Raimundo Fagner: promessa de show repleto de clássicos, no fim das comemorações dos 100 anos do Theatro José de Alencar FOTO: ALANA ANDRADE |
A abertura do ano do centenário do Theatro José de Alencar, teve início em junho de 2009, com show do compositor cearense Fausto Nilo, abrindo o Projeto Músicas do Mundo. Agora, o encerramento fica a cargo do amigo e parceiro, Raimundo Fagner que, hoje, a partir das 20h, apresenta seu espetáculo, aberto ao público. Em entrevista ao Caderno 3, Fagner falou de músicos contemporâneos, deixou clara sua posição em torno do movimento Massafeira, e adiantou que, para 2011, está preparando novo trabalho, com CD e DVDRaimundo Fagner Cantor e compositorO show que você fará, praticamente, encera as atividades do Centenário do Theatro José de Alencar. Quais suas principais lembranças daqui?
Ah, são muitas e fundamentais. A primeira música que fiz, apresentei aqui no IV Festival de Música Popular Cearense, em dezembro de 1968, acho que ninguém aqui nessa sala tinha nascido (brinca). Ganhei esse festival e ali foi o começo de minha história. Como música aqui do Ceará, eu não podia ficar fora dessa programação centenária.Tem outras lembranças desse tempo?
Muitas. Uma delas é que, na reinauguração, fiz um show aqui com Nonato Luiz... Depois foi ficando sem opção, porque o lugar é pequeno, começou a ter muito público. Será uma emoção grande voltar a cantar em Fortaleza para um grande público. A última vez que fiz aqui, foi no Dragão do Mar, gravamos um grande disco ao vivo. Reencontrar o público de Fortaleza é sempre muito bom. Quem sabe pode até sair um DVD desse momento especial. É também a despedida deste começo de século.O que os fãs verão mais tarde?Olha, show em praça pública não dá para apresentar coisas novas. Mas já estou preparando outro disco, programado para 2011. E vem muita coisa boa por aí. Nesse trabalho estou misturando Zeca Baleiro, Chico Cézar, Paulinho Pedra Azul, Fausto Nilo, Ferreira Goulard. Aliás, tenho uma nova parceria com Fausto, que chama "Baladas Fingidas". Ele disse que é a melhor música que já fizemos. Pode ser exagero, mas, se ele está dizendo, não deve ser tão ruim assim.Algum projeto especificamente para o Ceará?Mais ou menos. Tenho alertado que o Ceará precisa de um CD de músicas que falem, diretamente, do Ceará. Porque não existe! No aeroporto, a gente quer levar um presente, uma lembrança, e não acha nada da música. Veja como Pernambuco e Bahia falam tão bem de seus estados. No Ceará isso não existe. Nosso Estado tem essa carência. O Ceará tem essa coisa mais romântica, penso que, por isso, ela não está tão inserida, nem motiva aos artistas crescerem dentro desses espaços.Você atribui esse fato a quê?O artista tem que se colocar dentro do que acontece. Tem artistas aqui de muita qualidade, mas que, às vezes, não tem preocupação de dar uma sonoridade adequada para o rádio, por exemplo. O Davi Duarte começa a fazer isso, mas acho que precisa mais, despertar o interesse da mídia, das rádios. Temos músicos, instrumentistas, interpretes, compositores bons. Mas confesso que vejo uma certa dificuldade em descobrir qual o grande artista de hoje, que você possa jogar e ele ir. A maioria ou está amadurecendo ou ainda está surgindo.Não é tão comum você conceder entrevistas, badalar na cidade. Onde você está morando?
Moro aqui em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Mas, nos últimos cinco anos, tenho ficado mais pelo Ceará, até por conta dos shows pelo Norte e Nordeste. Aqui, moro ali na Nunes Valente, próximo da TV, mas frequento pouquíssimos lugares, aqui sou vou a um barzinho da minha infância, na Lauro Maia, ou estou na casa da Praia das Fontes. Mas ando pouco mesmo, até porque essa cidade está insuportável, transito ruim, turistas demais, uso pouco o Ceará. Ah, também tenho um estúdio (Ararena Estúdio), com Humberto Pinho e Amaro Pena (Peninha) e passo grande parte do meu tempo lá dentro.E Orós? E o Rio de Janeiro?
Raramente tenho ido a Orós, onde tenho a Fundação, a rádio. E no Rio, quando estou fazendo show para o lado de lá, me acomodo na cidade. Quando estou no Rio, aí sim, acontece muito mais coisas. É sair de casa e as coisas começarem a acontecer. No Rio você encontra todo mundo. Mas não tenho agenda de imprensa. Meu empresário é minha secretária, não tenho esquema de divulgação de gravadora, nem essa dinâmica de plantar notícias... Não faço parte disso não. Você sai e as coisas já vão acontecendo. É assim que gosto de levar minha vida.E esse recente movimento da Massafeira? O que você tem a dizer a respeito?
Digo que é uma coisa emblemática para mim. Acho que se ficarem comparando o Massafeira com o que nós fizemos, não dá. As pessoas confundem, acham que fomos lançados pela Massafeira. E, particularmente, acho que não foi uma coisa que aconteceu a nível de ficar na história do Ceará. Dali não surgiram pessoas que terminassem fazendo uma carreira.
Você pode identificar aquilo como, naquele momento, um movimento de artistas, um certo ouriço, uma vontade de fazer as coisas acontecerem. Mas, para que isso signifique, aquilo tem que ter surgido de pessoas, artistas, que você possa dizer: esse saiu da Massafeira, esse fez uma carreira! E isso não correspondeu. Existe um mito em cima da Massafeira, que é mais a história do Ednardo, daquele momento específico. A própria historia do Ednardo se confunde com aquele momento que ele imaginou.E o movimento Soro, daquela mesma época?
Pois é, naquele mesmo tempo estávamos fazendo o Soro, que era uma coisa mais coletiva. Eu trouxe os artistas de fora, trouxe a gravadora que possibilitou fazer o disco. Mas não vejo como uma coisa que aconteceu de verdade. Acho que foi emblemático o que aconteceu aqui. Todos se envolveram, não somente músico, mas artistas plásticos, uma série de pessoas e segmentos. Mas, repito, ela não deu um resultado que se possa dizer que Fagner, Belchior, Ednardo aconteceram no Brasil. Saiu daqui, ninguém sabe o que é Massafeira. Eu sempre falo isso e dá impressão de que estou falando mal, mas não é. Na verdade, acho que, para dizer que uma coisa aconteceu no Brasil, é preciso que os outros saibam também.Você participou recentemente da gravação do disco "Cândidos", parceria entre Simone Guimarães e Isaac Cândido. Como foi a experiência?Muita gente me chama para gravar e o critério é o seguinte: eu gostei da música, eu gravo. Teve outro menino de Brasília que mandou um disco... Se eu gostar da música, pode ser de quem for, eu gravo. Se não for boa, não gravo com ninguém. Gravei uma canção com a Banda Calypso, chamada "Sem Direção". E o fiz porque gostei da música, tanto que ela está estourada em primeiro lugar no Brasil inteiro.
A música se identifica tanto com meu repertório, que as pessoas pensam que é música minha. Isaac é primo segundo meu, sua mãe é minha prima legítima, Maria Queiroz, e a mais querida de todas (risos). Mas sucesso vai depender do pique dele, da maneira como ele tem buscado a forma de gravação, o amadurecimento do artista, a interpretação, sua identidade. Sinceramente? Acho muito importante a coisa do vocal. O artista deve fazer um trabalho que identifique sua qualidade de autor, com a de cantor. Essa é uma exigência do mercado. E os artistas têm seu momento de fazer essa identidade junto ao público.MAIS INFORMAÇÕES
Show do cantor Fagner
Às 19 horas, na Praça José de Alencar, Centro. Contato: (85) 3101.2583NATERCIA ROCHAREPÓRTER - DN
Ah, são muitas e fundamentais. A primeira música que fiz, apresentei aqui no IV Festival de Música Popular Cearense, em dezembro de 1968, acho que ninguém aqui nessa sala tinha nascido (brinca). Ganhei esse festival e ali foi o começo de minha história. Como música aqui do Ceará, eu não podia ficar fora dessa programação centenária.Tem outras lembranças desse tempo?
Muitas. Uma delas é que, na reinauguração, fiz um show aqui com Nonato Luiz... Depois foi ficando sem opção, porque o lugar é pequeno, começou a ter muito público. Será uma emoção grande voltar a cantar em Fortaleza para um grande público. A última vez que fiz aqui, foi no Dragão do Mar, gravamos um grande disco ao vivo. Reencontrar o público de Fortaleza é sempre muito bom. Quem sabe pode até sair um DVD desse momento especial. É também a despedida deste começo de século.O que os fãs verão mais tarde?Olha, show em praça pública não dá para apresentar coisas novas. Mas já estou preparando outro disco, programado para 2011. E vem muita coisa boa por aí. Nesse trabalho estou misturando Zeca Baleiro, Chico Cézar, Paulinho Pedra Azul, Fausto Nilo, Ferreira Goulard. Aliás, tenho uma nova parceria com Fausto, que chama "Baladas Fingidas". Ele disse que é a melhor música que já fizemos. Pode ser exagero, mas, se ele está dizendo, não deve ser tão ruim assim.Algum projeto especificamente para o Ceará?Mais ou menos. Tenho alertado que o Ceará precisa de um CD de músicas que falem, diretamente, do Ceará. Porque não existe! No aeroporto, a gente quer levar um presente, uma lembrança, e não acha nada da música. Veja como Pernambuco e Bahia falam tão bem de seus estados. No Ceará isso não existe. Nosso Estado tem essa carência. O Ceará tem essa coisa mais romântica, penso que, por isso, ela não está tão inserida, nem motiva aos artistas crescerem dentro desses espaços.Você atribui esse fato a quê?O artista tem que se colocar dentro do que acontece. Tem artistas aqui de muita qualidade, mas que, às vezes, não tem preocupação de dar uma sonoridade adequada para o rádio, por exemplo. O Davi Duarte começa a fazer isso, mas acho que precisa mais, despertar o interesse da mídia, das rádios. Temos músicos, instrumentistas, interpretes, compositores bons. Mas confesso que vejo uma certa dificuldade em descobrir qual o grande artista de hoje, que você possa jogar e ele ir. A maioria ou está amadurecendo ou ainda está surgindo.Não é tão comum você conceder entrevistas, badalar na cidade. Onde você está morando?
Moro aqui em Fortaleza e no Rio de Janeiro. Mas, nos últimos cinco anos, tenho ficado mais pelo Ceará, até por conta dos shows pelo Norte e Nordeste. Aqui, moro ali na Nunes Valente, próximo da TV, mas frequento pouquíssimos lugares, aqui sou vou a um barzinho da minha infância, na Lauro Maia, ou estou na casa da Praia das Fontes. Mas ando pouco mesmo, até porque essa cidade está insuportável, transito ruim, turistas demais, uso pouco o Ceará. Ah, também tenho um estúdio (Ararena Estúdio), com Humberto Pinho e Amaro Pena (Peninha) e passo grande parte do meu tempo lá dentro.E Orós? E o Rio de Janeiro?
Raramente tenho ido a Orós, onde tenho a Fundação, a rádio. E no Rio, quando estou fazendo show para o lado de lá, me acomodo na cidade. Quando estou no Rio, aí sim, acontece muito mais coisas. É sair de casa e as coisas começarem a acontecer. No Rio você encontra todo mundo. Mas não tenho agenda de imprensa. Meu empresário é minha secretária, não tenho esquema de divulgação de gravadora, nem essa dinâmica de plantar notícias... Não faço parte disso não. Você sai e as coisas já vão acontecendo. É assim que gosto de levar minha vida.E esse recente movimento da Massafeira? O que você tem a dizer a respeito?
Digo que é uma coisa emblemática para mim. Acho que se ficarem comparando o Massafeira com o que nós fizemos, não dá. As pessoas confundem, acham que fomos lançados pela Massafeira. E, particularmente, acho que não foi uma coisa que aconteceu a nível de ficar na história do Ceará. Dali não surgiram pessoas que terminassem fazendo uma carreira.
Você pode identificar aquilo como, naquele momento, um movimento de artistas, um certo ouriço, uma vontade de fazer as coisas acontecerem. Mas, para que isso signifique, aquilo tem que ter surgido de pessoas, artistas, que você possa dizer: esse saiu da Massafeira, esse fez uma carreira! E isso não correspondeu. Existe um mito em cima da Massafeira, que é mais a história do Ednardo, daquele momento específico. A própria historia do Ednardo se confunde com aquele momento que ele imaginou.E o movimento Soro, daquela mesma época?
Pois é, naquele mesmo tempo estávamos fazendo o Soro, que era uma coisa mais coletiva. Eu trouxe os artistas de fora, trouxe a gravadora que possibilitou fazer o disco. Mas não vejo como uma coisa que aconteceu de verdade. Acho que foi emblemático o que aconteceu aqui. Todos se envolveram, não somente músico, mas artistas plásticos, uma série de pessoas e segmentos. Mas, repito, ela não deu um resultado que se possa dizer que Fagner, Belchior, Ednardo aconteceram no Brasil. Saiu daqui, ninguém sabe o que é Massafeira. Eu sempre falo isso e dá impressão de que estou falando mal, mas não é. Na verdade, acho que, para dizer que uma coisa aconteceu no Brasil, é preciso que os outros saibam também.Você participou recentemente da gravação do disco "Cândidos", parceria entre Simone Guimarães e Isaac Cândido. Como foi a experiência?Muita gente me chama para gravar e o critério é o seguinte: eu gostei da música, eu gravo. Teve outro menino de Brasília que mandou um disco... Se eu gostar da música, pode ser de quem for, eu gravo. Se não for boa, não gravo com ninguém. Gravei uma canção com a Banda Calypso, chamada "Sem Direção". E o fiz porque gostei da música, tanto que ela está estourada em primeiro lugar no Brasil inteiro.
A música se identifica tanto com meu repertório, que as pessoas pensam que é música minha. Isaac é primo segundo meu, sua mãe é minha prima legítima, Maria Queiroz, e a mais querida de todas (risos). Mas sucesso vai depender do pique dele, da maneira como ele tem buscado a forma de gravação, o amadurecimento do artista, a interpretação, sua identidade. Sinceramente? Acho muito importante a coisa do vocal. O artista deve fazer um trabalho que identifique sua qualidade de autor, com a de cantor. Essa é uma exigência do mercado. E os artistas têm seu momento de fazer essa identidade junto ao público.MAIS INFORMAÇÕES
Show do cantor Fagner
Às 19 horas, na Praça José de Alencar, Centro. Contato: (85) 3101.2583NATERCIA ROCHAREPÓRTER - DN
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