de shows que acontecem na Praça da Igreja Matriz
Limoeiro do Norte. Atração internacional no Festival, a fadista Cristina Maria (Portugal) é da nova safra de intérpretes portugueses. Seu concerto de fado é apreciado em outros países como Itália, Grécia, França, Suíça, Alemanha e Holanda. Com seu timbre espesso, sensual, carregado de emoção autêntica, é capaz de ora murmurar em tom de confissão e ora clamar mágoas apaixonadas, onde não se vê nenhum artifício interpretativo.
A noite de quarta ainda têm Ítalo & Renno (CE), músicos sanfoneiros. Na quinta, Betinho Aguiar (CE), conhecido pelo sucesso "Menino de Rua"; Som das Carnaubeiras (CE), grupo que traz no repertório, além de músicas autorais, composições de artistas cearenses, passeando entre a loa do maracatu ao blues, passando pelo coco, xote, baião, ciranda, aboios dentre outros ritmos. A noite será encerrada com Cacimba de Aluá (CE).
Na sexta, terá Batuta Nordestina (CE), que reúne entre seus integrantes poetas populares, repentistas, folcloristas, compositores e arte educadores, e Quinteto Violado (PE), com 40 anos de carreira e mais os 50 discos produzidos.
No sábado, noite de encerramento do Festival, após os trovadores e repentistas vão ao palco Khalil Gibran (CE), com seu show "Noturno", de pop-rock autoral e apresentando uma homenagem aos trovadores cantando versos de Patativa do Assaré; e o cantor e compositor Chico César (PB) encerra no sábado com o show "Francisco Forró y Frevo", trazendo o espírito do carnaval e das festas populares nordestinas. Toda a programação é gratuita.
Para o coordenador do Festival, Geraldo Amâncio, essa é uma oportunidade de prestigiar o cantador de viola, "mostrar para um grande público uma arte tão antiga e atual".
O prefeito de Limoeiro, João Dilmar da Silva, aponta a realização do evento pelo terceiro ano seguido na cidade como uma forma de aumentar a diversidade de expressões culturais no Vale do Jaguaribe.
MELQUÍADES JÚNIORCOLABORADOR - DN

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