domingo, 19 de dezembro de 2010

CLASSE " D ": Natal da autoestima elevada

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Alexandre Costa Cunha realizou vários
sonhos neste ano e planeja um Natal
com tudo que tem direito, mesa farta
e presentes. Em 2011, a meta é
comprar uma moto
JOSÉ LEOMAR


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Geane, marido e filhos juntos à árvore de Natal
 que será comemorado com ceia especial e presentes
MIGUEL PORTELA




















O economista William Stanley Jevons, nascido em 1835, na cidade inglesa de Liverpool, certa vez afirmou que "feliz é aquela pessoa que, mesmo com poucos recursos, tem a realização no seu trabalho diário e a garantia de um futuro melhor". Motiva"Dinheiro não compra felicidade, mas ajuda a melhorar a autoestima da pessoa"Judith Paiva OliveiraPsicólogaPRESENTESSaúde e família unida
Apesar da pouca idade, Soraya Maria, de nove anos, deixou de lado seu sonho de ganhar um vídeo game e escreveu ao Papai Noel pedindo para que o pai retornasse de São Paulo, onde há oito anos foi tentar uma vida melhor. A cartinha foi enviada no ano passado e em 2010 o pedido da menina foi atendido. Com a família reunida, ela não se cansa de sorri e abraçar os pais. "Agora, o Natal será muito bom", afirma.
Com trabalho garantido, o auxiliar de pedreiro José Francisco da Silva também comemora. "Só pensava em voltar e estar com minha família. A vida melhorou e eu estou aqui", emociona-se ao lembrar as dificuldades do passado. "E ainda vou poder presentear a Soraya com o vídeo game que ela quer tanto".
A história da família Silva é muito parecida com a de outros Silvas. Com os filhos e marido reunidos, Geane André da Silva, de 33 anos, é só alegrias. "Só tenho o que agradecer", diz.
A família, ainda dependente do Bolsa Família, faz planos para o Natal e festeja as conquistas de 2010. "Nossa vida está muito diferente para melhor", conta Geane. A casa, ainda em construção, no Conjunto São Bernardo, em Messejana, é apenas um exemplo dessas melhorias. "Esse ano, os meninos vão ter roupa s novas e vamos comemorar o Natal com uma ceia especial e brinquedos para cada um. Isso para mim é um presente de Deus porque significa muito para quem não tinha nada".
Os planos para 2011 são muitos. Um deles, é entrar para o Programa Próximo Passo, que é uma ação complementar ao Bolsa Família, e fazer o curso de pedreira. "Já me matriculei e vou conseguir melhorar ainda mais de vida". Em Fortaleza, o programa é executado pela Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) e já beneficiou esse ano 2.314 pessoas, sendo 900 na construção civil e 1.414 em turismo. "Quero mais e irei para frente", pontua.
Papai Noel mais gordo também para a família de Joana Maria de Araújo. Mãe de quatro filhos e dois netos, ela vai festejar a data de forma que sempre sonhou. "Com todos reunidos para um jantar farto e troca de presentes", conta.
Moradora da Serrinha, Joana chora ao lembrar as orações para conseguir emprego para os filhos. "Hoje, sou feliz não pelo dinheiro, mas pela bênção de ter todos juntos com saúde".
Fique por dentroSignificados
O Natal surgiu como o aniversário do nascimento de Jesus Cristo, Filho de Deus, sendo atualmente uma das festas católicas mais importantes. De acordo com o historiador Pedro Henrique Arruda, inicialmente, a Igreja Católica não comemorava a data. Foi em meados do século IV d.C. que se começou a festejar o nascimento do Menino Jesus, tendo o Papa Júlio I fixado a data no dia 25 de dezembro, já que se desconhece a verdadeira data do seu nascimento. Uma das explicações para a escolha do dia 25 de dezembro como sendo o dia de Natal prende-se como fato de esta data coincidir com a Saturnália dos romanos e com as festas germânicas e célticas do Solstício de Inverno. Explica Pedro, que sendo as duas festividades pagãs, a Igreja viu uma oportunidade de cristianizar a data, colocando em segundo plano a sua conotação pagã. O Natal é, assim, dedicado pelos cristãos a Cristo, que é o verdadeiro Sol de Justiça e, transformou-se numa das festividades centrais da Igreja, equiparada desde cedo à Páscoa. Sob influência franciscana, espalhou-se, a partir de 1233, o costume de se construírem presépios, que reconstituem a cena do nascimento de Jesus. Já a árvore de Natal surgiu no século XVI, símbolo de Cristo, Luz do Mundo.
UNIVERSALMito do Papai Noel simboliza a bondade
O mito do bom velhinho foi inspirado em São Nicolau, um bispo católico que viveu no século 4 na cidade de Mira, atual Turquia. "Ele ficou conhecido em todo o Oriente por sua bondade e pela atenção com as crianças", explica o teólogo Luiz Carlos Mascarenhas.
Diz a lenda que Nicolau presenteava as crianças no dia de seu aniversário, em 6 de dezembro. Nos séculos seguintes, conta, o mito se espalhou pela Europa e a data da entrega de presentes acabou se confundindo com o nascimento de Cristo. Quando, diz, a história chegou à Alemanha, no século 19, o velhinho ganhou roupas de inverno, renas, um trenó de neve e uma nova casa: o Polo Norte.
Nessa época, Noel ainda era representado como um homem alto e magro com roupas que variavam de cor - dependendo do relato, elas eram azuis, amarelas, verdes ou vermelhas.
A silhueta rechonchuda, o rosto barbudo e os trajes vermelhos que conhecemos hoje apareceram pela primeira vez na revista americana Harper´s Weekly, em 1881. "A figura, desenhada pelo cartunista Thomas Nast, sofreu uma nova transformação em 1931", relata o historiador Ney Pedro Santos.
O nome Santa Claus, como Noel é conhecido em inglês, é uma adaptação de Sinter Klaas, forma como São Nicolau era chamado pelos holandeses, que levaram suas tradições natalinas para colônias na América no século 17 (entre elas a região da cidade de Nova York).
Já por aqui, informa o professor, a origem da expressão "Papai Noel" tem raízes no idioma francês, no qual Noel significa "Natal". "Ou seja, no Brasil, o bom velhinho ganhou um carinhoso nome que significa literalmente Papai Natal", frisa.
Segundo ele, a lenda de que Noel vivia no Polo Norte, onde comandava sua oficina de brinquedos, também serviu para os finlandeses estimularem o turismo local e impulsionassem o comércio e indústria.

Na esteira desse comentário, famílias como dos operários da construção civil, Alexandre Costa Cunha, José Nilton Baltazar e Antônio Gecílio Sousa; da costureira Lenir de Andrade Silva e da faxineira Marilena Assis admitem vivenciar um dos melhores momentos de suas vidas. Com trabalho garantido, maior poder aquisitivo e família reunida, eles asseguram que irão passar um Natal mais "gordo" e o Réveillon cheio de planos a serem realizados em 2011.
Diferente de outros anos, diz o economista José Henrique Vieira Santos, este será o Natal do "eu posso" para brasileiros e cearenses, principalmente para os das classes C e D. É o caso da empregada doméstica Josenilda Gomes Barros, de 28 anos. Ela, o marido Francisco, e os três filhos, pertencem a uma típica família da classe D. Com ganho mensal que chega a R$ 1.5 mil, eles vão poder brindar as festas de fim de ano não só com mesa farta e presentes para as crianças, mas com a autoestima elevada. "Não é só uma questão de grana, de comprar, mas de saber que com seu suor, com esforço e ter um emprego decente a gente está podendo respirar aliviada e com um sorriso na cara", afirma Josenilda.

Conquistas

"Dinheiro não compra felicidade, mas definitivamente, ajuda a aumentar a autoestima da pessoa seja ela rica ou pobre", avalia a psicóloga Judith Paiva. O pedreiro Alexandre Costa Cunha, de 33 anos, é um bom exemplo disso. A melhoria da sua condição financeira que permitiu inicialmente a compra da casa própria, na bairro Vicente Pinzón, e do celular mais moderno, também permitiu a ele maior autonomia e tranquilidade na família. Junto com a esposa, Ana Maria, que também trabalha, e da filha de sete anos, sua próxima meta é comprar uma moto. "Para facilitar a vinda ao trabalho e ao lazer".

Melhorias

Sonhos concretizados e a conquistar também motivam Antônio Gecílio Sousa. Aos 46 anos de idade e há três meses com carteira assinada como servente, ele sorri solto ao falar dos planos. "Quero melhorar a cada dia e realizar muitas coisas". A primeira, já em curso, é terminar o Ensino Médio, reiniciado em 2010 depois de 30 anos. A meta é ingressar n a Faculdade de Engenharia.
Até há pouco tempo, Maria de Fátima Dias, quase entrou em depressão. Desempregada e com duas filhas para criar e dependendo do Programa Bolsa Família (PBF), ela só conseguiu superar as adversidades, fazer um curso de Inclusão Produtiva para Mulheres do PBF na área de Confecção e nos últimos seis meses já rejeitou dois convites para mudar de empresa. "Antes, eu não era quase nada, agora começo a mostrar meu valor e encher o peito de orgulho, de amor próprio", declara.
O sociólogo Tomaz Coutinho comenta que pessoas como Maria de Fátima, antes classificadas como pobres ou muito pobres, dão exemplos de superação. "Eles melhoraram de vida e como Fátima começam a usufruir o conforto disso".
A psicóloga Silvana Martani considera o Natal uma festa emocionalmente importante. "Durante todo o ano temos comemorações com significados históricos, mas nada se compara à carga emocional que a data tem. Seu significado afetivo-emocional ultrapassou o aspecto religioso da festa. E isso, salienta, não acontece só com as crianças, com adultos também. Eles estão marcados pelos muitos significados e lembranças que vão da mais feliz para alguns, a mais terrível para outros. Não é de se estranhar que os que viveram um típico feliz Natal na infância, tendam a manter a tradição. No entanto, cita, quem não podia, por motivos financeiros curtir a tradição, ficava com a estima no pé.
"Quando pequena, sonhava em ganhar uma boneca chamada Beijoca. Quando apertava as mãos dela uma contra a outra, ela mandava beijinhos. Mas nunca ganhei", lamenta faxineira Maria Auxiliadora Silva. Agora, se esforça para dar a filha o que não teve na infância. "Um quarto só para ela, com TV e tudo bem direitinho, além de muito amor e estudo para garantir um futuro melhor", conta a orgulhosa mãe. Ela também está preparando um Natal com tudo que se tem direito. "Já armamos a árvore e no dia 24 vamos oferecer uma ceia para o resto da família. Isso é que está me dando um jeito novo de encarar da minha vida".

Estabilidade

Vários fatores contribuíram para que a classe D tivesse um crescimento rápido em um curto espaço de tempo e a passasse a ser considerada, junto com a Classe C, uma das sensações deste ano. E isso não é à toa.
De acordo com economistas, o aumento real da renda, crédito farto, estabilidade macroeconômica e programas sociais como o Bolsa Família formaram a base para o desenvolvimento de um mercado de consumo em massa. De acordo com o Instituto de Pesquisa Data Popular, a máquina de lavar roupa é a estrela do consumo da classe D neste ano, principalmente no Natal. Depois dela, o formo de micro-ondas é o eletrodoméstico mais desejado.

Por: LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER - DN

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